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Boxe

Após agressão, sobrinho de Popó revela doping e pedido de esmola

6 fev 2013 - 11h34
(atualizado às 12h45)
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Vitor Freitas ganhou luta em Las Vegas, mas foi flagrado com testosterona sintética
Vitor Freitas ganhou luta em Las Vegas, mas foi flagrado com testosterona sintética
Foto: Divulgação

No dia 20 de junho de 2012 surgiu uma nova esperança no boxe brasileiro. Ele tinha DNA de campeão: Vitor Jones Freitas, sobrinho-neto de Popó, o último brasileiro a ser campeão mundial de boxe profissional, conseguiu vencer uma luta por nocaute em Las Vegas. Porém, cerca de um mês depois disso, tudo mudou para pior: Vitor foi pego em um exame antidoping por uso de testosterona sintética e ficou suspenso do esporte. Foi uma péssima notícia para quem tenta vencer outras lutas pessoais - ele foi agredido pelo avô na adolescência e atualmente vê a mãe pedir esmola em Salvador.

Vitor nunca teve vida fácil. Com apenas 11 anos de idade, ele tinha que catar objetos em um ferro-velho. Depois de ver o vô sofrer com o alcolismo e ser agredido, resolveu se mudar de casa. Foi morar com o tio Luís Cláudio Freitas, ex-pugilista que treinou Popó desde o começo da carreira. "A gente olhava o Vitor, dava conselhos, dava caderno, botava para estudar...", contou Luís, em entrevista exclusiva ao Terra.

Quando cresceu, Vitor passou a ser treinado pelo tio e ajudou Popó na preparação para vencer Michael Oliveira, outra esperança do boxe brasileiro. Foi quando o empresário Arthur Pelullo, influenciado por Popó, "casou" o primeiro combate profissional de Vitor. Com 19 anos, o jovem foi para Las Vegas, enfrentou o americano Rocco Espinoza e venceu por nocaute de forma impressionante, no primeiro round. Popó e Luís estavam no ringue e comemoraram a vitória. Mas então surgiu a notícia que todos detestaram ouvir.

"Identificaram uma substância proibida no teste antidoping e por isso eu dei uma desanimada", revelou Vitor, também em entrevista exclusiva ao Terra. "Acharam uma substância de um negócio que a gente chama aqui de 'abelinha', mas que eu não sabia que dava doping", afirmou o jovem, que alega ter usado o produto escondido dos tios, minutos antes da luta. Ele afirmou ainda que costumava tomar a "abelinha" quando fez parte do boxe amador, já que outros atletas também faziam uso disso.

A punição pelo doping, porém, causou uma confusão. Popó e Luís foram informados que Vitor ficaria suspenso por dois anos caso não pagasse uma multa de 250 mil dólares (cerca de RS 497.000,00) para reduzir esse tempo para nove meses. Porém, em contato por e-mail com a Comissão Atlética de Nevada, responsável pelo exame antidoping, a reportagem do Terra descobriu que na verdade a punição era de apenas 600 dólares (R$ 1.194,00) e nove meses de suspensão, independentemente do pagamento.

Nem mesmo a Confederação Brasileira de Boxe sabia disso. Popó e Luís, que tinham se irritado com Vitor, ficaram igualmente surpresos com a boa nova notícia. O ex-campeão prometeu resolver esse problema: "se eu soubesse que era esse valor, já tinha pago. Agora que eu fiquei sabendo disso, vou pedir para um amigo meu, que é intérprete nos Estados Unidos, ver essa questão, para ele (Vitor) continuar a carreira", contou Popó, que acredita no futuro de seu sobrinho-neto: "ele precisa ganhar experiência, mas você lutar nos EUA e ganhar no primeiro round já mostra o potencial dele. Ele foi meu sparring e foi muito importante, porque ele é três vezes mais rápido que o Michael. Tinha 19 anos, estava na flor da idade e é rápido pra caramba", elogiou Popó.

Com novo emprego, Vitor vê mãe pedir esmola

Ser flagrado no exame antidoping desanimou Vitor. Por imaginar que só voltaria a lutar em 2014, ele não tem treinado e atualmente trabalha em uma loja de roupas, perto do Pelourinho. "Todos estavam muito felizes comigo. Mas aí, quando chegou essa notícia do doping, a gente pensou que minha carreira tinha acabado", contou ele, que atualmente diz estar mais animado para voltar a lutar. "Na vida sempre tem uma barreira para passar, mas com fé em Deus vai dar tudo certo".

Apesar de ter vontade de voltar a treinar com Luís Cláudio, Vitor saiu da casa do tio recentemente. Isso aconteceu por problemas pessoais que ele se recusou a comentar. O atleta foi morar com os vós e a mãe, que vivem situação difícil em Salvador. "Elas pedem esmola no shopping para sobreviver. E a única pessoa que pode tirar elas dessa vida sou eu. Minha meta é essa", estipulou o jovem atleta.

Considerado um pai por Vitor, o tio Luís se incomodou com a mudança do seu sobrinho. "Me chateei com esse rapaz, mas agora está tudo certo. Vez ou outra ele até vem aqui", disse, também sem revelar qual foi o motivo da mudança. Apesar do aborrecimento, Luís quer voltar a treinar o sobrinho: "o pessoal da (academia) Champion já chamou ele para treinar lá, mas ele diz que não vai, que só quer treinar comigo. Ele aprendeu tudo comigo aqui. Então estou só esperando o Carnaval passar para conversar com ele e treinar". Vitor confirmou esse desejo, mas disse que não pretende voltar a morar com o tio.

Com a "mão pesada" e alta velocidade como principais características, o atleta ainda sonha ir longe na carreira. Ele só quer atuar no boxe profissional e descarta qualquer mudança para o esporte olímpico ou para o MMA: "meu sonho mesmo, como sempre deixei claro, é ser campeão mundial. O boxe não se apagou por causa do MMA. E meu sonho nunca foi ganhar Olimpíada ou Pan. Sempre quis ser campeão mundial, igual meu tio. Não digo que em dois ou cinco anos vou ser campeão. Mas vai acontecer", afirmou ele, que se inspirou em Popó para mudar o nome também. Vitor Jones que ser conhecido como Vitor Freitas, sobrenome que já ganhou fama nos Estados Unidos, por causa de Acelino de Freitas, o Popó.

Vitor Freitas sabe, porém, que não adianta apenas um sobrenome de peso para fazer sua carreira. Ele precisa de um empresário quando decidir retomar a carreira, até por causa da situação complicada do boxe brasileiro no momento. "Hoje em dia é mais UFC, porque o Brasil tem campeões, tem Anderson Silva, Minotauro, esses caras. Mas quando o Brasil tiver um campeão mundial, o boxe vai voltar a crescer. Eu vou voltar a lutar, meu tio vai me ajudar e espero ser esse campeão", apostou ele, criando de volta a esperança que vivia no começo da carreira.

Fonte: Terra
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