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Projeto a longo prazo e olho na base: como nasceu a 'ótima geração belga'

Frustração na Eurocopa de 2000 e não classificação para as Copas de 2006 e 2010 obrigou a Bélgica a mudar seu planejamento na base. Resultado é a melhor geração do país

9 jul 2018 - 07h19
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Um período de 16 anos. Foi esse o intervalo das oitavas de final da Copa do Mundo de 2002, quando o Brasil eliminou a Bélgica, até as quartas do Mundial de 2018, com a queda canarinha para os belgas. De lá para cá, muitas mudanças marcaram a equipe europeia, que viu rótulos de sorte, acaso ou pouca tradição ficarem pelo caminho para dar lugar a dois grandes pilares: um projeto a longo prazo e a reestruturação das categorias de base. Assim nasceu a "ótima geração belga", uma intrusa entre as grandes.

A ideia do projeto teve início exatamente em 2000, logo após a disputa da Eurocopa daquele ano, sediada na Bélgica. A campanha decepcionante, que terminou com eliminação na primeira fase, foi o primeiro motivo que levou à reformulação. O ápice veio anos depois, quando a seleção belga não se classificou para as Copas do Mundo de 2006 e 2010, além de não disputar nenhuma edição de Eurocopa neste período.

Era preciso mudar a forma de se fazer futebol no país e dois nomes foram chamados para criação desse projeto: Michel Sablon, o atual diretor técnico da seleção, e Bob Browayes, gerente de desenvolvimento da federação belga. A missão era apagar o sentimento de "vergonha" pela Eurocopa decepcionante e a meta era repetir a campanha de 1986, quando a Bélgica ficou em quarto lugar na Copa do Mundo - meta que, no mínimo, será atingida em 2018.

Sablon e Browayes viajaram pelo mundo e observaram três modelos distintos de academias de futebol: o alemão, o francês e o holandês. Foi realizada uma reunião entre a federação, os clubes e as universidades de futebol do país para definir quais mudanças seriam feitos. Mais de 1.000 jogos das categorias de base foram filmados e analisados até o 4-3-3 ser definido como esquema tático obrigatório para todas as categorias da seleção.

Outra mudança foi a contribuição financeira da Federação Belga e dos clubes. Cada equipe ficou responsável por investir uma determinada porcentagem nas categorias de base de acordo com a sua renda bruta anual. Quem ganhava mais dinheiro, deveria investir mais. A modalidade futsal também foi incluída no desenvolvimento das crianças. Eden Hazard, por exemplo, veio das quadras.

Anos depois, a empresa 'Double Pass' foi contratada para auditar os clubes do país. A ideia era controlar se todas mudanças estavam sendo cumpridas, além de ficar responsável pelo controle dos equipamentos, pelo investimento na capacitação de novos treinadores e no desenvolvimento de academias no país. O aprimoramento também se desenhou fora de campo, fazendo com que o material humano fosse aperfeiçoado pela tecnologia. A parceria com a empresa, que também atua no futebol alemão, foi rejeitada pela CBF em 2016.

A parceria entre a 'Double Pass' e a Federação Belga fizeram com que essas academias desenvolvessem nomes como Alex Witsel, Dries Mertens e Mousa Dembelé, todos convocados para os Jogos Olímpicos de 2008 e que seguiram sendo trabalhados até chegarem na Copa do Mundo da Rússia. A questão da conscientização sobre imigrantes também foi trabalhada, o que permitiu que nomes como Vicent Kompany e Romelu Lukaku fossem captados.

De lá para cá, a Bélgica saltou da posição 71 para a liderança do ranking da Fifa. Também atingiu as quartas de final da Eurocopa e está na semifinal da Copa do Mundo. O modelo foi usado como exemplo por outros países que também focam no desenvolvimento das divisões de base. O resultado é uma geração com Kevin De Bruyne, Eden Hazard, Romelu Lukaku e Thibaut Courtois.

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