Oswaldo fala de polêmica com Ganso e vê treinadores "reféns"
Ex-técnico do Fluminense também disse não ter arrependimento do gesto obsceno em direção à torcida tricolor
Demitido do Fluminense depois de se envolver em uma polêmica com o meia Ganso, Oswaldo de Oliveira foi o convidado do programa Seleção Sportv, desta quinta-feira. Na primeira entrevista após a saída do clube das Laranjeiras, o treinador abordou temas como o desentendimento com o meia Paulo Henrique Ganso, a relação entre atletas e técnicos e o gesto obsceno para os torcedores nas arquibancadas do Maracanã.
Com 44 anos de carreira, Oswaldo disse ter visto muitas mudanças no futebol, a principal delas na relação entre clubes e atletas. Para ele, as boas condições financeiras dos atletas contrastam com a condição econômica delicada da maioria das instituições, o que torna os treinadores reféns dos jogadores e empresários.
- Pela situação financeira que a maioria dos jogadores têm hoje, os clubes são reféns dos jogadores e dos empresários e, em alguns casos, dos torcedores também. Isso tira muito a autonomia do treinador. Um treinador que se impõe e assume um ponto de vista sofre as consequências.
Polêmicas com Ganso
Oswaldo não fugiu às perguntas sobre o desentendimento com o meia Paulo Henrique Ganso e deu detalhes sobre a situação. Ele negou que o atleta tenha feito um pedido de desculpas, mas admitiu que houve um abraço e confraternização entre os dois.
- Tomei uma atitude no final do jogo, deixei dar uma acalmada, chamei o Paulo Henrique para um abraço. Nós dois estávamos ali para resolver a situação, não para criar problema, o Fluminense está acima do nosso orgulho, da nossa vaidade, precisavamos pensar primeiro no clube. Não houve um pedido de desculpas dele. Ele aceitou o abraço, nós confraternizamos, mas não houve um pedido de desculpas - disse.
O treinador também esclareceu as circunstâncias em que se deram a substituição de Ganso por Daniel, na partida contra o Santos e criticou o fato do jogador ter sido escolhido como capitão na partida seguinte, contra o Grêmio.
- Gostaria de esclarecer que o jogador não se ofendeu porque eu tirei ele do jogo. Eu tirei ele do jogo porque ele me ofendeu, é diferente. Gritei pra ele "volta, volta, volta" quando perdemos a posse de bola e neste momento ele me ofendeu. Eu pensei "não dá para ele continuar no jogo depois do que ele disse para mim". Ele como capitão na partida seguinte foi uma punição ainda maior pra mim. Não tenho como dizer que compreendo uma situação dessas - criticou o treinador.
Sem arrependimentos
Apesar do desfecho diferente do esperado na passagem pelo Flu, Oswaldo também garantiu não ter nenhum arrependimento da experiência.
- De jeito nenhum. Claro que as coisas não aconteceram da forma que eu gostaria, mas arrependimento, não. Treinador quando assume a equipe durante a temporada, é porque as coisas não estão indo bem. A não ser que treinador vá para Seleção, tenha convite da China, mas normalmente é quando o percurso está atribulado. Eu sabia que teria problemas e dificuldades.
O experiente treinador também disse não ter qualquer sentimento de culpa sobre o gesto obsceno em direção a torcedores do Fluminense na saída para o vestiário do Maracanã. O gesto foi apontado pelo presidente Mário Bittencourt como principal motivo da demissão.
- Um estádio inteiro ofender uma pessoa não pode ser uma coisa considerada normal. Isso acontece sistematicamente aqui. Mas é uma coisa que, infelizmente, somos obrigados a saber lidar. Um grupo de quatro, fazendo menção à sua família sistematicamente durante algum tempo, aquelas ofensas vinham na minha cara. Não foi uma coisa premeditada, mas eu tive uma reação contra aquela coisa pontual que estava acontecendo ali. Não me arrependo não. Eu fui convidado para trabalhar no Fluminense, não para ser achincalhado. O que eu fiz de errado no Fluminense? Volto a dizer: o Fluminense tinha 12 pontos em 45. Nós ganhamos sete pontos e saímos da zona do rebaixamento. Alguma coisa tem de bom ali. A responsabilidade não pode ser só do treinador - finalizou.