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LANCE!

De coração aberto: Doni e Fabrício Carvalho compartilham experiências e aconselham Adilson e Biro Biro

Diante de casos recentes, ex-jogadores que sofreram com problemas cardíacos durante a carreira abrem o jogo ao LANCE! e contam como lidaram com a condição

18 jul 2019 - 14h22
(atualizado às 15h43)
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Nascer, crescer, poder reproduzir, e morrer. O ciclo de vida de uma pessoa comum não vale para um jogador de futebol, principalmente no Brasil. Em um país em que a educação não garante o futuro, e nem mesmo está ao alcance de todos, a prática é muito mais do que uma carreira profissional, mas um ciclo particular. "Jogador de futebol morre duas vezes", diz a máxima: uma quando para de jogar, outra quando nos deixa de verdade. O temor pela segunda, porém, pode interferir dolorosamente na primeira.

É o caso do volante Adilson, do Atlético-MG. Na sexta-feira da semana passada, aos 32 anos, o jogador anunciou a aposentadoria precoce do futebol devido a um problema no coração. Situação parecida pela qual passou o ex-goleiro Doni, campeão da Copa América com a Seleção Brasileira, em 2007. Quando se apresentou ao Liverpool depois das férias, em 2012, um grave susto, descrito pelo próprio jogador, definiu os rumos de sua carreira:- Tive uma parada cardiorrespiratória enquanto realizava um exame em Liverpool. Depois disso, procurei médicos de minha confiança na Itália e realizei todos exames possíveis. O diagnóstico foi bom, mas o médico me aconselhou a deixar as atividades de alto rendimento. Ainda com dúvidas, procurei um especialista no Brasil, que me pediu seis meses para repetir exames. Diante do prazo, sentei com minha família e decidi não arriscar mais. Rescindi meu contrato com o Liverpool e assinei com o Botafogo-SP, clube que me lançou, para poder jogar uma última partida. Mas os meses sem treinar e o abalo mental me levaram ao ganho de peso, e isso tirou a esperança de retornar aos treinos e conseguir me despedir - contou ele, que planejava o adeus para o Paulistão de 2004, mas se retirou em agosto de 2013, aos 34 anos.

Susto também é uma forma de eufemizar o que passou Biro Biro, recém-contratado pelo Botafogo, na última terça-feira. O jogador perdeu a consciência em um treinamento do Alvinegro e precisou ser reanimado. No ano passado, o atleta foi diagnosticado com uma arritmia, mas que foi corrigida, segundo os médicos. Agora, o atacante age com cautela para voltar ao futebol, assim como precisou fazer Fabrício Carvalho.

O paulista de Adrandina, noroeste do estado, ficou marcado pelo afastamento preventivo do esporte no auge da carreira, em 2004, por também possuir uma arritmia cardíaca, assim como o companheiro de São Caetano, o zagueiro Serginho, que morreu em campo naquele ano. Fabrício esperou três anos pela liberação de um médico até poder retornar aos gramados:

- O temor era notório, pois foram vários casos na época, não só do Serginho. Me senti como um cobaia, pois foram repetidos exames sem uma solução, sem uma resposta com exatidão para a minha situação. Ficava sem entender, mas confiante no meu retorno.

"ESTÃO EXIGINDO CADA VEZ MAIS DOS ATLETAS, COMO SE FOSSEM ROBÔS GERADORES DE RESULTADOS"

Hoje com 41 anos, empresário e dedicado à música gospel, o ex-centroavante retornou ao futebol em 2007, pelo Goiás. Depois, acumulou passagens por Ponte Preta, Cabofriense, Bragantino, Goiás, Oeste, Ferroviária, Portuguesa, União Barbarense, entre outros clubes. Diante dos recentes casos de Adilson e Biro Biro, o ex-atleta, que conhece como poucos a rotina de um jogador profissional e conviveu com diversas opiniões médicas, é crítico ao esforço físico exigido pelo futebol de alto nível, atualmente.

- Nosso coração tem limite, assim como nossos músculos. Na minha concepção, estão cada vez mais exigindo dos atletas, como se os mesmos fossem robôs geradores de resultados. É algo que precisa ser melhor mapeado

e analisado para o próprio bem estar do atleta. Esporte é saúde, essa é uma tese que eu defendo, mas o exagero é prejudicial e o corpo sente.

Fabrício dedica-se à música desde que parou (Foto: Divulgação/ Instagram)

OS PRIMEIROS PASSOS DO "SEGUNDO TEMPO"

Depois de uma vida dedicada a um propósito único, parar antes do planejado e seguir caminhando não deve ser uma tarefa fácil. É o que precisou fazer Doni, tendo como ponto de partida Ribeirão Preto-SP, sua cidade natal.

- Quando parei, decidi não estar mais no futebol e me joguei no mercado. Com a dificuldade de não ter experiência, fui a diversas reuniões para possíveis investimentos e assim, fui aprendendo. Contratei escritório de advocacia para poder me deixar longe de negócios ruins e pessoas má intencionadas. Andava, literalmente, com o advogado na carteira, para não cair em furada e perder dinheiro - contou com bom humor o ex-camisa 32 que fez sucesso na Roma-ITA, e agora, é sócio de empresas de diversos segmentos e possui investimentos nos Estados Unidos.

Doni (à esq.) ao lado de Lucas Leiva e um sócio, em sua empresa nos EUA (Foto: Divulgação/ Instagram)

Em uma bela iniciativa do Atlético-MG, Adilson foi imediatamente contratado para a comissão técnica da equipe mineira e não se lançou ao mercado como Doni. Aos 39 anos, satisfeito com os rendimentos de seu negócios, porém, o ex-jogador deixa conselhos aos que, assim como ele, caem de paraquedas em seu "segundo ciclo de vida":

- Recomendo não só para o Adilson, mas para todos atletas que param, cercar-se de bons profissionais, e não só de bons amigos ou parentes. Muitos confiam em entes próximos, que não são especialistas. É importante cercar-se de bons profissionais e investir o dinheiro conquistado com muita certeza. Estudar, ler, porque a vida é longa e tem muita coisa boa para se aprender.

Fabrício Carvalho, diferente de Doni, apesar dos anos afastados, não teve que antecipar a aposentadoria. Agora, com a experiência de ter superado uma arritmia e ter construído uma extensa carreira, o ex-artilheiro celebra a oportunidade e pede cautela a Biro Biro, que aos 24 anos, busca escrever sua própria história de superação.

- Eu parei sem nenhum alarde, apenas entendi que havia encerrado meu ciclo dentro das quatro linhas. Nada de depressão ou sofrimento extremo. Só tenho a agradecer aos clubes que me deram a oportunidade e a Deus por ter me permitido jogar até 38 anos. Imagino o susto que o Biro biro deve ter tomado, meu único desejo que ele retorne com êxito ao futebol, tomando as devidas precauções.

Assim como Adilson e Biro Biro, Fabrício e Doni enfrentaram problemas cardíacos (Arte: Marina Cardoso/Lance!)
Assim como Adilson e Biro Biro, Fabrício e Doni enfrentaram problemas cardíacos (Arte: Marina Cardoso/Lance!)
Foto: Lance!
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