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Jogos de Paris

Pole dance pode se tornar um esporte olímpico?

Embora o STJ brasileiro tenha decidido que prática é uma dança, ela foi reconhecida como esporte pela primeira vez por uma entidade internacional; ligação de atividade a clubes noturnos pode ser um entrave em seus planos de chegar aos Jogos Olímpicos.

18 out 2017 - 14h25
(atualizado às 14h46)
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Embora o STJ (Superior Tribunal de Justiça) tenha decidido na semana passada que legalmente o pole dance é uma dança no Brasil - e não um esporte -, a atividade foi reconhecida pela primeira vez por uma entidade esportiva internacional.

A prática recebeu o status de "observador" da Gaisf (Global Association of International Sports Federation), associação que reúne todas as federações internacionais de esportes.

A peruana Elizabeth Munoz
A peruana Elizabeth Munoz
Foto: BBC News Brasil

Isso significa que a atividade está provisoriamente sendo reconhecida como um esporte internacionalmente - e agora há um grande interesse sobre se isso é o primeiro passo para um dia o pole dance se tornar um esporte olímpico.

Será que o Brasil poderia, em 2028, enviar um time de dançarinos à Olimpíada de Los Angeles na esperança de voltar com um ouro?

Ser ou não ser

A decisão do STJ tem peso legal, mas não afeta a pretensão da atividade em relação ao reconhecimento internacional como um esporte.

A posição da corte foi relativa a um caso em que o Conselho Regional de Educação Física do Rio Grande do Sul interditou um local que oferecia curso de pole dance sem ter profissionais formados em Educação Física.

O estabelecimento entrou na Justiça e o STJ decidiu que a aulas poderiam continuar, pois o pole dance é uma dança, não um esporte - portanto não exige regulação dos conselhos de educação física.

A partir dessa decisão o pole dance passa, pela jurisprudência brasileira, a fazer parte da mesma categoria de atividades como balé, ioga e artes marciais.

A dançarina brasileira Regina Mutai
A dançarina brasileira Regina Mutai
Foto: BBC News Brasil

Primeiro passo

O novo status internacional da atividade é em grande parte resultado da campanha da inglesa Katie Coates, de 41 anos, que fundou a IPSF (Federação Internacional de Pole Esportes).

O reconhecimento da Gaisf dá peso à solicitação da IPSF para fazer parte do COI (Comitê Olímpico Internacional).

Um esporte só pode ser considerado como candidato a participar da Olimpíada se atender a três critérios-chave: for parte da Agência Mundial Anti-Doping (Wada), ser um membro da Gaisf e ter 50 federações nacionais.

O pole dance tem cerca de 20 federações nacionais no momento. A entidade internacional do esporte já é parte da Wada e está trabalhando para se tornar membro da Gaisf.

Mas ainda falta um longo caminho para a prática se tornar um esporte olímpico.

O processo é rigoroso e tende a deixar muita gente desapontada. O squash, por exemplo, fez três tentativas seguidas, sem sucesso, de se tornar um esporte olímpico.

E também é preciso olhar para outras modalidades que receberam o mesmo status da Gaisf - entre elas a Federação Mundial de Queda de Braço, a Associação Mundial de Queimada e a Federação Internacional de Pebolim (também chamado de Totó).

A IPSF, por sua vez, diz que o pole dance é voltado para "o atletismo e para méritos técnicos", assim como "outros esportes olímpicos como ginástica olímpica, salto ornamental e patinação no gelo".

A prática ficou conhecida em clubes de strip-tease, mas isso não significada que a performance em si precise conter elementos eróticos. Sua federação internacional diz que suas competições têm categorias para pessoas de 10 a 65 anos.

A venezuelana Celiana Rivero
A venezuelana Celiana Rivero
Foto: BBC News Brasil

Caminho alternativo

Esportes olímpicos podem transcender suas origens.

Por exemplo, o pentatlo moderno - que combina esgrima, saltos de hipismo, natação, tiro e atletismo - foi inicialmente criado para representar as habilidades necessárias para a cavalaria atrás das linhas inimigas durante a guerra.

Em teoria, o pole dance poderia ser incluído nas Olimpíadas inicialmente como uma demonstração.

É necessário algo muito excepcional - como um escândalo de doping, corrupção generalizada ou queda brusca de popularidade - para um esporte fixo das Olimpíadas perder seu lugar, então surgem apenas "vagas temporárias".

Beisebol, karatê, skate, alpinismo e surfe ocupam atualmente esses lugares. Embora estejam escalados para os Jogos de 2020, serão participações excepcionais, que não necessariamente vão se repetir em próximas Olimpíadas.

Não é uma coincidência que o beisebol - muito popular no Japão - vá estar na Olimpíada de Tóquio. Quem organiza a Olimpíada costuma favorecer esportes populares em seus países para que os eventos tenham os ingressos esgotados.

Então um caminho alternativo é justamente pressionando comitês organizadores das cidades-sede.

Mas será que o pole dance está para os EUA como o karatê está para o Japão? Se essa comparação puder ser feita, então a dança poderia tentar esse caminho.

Há outros fatores também. A IPSF diz que o esporte é "um dos que mais crescem no planeta". É certo que o COI tem procurado por modalidades que atraiam jovens, como o snowboard na última Olimpíada de Inverno e o skate em Tóquio.

Os organizadores querem ser relevantes e, ao mesmo tempo, ter grandes audiências. Se o pole dance conseguir atrair jovens, como promete a entidade mundial da prática, pode melhorar suas chances. E patrocinadores querem esportes que atinjam o mercado de pessoas entre 18 e 34 anos.

E o custo dos locais para a prática dessa atividade provavelmente são baixos - o que é uma vantagem.

Dançarinos no dia mundial do pole dance
Dançarinos no dia mundial do pole dance
Foto: BBC News Brasil

A origem

Existe um grande debate sobre o quanto o pole dance deveria diferençar a parte atlética da atividade dos lugares onde ele tradicionalmente é praticado.

O assunto gerou polêmica no ano passado, quando centenas de praticantes compartilharam fotos em redes sociais com a hashtag #notastripper ("não sou stripper").

Isso gerou uma reação de dançarinas de strip-tease tanto porque elas acreditam que isso estigmatiza sua profissão quanto por que sentem que o pole dance é uma forma de arte que elas inventaram.

Além disso, a conexão com clubes noturnos seria complicada para as autoridades de países mais conservadores. Com certeza haveria pais preocupados se a exposição à atividade é apropriada para crianças.

Será que o público em geral concorda com a afirmação da entidade do pole dance que se trata de um esporte apropriado para todas as idades e públicos? Autoridades olímpicas podem acabar decidindo que é algo que gera mais controvérsia do que vale a pena.

As regras da Olimpíada dizem que um esporte deve aumentar o valor e o apelo dos Jogos Olímpicos e refletir suas tradições modernas.

O mundo muda rápido e a atitude das pessoas também. Mas pode ser que não seja rápido o suficiente para que o pole dance evite o desapontamento sofrido por esportes como o squash, o boliche e o wushu (artes marciais chinesas).

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