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Paralimpíada 2016

Presidente do CPB: "Não há Jogos Paralímpicos sem vacina"

O presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Mizael Conrado, reconhece que há um ano dos Jogos não há qualquer segurança da sua realização

27 ago 2020 - 09h00
(atualizado às 10h37)
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Na semana em que falta um ano para a abertura dos Jogos Paralímpicos de Tóquio, a realização do evento ainda é incerto, a preparação dos atletas brasileiros tampouco. O presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Mizael Conrado, conversou com o Terra sobre os desafios que a pandemia impôs no caminho para Tóquio. “Não acreditamos em realização dos Jogos se a vacina não for desenvolvida até o mês de dezembro”, prevê o presidente do CPB.  

Presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Mizael Conrado
Presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Mizael Conrado
Foto: Divulgação/CPB

Sem a possibilidade de treinos coletivos e com muitos clubes fechados, apenas 43 atletas, das modalidades do tênis de mesa, atletismo e natação, estão treinando presencialmente. O grupo utiliza o Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo (SP), e é formado apenas por medalhistas de ouro nos mundiais das respectivas modalidades. O restante tem à sua disposição um atendimento online com uma equipe multidisciplinar para tentar preservar a forma física e mental. 

O Brasil, que vem de sua melhor participação em número de medalhas totais, 72 na Rio 2016, ainda não tem um número fechado de integrantes para a delegação, muito menos uma estimativa de medalhas. "Com essa pandemia fica difícil fazer qualquer tipo de previsão", reconhece Mizael Conrado. 

Das polêmicas com as classificações funcionais, que afetam os multicampeões Daniel Dias e André Brasil, passando pelo financiamento do esporte paralímpico de alto rendimento, o presidente Mizael Conrado respondeu os questionamentos do Terra a um ano do início da grande festa do esporte paralímpico. 

A um ano da abertura dos Jogos Paralímpicos de Tóquio, como está a preparação da delegação brasileira?

A preparação foi interrompida por conta da pandemia. Nós tentamos, de todas as formas, manter uma condição mínima para que os atletas pudessem estar em movimento e conseguissem preservar alguma condição física. Para isso, nós criamos um atendimento virtual com uma equipe multidisciplinar, formada por fisioterapeutas, fisiologistas, psicólogos, preparadores físicos e os próprios treinadores. A equipe vem acompanhando diariamente esses atletas e elaborando relatórios semanais sobre as condições físicas, psicológicas e nutricionais deles. Nós conseguimos autorização da Prefeitura de São Paulo para iniciarmos a volta aos treinamentos em condição de isolamento social controlado. Os atletas treinam individualmente com uma logística que garanta o acesso deles ao Centro de Treinamento Paralímpico. Isso é o que foi possível fazer e esse regime de treinamento com isolamento social deve durar por bastante tempo. Estamos com uma condição bastante limitada para proporcionar uma preparação mais adequada para os nossos atletas.

O Centro de Treinamento Paralímpico em São Paulo reabriu no início de julho. Como está o funcionamento do centro hoje e quem está utilizando as instalações?

O Centro está com um fluxo muito restrito, temos mais de 90% de todos os colaboradores em home office. Ao todo, são 43 atletas que estão treinando no Centro de Treinando, do tênis de mesa, atletismo e natação. Basicamente os que foram medalhistas nos Campeonatos Mundiais das respectivas modalidades. Então, realmente, um grupo muito restrito, até porque, os treinos se dão em um regime de isolamento controlado, o que pressupõe treinos individuais. Hoje é o que conseguimos atender com segurança. 

O Comitê Paralímpico Brasileiro trabalha com a possibilidade dos Jogos não acontecerem?

Vivemos uma total falta de horizonte e acredito que todas as possibilidades devem ser consideradas. Embora não devemos fazer um planejamento pensando na hipótese de cancelamento. Mas já temos dito, em várias ocasiões, que não acreditamos na realização dos Jogos se a vacina não for desenvolvida até o mês de dezembro. 

O COB montou a Missão Europa, onde levou atletas para Portugal para mantê-los em rotina de treinamento. O CPB pensou em fazer algo parecido? Existe algum projeto em planejamento?

Não pensamos e não cogitamos essa hipótese. Hoje não temos um horizonte seguro, não sabemos quando as coisas voltarão à normalidade. Países como a Alemanha, a França e a Itália tiveram aumento de casos. Então, pela incerteza que o cenário apresenta, nós não pensamos em um projeto como esse. O COB realmente saiu na frente, conseguiu planejar e estruturar uma operação que está dando muito certo, ficamos muito felizes. Mas, na verdade, acreditamos que hoje não faz mais sentido para nós um projeto como esse. 

O Brasil até agora tem 105 vagas confirmadas em 14 modalidades. Em 2016, foram 285 em 22 modalidades. Existem classificatórias que ainda irão acontecer, este não é um número definitivo. Qual a expectativa para o tamanho da delegação brasileira em Tóquio?

Primeiro é importante destacar que na Rio 2016 o Brasil tinha vaga garantida em todas as modalidades, com um número bastante expressivo de vagas. Há essa diferença significativa para os Jogos de Tóquio. Nossa delegação total giraria em torno de 430 a 470 pessoas, sendo destes 220 a 270 atletas. Considerando esse novo momento, que nós não sabemos quais serão as condições, não há como nós imaginarmos se essa expectativa se mantém ou se mudará. O que dá para dizer é que esperamos levar próximo de 200 atletas para Tóquio. 

A melhor participação brasileira foi em Londres 2012, quando ficou em 7º colocado no quadro de medalhas, com 21 ouros. No total de medalhas foi há 4 anos, com 72 medalhas. É possível fazer uma estimativa dos resultados para daqui um ano?

Nossa expectativa era a melhor possível. Nós imaginávamos fazer a melhor participação agora nos Jogos de Tóquio. Por uma razão muito simples, os Mundiais que antecedem os Jogos são um retrato do que aconteceria em Tóquio. Nós tivemos um 2019 com excepcionais participações do Brasil em Mundiais. Para se ter uma ideia, somente no atletismo conquistamos 39 medalhas no Campeonato Mundial, 14 de ouro. A melhor participação brasileira na história. No Mundial anterior, o Brasil conquistou 21 medalhas, 8 de ouro. Então, realmente, isso indicava que o Brasil faria uma participação épica nos Jogos. Com essa pandemia fica difícil fazer qualquer tipo de previsão, pois não sabemos quando voltaremos à normalidade. Na Itália, já aconteceu um campeonato na semana passada, em que participaram paralímpicos. A rotina de treinos nos países europeus e asiáticos já está normal, já com condição de oferecer atividade plena para o alto rendimento. Aqui no Brasil não sabemos quando teremos. Considerando tudo isso, é muito difícil fazer qualquer tipo de prognóstico. 

Como o Comitê se posiciona com relação às polêmicas das classificações funcionais. Nos últimos anos, o IPC alterou algumas regras e afetou dois dos maiores atletas brasileiros: Daniel Dias e André Brasil. Como vocês avaliam essas mudanças nos critérios de classificação?

Eu entendo que as alterações foram lamentáveis. Primeiro, não se muda um critério de classificação no meio do ciclo. Quando se fala em planejamento, quando se fala em governança e em bons processos, não dá para imaginar uma mudança de regra no meio do jogo. O critério foi implementado em 2018, quando os atletas já estavam praticamente com um ano e meio de investimento dos seus países. Segundo ponto, lamentavelmente, não se respeitou o que se tem de principal no esporte que são os atletas. O esporte precisa de ídolo e esses ídolos vão sendo construídos ao longo dos anos e quando você muda a lógica da classificação, você muda o equilíbrio do esporte. Como explicar para a sociedade que o André Brasil, dono de 14 medalhas paralímpicas, hoje não é sequer elegível para competir? Como explicar que o Daniel Dias, que conquistou 3 Prêmios Laureus indicado pelo IPC (Comitê Paralímpico Internacional), provavelmente não deve ganhar nenhuma medalha de ouro nos Jogos de Tóquio? O IPC destrói os ídolos que ele próprio criou. Achamos bastante lamentável isso, entendemos que faltou debate, que faltou teste. No futebol, por exemplo, quando se muda uma regra, são feitos muitos testes e muitas avaliações para medir o impacto. Aqui na natação paralímpica se publicou a regra e imediatamente passou-se a reclassificar os atletas sem avaliar qual seria o impacto, sem um estudo conclusivo, pelo menos não existia no momento da mudança. Quando se tem uma mudança que vai mexer com o equilíbrio do esporte, que vai influenciar na vida daqueles que mais temos que zelar no esporte que são os atletas, minimamente se exige um pouco mais de responsabilidade na condução do processo. 

Sobre verbas, no início da pandemia o Comitê manifestou preocupação com a queda de arrecadação das loterias, o que impacta diretamente o orçamento de fomento esporte paralímpico. Como está a situação hoje?

Felizmente as coisas caminharam, as lotéricas abriram, as pessoas se habituaram a apostar eletronicamente. Abril foi um mês muito difícil, a arrecadação caiu 50%, mas felizmente a cada mês a verba vem sendo restabelecida e as coisas estão voltando, pelo menos no campo da arrecadação, ao normal. 

Houve queda também da verba do esporte por parte do governo federal? Sem o Ministério do Esporte, o atual ciclo paralímpico ficou prejudicado?

Nós tivemos alguns prejuízos. Por exemplo, o Time Rio deixou de existir. Mas do ponto de vista da relação com o Governo Federal, os recursos foram mantidos. Por exemplo, o patrocínio da Caixa permanece da mesma maneira e com a possibilidade de se ampliar. A própria Lei Agnelo Piva segue vigendo. Então, com o Governo Federal nós não tivemos absolutamente nenhuma dificuldade.    

O Congresso Nacional discute uma emenda a um projeto de lei que pode beneficiar a formação de atletas paralímpicos no País, liberando cerca de R$ 90 milhões que estão represados junto ao Comitê Brasileiro de Clubes (CBC). Se aprovado, esse valor seria destinado ao Comitê Brasileiro de Clubes Paralímpicos. Como o Comitê vê essa possível liberação e se vai atuar no gerenciamento dessa verba?

Eu não acho que é o ideal uma organização nascer já com uma rubrica garantida de recursos públicos. Por outro lado, eu acho ainda pior que exista um montante desses de recursos sem utilização com, aproximadamente, 1.000 clubes paralímpicos necessitando dos valores. Então, o CPB apoia a criação do Comitê Brasileiro de Clubes Paralímpicos porque entende que é uma possibilidade que a gente tem de resolver um problema grande que é de recursos parados lá na conta do CBC e clubes paralímpicos necessitando desses recursos. A maneira de resolver este problema foi essa e a gente torce para que esses recursos cheguem onde precisam chegar, que é nos clubes, nas associações de pessoas com deficiência que desenvolvem o esporte paralímpico e que tanto necessitam dessas verbas. O Comitê Paralímpico Brasileiro está sempre à disposição para contribuir com o que for necessário para o desenvolvimento do esporte paralímpico brasileiro.  

Como é a relação e a interlocução do Comitê com os clubes paralímpicos?

Eu considero muito boa. São muitos clubes, nós temos no sistema aproximadamente 1.000 clubes. Nós temos um grupo de discussão de treinadores, nós temos feito várias discussões nesse momento de pandemia, até para rever nosso planejamento, identificar possibilidade de melhorias. Eu considero que a nossa interlocução é positiva. É claro que temos que melhorar. Como sempre precisamos evoluir e a gente sempre está prestando atenção nisso, mas entendo que a relação é boa. 

Fonte: Redação Terra
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