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Saiba todos segredos da sensação La U, o "Barcelona das Américas"

1 jan 2012 - 09h42
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Diego Garcia

Foram 36 jogos de invencibilidade, com uma série de incríveis 27 vitórias e nove empates, além de títulos nacionais e internacionais, baile de 4 a 0 em cima de um gigante brasileiro e um futebol que encanta o mundo. Não, não estamos falando do poderoso Barcelona, campeão mundial de clubes em dezembro. Trata-se, sim, da Universidad de Chile, "La U", vencedora dos dois Campeonatos Chilenos de 2011 e da Copa Sul-Americana no início do mês. Na campanha continental, bateu Nacional-URU, LDU, Vasco e Flamengo - o último com uma contundente goleada em pleno Engenhão.

Mais do que resultados em si, a Universidad de Chile desperta olhares de todo o continente pelo futebol atrativo e voltado ao ataque proporcionado pelo clube de Santiago. Comandada pelo técnico argentino Jorge Sampaoli, La U manda uma equipe mentalmente ofensiva às suas partidas, armada normalmente em um esquema 3-4-3 clássico que pode se transformar em 4-1-3-2, de acordo com as situações em que as partidas se encontram.

E, dessa forma, a equipe chilena despachou um a um seus adversários ao longo do ano. Conquistou o Campeonato Chileno Apertura (primeiro semestre), Clausura (segundo semestre) e iniciou uma invencibilidade quase sem fim - que se encerrou na semana passada - e abocanhou a Copa Sul-Americana, no que foi a primeira taça continental de um clube do Chile desde 1991, quando o Colo Colo conquistou a Copa Libertadores. Por isso, o Terra desvenda todos os mistérios desse time, que já é chamado de "Barcelona das Américas". Confira:

O início da saga:

Fora da Libertadores no início do ano, a equipe chilena focou suas atenções às disputas caseiras, voltou seus olhares às pratas da casa e vive uma ascendente desde então. De olho apenas no Campeonato Chileno (Apertura), se classificou na segunda colocação às finais e encarou a arquirrival Universidad Católica na decisão, mas foi derrotada de maneira indiscutível na partida de ida: 2 a 0. Foi a partir daí que aconteceria uma reviravolta que culminaria em uma série invicta histórica e, posteriormente, no primeiro título internacional do clube.

Com o respaldo do técnico Jorge Sampaoli, que decretava a cada partida que o time manteria a máxima postura ofensiva possível, La U venceu o duelo de volta por 4 a 1, ergueu a taça, embalou e iniciou uma sequência de 36 partidas sem derrotas. Foram 11 vitórias seguidas no torneio nacional (Clausura), incluídas acachapantes goleadas contra O-Higgins (7 a 1), Ñublense (4 a 1), Universidad San Felipe (3 a 0), La Serena (3 a 0), além de uma empolgante vitória no clássico com o Cobreloa (3 a 1).

Enquanto isso, a equipe embalava no torneio continental, passava pela fase classificatória ao despachar os uruguaios Fênix e Nacional, sem ter sofrido um único gol sequer em quatro jogos. Era a deixa para embalar de vez na competição. "Não imaginávamos isso. Tínhamos a ilusão de chegar a uma grande equipe, mas não imaginávamos que nosso time teria tantas alegrias em tão pouco tempo", confessou após o título o treinador Jorge Sampaoli, que ainda não pensava que o principal estaria por vir, e começaria justamente diante de alguns dos maiores gigantes da América.

Flamengo, Vasco e título inédito

Em seu primeiro teste diante de um gigante do continente, a Universidad de Chile simplesmente atropelou o Flamengo, de Ronaldinho, no Engenhão. Aplicou um sonoro 4 a 0, com show de Vargas e Lorenzetti, que marcaram três gols e infernizaram a defesa rubro-negra. Depois, administrou a vantagem atuando em casa, venceu por 1 a 0 e selou a classificação às quartas de final. Diante do Arsenal de Sarandí-ARG, a equipe novamente surpreendeu fora de casa por 2 a 1 e arrancando elogios dos argentinos. Voltou a triunfar no Chile - 3 a 0 - e avançou à semifinal.

Contra o consistente Vasco, que brigava pelo título do Campeonato Brasileiro, a Universidad de Chile deu uma aula de obediência tática, segurou empate por 1 a 1 no Rio de Janeiro e venceu na volta por 2 a 0, em novo baile de Vargas. "Eles praticam um futebol que não se vê no Brasil, jogam sempre de forma compacta. São compactos quando não têm a bola e, quando a tem e atacam, sobem suas linhas defensivas e depois voltam todos para marcar", definiu o meia vascaíno Juninho.

Na decisão, diante da tradicional LDU, a Universidad de Chile surpreendeu ao vencer na altitude de Quito, por 1 a 0, quebrando tabu de 13 partidas sem derrotas em casa dos equatorianos. Depois, foi só triunfar em Santiago - 3 a 0 - e fazer a festa do primeiro título internacional da história do clube. "A campanha é fantástica e, do meu ponto de vista, não será mais repetida", expressou Cláudio Ramos, repórter do jornal chileno Todo Fútbol e da rádio Sport Chile, em contato com o Terra.

Jorge Sampaoli, "clone" de Bielsa

Admirador confesso de Marcelo Bielsa, o argentino Jorge Sampaoli tem seu próprio estilo técnico, que é muito similar ao de Bielsa - principalmente pela característica ofensiva de retomar a posse de bola e se atirar rapidamente ao ataque. Geralmente, usa um programa computacional especial, em que grava os treinos e partidas e os revisa pela noite. É sempre o primeiro e último a deixar o CT da La U, não concede entrevistas exclusivas e participa de um fundo solidário junto com atletas que visa extrair dinheiro para causas sociais.

"Não há vinculação direta com Bielsa, e sim com sua filosofia. Estava próximo de Rosário, do Newell´s Old Boys da década de 90, e assim começamos a consumir toda essa filosofia e essa figura. Normalmente, quando alguém quer ser treinador mira resgatar o melhor de cada opção. Eu fui somente com essa filosofia de Bielsa e tentei gerar algo meu, mas próximo a ela", disse, em entrevista coletiva.

"Poucos acreditavam que Jorge Sampaoli era o técnico ideal para dar marcha ao projeto da Universidad de Chile, mas a realidade tapou várias bocas. Ele veio do Emelec, onde fez boa campanha. No Chile, treinou o O´Higgins, onde patenteou seu estilo, mas sem fazer grandes campanhas. Os jogadores entenderam rápido sua filosofia de jogo e isso ajudou muito a enorme quantidade de partidas invictas da La U, e também à obtenção da Copa Sul-Americana", explicou o repórter Claudio Ramos.

Conjunto unido e Eduardo Vargas

O conjunto foi, e é, a principal arma da Universidad do Chile em 2011. A exemplo do poderoso Barcelona, que tem no time atual seus maiores pilares baseados em jogadores oriundos das categorias de base, como Messi, Xavi e Iniesta, o clube chileno tenta buscar em suas pratas da casa suas principais armas. Entre os titulares, por exemplo, são quatro, independente de passagem por outras equipes: Johnny Herrera, José Manuel Rojas, Marcos González e Marcelo Díaz.

Por outro lado, La U ainda investiu quantias irrisórias em apostas certeiras. A principal delas, sem dúvidas, foi no promissor Eduardo Vargas, do Cobreloa, que surgiu junto a Francisco Castro pelo valor de R$ 2,9 milhões. Vargas chegou, correspondeu mais do que o esperado, se firmou como artilheiro, craque e protagonista da campanha histórica e já foi vendido ao futebol europeu por cerca de R$ 28 milhões - quase 10 vezes mais do que a quantia paga pela Universidad de Chile no atacante e em seu companheiro.

"Essa equipe demonstrou que é tão coesa que qualquer um que entrar pode fazê-lo em um nível similar. Já contrataram Junior Fernandes, um jogador chileno de ascendência brasileira que promete ser a nova grande figura da equipe", definiu Claudio Ramos. "Ele vem de Palestino, é amigo do Alexi Sánchez, é de Tocopilla e será um ótimo substituto para o Vargas. A ideia da direção é manter a base para a Libertadores, mas Vargas é muito importante e sem dúvidas sua saída será sentida", continuou.

Modelo de Desenvolvimento Azul

Mas engana-se quem pensa que a equipe deve permanecer lamentando a perda de seu maior astro, que perdeu por pequena margem de votos de Neymar na luta pelo título de melhor jogador da América, prêmio concedido pelo conceituado jornal uruguaio El País ao principal atleta da temporada. O jovem chileno, 20 anos, deu ao time de Santiago o retorno financeiro necessário para auxiliar no custeamento de um ousado plano de formação juvenil, que entrou em vigor no início de 2011.

O chamado "Modelo de Desenvolvimento Azul" foi colocado em prática pela diretoria do clube com a promessa de gastar US$ 2 milhões (R$ 3,7 milhões) por ano. A ambição é criar um projeto independente ao time principal, com uma espécie de "staff" de luxo exclusivo para as categorias menores. Para isso, o clube aposta no Complexo Desportivo Azul, que foi construído em nível europeu com campos e instalações voltadas principalmente aos jovens talentos.

"Esse é um projeto independente da primeira equipe, com infraestrutura, corpo pessoal físico-técnico e fornecedores independentes. Pretendemos dar a todas as crianças uma série de 360 graus, com apoio psicológico e social, bem como assistência técnica. O investimento é muito alto e projetado para 400 crianças, entre homens e mulheres", explicou Cristian Aubert, gerente geral do clube. "Observamos jogadores no Uruguai, Paraguai, Brasil e Bolívia permanentemente", acrescentou.

Seleção e Manchester United

Uma das características mais importantes desse plano é que existem prazos para concretizar os resultados desejados. O esperado é que em 2015, quando o Chile se tornar anfitrião do Mundial Sub-17, a Universidad de Chile seja a base da Seleção local. "Se trata de um projeto revolucionário, para começar a formar desde criança o modelo de jogo imposto por esta Universidad de Chile. A ideia é aplicar nas séries menores um estilo de jogo claramente definido e que retornou ao clube com a obtenção da Copa Sul-Americana", explicou o jornalista Claudio Ramos.

A Universidad de Chile recorreu a 15 clubes grandes do planeta em busca de incorporar os melhores métodos de trabalho e buscar condições de alto nível. Dessa forma, a expectativa é que dois ou três, de um grupo de 20 a 25 jogadores da equipe sub-18, consiga chegar à equipe principal. A ideia também é inclui viagens ao exterior para as equipes infantis, como acontece com o atacante promissor Angelo Henríquez, 17 anos. O atleta, que atua pelas seleções de base do Chile, vai periodicamente ao Brasil e à Inglaterra para treinar com os menores do Manchester United.

O time de Santiago, por outro lado, também desenha alianças com gigantes do mundo futebolístico, como o próprio Manchester, além de Paris Saint-Germain, Barcelona e América do México. Também foram contratados profissionais renomados, como Juan Gutierrez, considerado o melhor técnico de futebol jovem do Chile, Gonzalo Fellay, que trabalhou com Marcelo Bielsa e agora dirige a equipe sub-17 do clube, e Francisco Meneghini, ex-espião de Bielsa que buscará novos talentos. Assim, é bastante provável que La U continue no topo do cenário sul-americano pelos próximos anos.

Universidad de Chile adota modelo de investimento em jovens e colhe frutos com títulos
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Foto: Getty Images
Fonte: Terra
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