Se não é sofrido, não é Atlético: veja refúgio dos campeões
Centenas de torcedores do Atlético de Madrid foram para uma região metropolitana de Barcelona, ficaram apertados em um restaurante, viram um jogo emocionante, mas foram campeões do jeito que gostam
"Tem que sofrer e depois ganhar. Assim é melhor", decretou um torcedor do Atlético de Madrid. "O Atlético de Madrid é o significado de sofrer, nós gostamos disso", confessou outro. Ambos sofrem até mais do que a maioria da torcida do Atlético de Madrid - vivem na Catalunha, enfrentam a maioria absoluta e vencedora dos fanáticos pelo Barcelona e dificilmente acompanham o time nos estádios. Porém, neste sábado, tudo terminou de forma invertida: foi a vez dos catalães terminarem o jogo sofrendo, após empate por 1 a 1 no Camp Nou.
O favoritismo do Barcelona na decisão do Campeonato Espanhol era tão grande que os torcedores do Atlético de Madrid precisaram "se esconder". A reunião principal aconteceu em Viladecans, cidade que fica na região metropolitana de Barcelona. "Nós eramos de uma 'peña' (espécie de torcida organizada fora da cidade-sede do time) de Barcelona, mas os organizadores de lá ficaram doentes. Então mudamos para Viladecans para continuar a assistir os jogos e sofrer com nossa família", afirmou Arce, líder do grupo neste sábado, entre risos.
E quando ele fala em "família", não é apenas modo de dizer: os torcedores realmente trazem seus parentes, inclusive crianças pequenas, para acompanhar a festa. Todos participam com incrível lealdade, exceto uma: "sou Barcelona", gritou a filha de um torcedor, antes do jogo, várias vezes. Começou cedo o sofrimento do pai.
O clube de torcedores tem cerca de 65 associados, que contribuem mensalmente e ganham vantagens em viagens, ingressos e participam de sorteios. Na festa deste sábado o número de pessoas foi duplicado, talvez triplicado. Vieram torcedores de todas regiões da Catalunha.
Mas não era a primeira vez que isso acontecia: o Atlético de Madrid teve duas chances de ser campeão espanhol antecipadamente. A torcida se reuniu no mesmo local, com grande expectativa. "Mas o Atlético empatou e nos complicou, pois precisamos de outra e de outra festa", lembrou Arce, antes de saber que um empate enfim estancaria seu sofrimento.
Quando aconteceu o primeiro gol do jogo, marcado por Aléxis Sanchez, a torcida se dividiu entre silêncio e revolta. Um dos que tinha forças para falar algo opinou: "essa era para o goleiro defender". Mas Courtois é um goleiro excepcional que já se tornou ídolo do Atlético. Ninguém concordou, é claro. E logo todos voltaram a torcer e sofrer.
Mas quem realmente sofria no restaurante eram os fuincionários do restaurante. Apenas seis trabalhavam enquanto centenas comiam um pouco e bebiam muito. "Já estou acostumado com eles. Mas hoje estão bebendo mais", contou um garçom, correndo enquanto a reportagem do Terra tentava entrevistá-lo, em vão.
Com o gol de Godín marcado no começo do segundo tempo, a profecia do torcedor começou a se concretizar. "Tem que sofrer e depois ganhar". Realmente eles já sabiam tudo que ia acontecer. Apenas o gol anulado de Messi calou a festa por dez segundos. "Atleti, Atleti, Atletico de Madrid", voltou a gritar a torcida, ainda mais forte.
Com o passar do tempo, não tinha mais sofrimento que segurasse os "colchoneros": a comemoração apenas mudou de lugar, pois saiu do restrito restaurante e invadiu as ruas da Catalunha, como nunca acontecera antes. Para cada carro que festejava havia outros cinco catalães tristes, que só seguiam adiante. Estes não sabem sofrer. Já o torcedor do Atlético de Madrid, quando se curar da ressaca deste final de semana, vai estar pronto e afim de sofrer de novo no sábado, dia 24 de maio, contra o Real Madrid, agora na final da Liga dos Campeões.