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Entenda por que Uruguai x Brasil não vai passar na TV aberta

Partida das Eliminatórias da Copa do Mundo do Catara vai passar apenas na internet e em canais de pay-per-view: ambos pagos

17 nov 2020 - 11h28
(atualizado às 12h57)
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O torcedor brasileiro viverá uma experiência rara durante a partida entre Uruguai e Brasil nesta terça-feira, às 20h, horário de Brasília. Enquanto os comandados de Tite buscarão mais uma vitória nas Eliminatórias para a Copa de 2022, em jogo que será realizado em Montevidéu, a TV Globo, que tradicionalmente transmite os jogos da seleção brasileira, estará passando novela e o SporTV, seu canal de esporte, estará exibindo partida da Série B do Campeonato Brasileiro. A crise financeira em razão do novo coronavírus e uma negociação agressiva por parte da empresa que negocia os direitos de transmissão das Eliminatórias são alguns dos pontos que causam essa situação.

Seleção Brasileira enfrenta o Uruguai pelas Eliminatórias da Copa
Seleção Brasileira enfrenta o Uruguai pelas Eliminatórias da Copa
Foto: Lucas Figueiredo/CBF

SBT e Band chegaram a demonstrar interesse em contar com o jogo, mas o valor cobrado pela Mediapro, empresa responsável pela negociação dos direitos das Eliminatórias, assustou todo mundo. A empresa quer cerca de R$ 5 milhões para liberar o sinal de Uruguai x Brasil, valor que as emissoras acham inviável recuperar em patrocínio e anúncio. Nem mesmo a Rede Globo conseguiria.

Sem TV aberta, restará ao torcedor baixar o aplicativo do EI+ por R$ 19,90 na app store (valor para clientes Vivo. Além dos jogos do Brasil, o aplicativo tem exclusividade para os jogos da Champions League. Para clientes Vivo Fibra, o app já está incluso no plano), pagar R$ 19,90 para assistir ao vivo ao confronto pelo canal de streaming EI Plus, na internet, ou pagar pelo pay-per-view do canal BandSports. Nesta terceira opção, apenas quem tem TV fechada conseguiria ter acesso ao jogo e ambos canais cobrarão pela partida.

Para Bruno Maia, especialista em inovação e novos negócios na indústria do esporte e sócio da 14, agência de conteúdo estratégico, a discussão sobre os direitos de transmissão e essa negociação para reduzir custos e valores é algo natural em razão do momento delicado financeiramente vivido pelas empresas. "Estamos em transição do modelo econômico das transmissões de jogos, vivendo grande expectativa da entrada de novas plataformas de transmissão nessa disputa. Ao mesmo tempo, vivemos momento de crise econômica e de limites de investimento desses novos concorrentes", comentou ao Estadão.

"A combinação dessas duas características não nos sugere que esse fosse o melhor momento para se mudar a regulamentação, pois corremos o risco de cair nesses vazios que vemos agora: quem quer vender os direitos para novas plataformas ainda não encontra capacidade de investimento e quem tem capacidade de investimento não quer aceitar mudanças no que havia. Quem sofre é o consumidor, ficando sem um produto com as características que ele estava acostumado a ter", completou Maia.

Algo parecido aconteceu na segunda rodada das Eliminatórias, quando o Brasil enfrentou fora de casa o Peru. Neste caso, o jogo passou no EI Plus e faltando cerca de uma hora para o início do confronto, a TV Brasil, canal estatal, anunciou a transmissão do jogo. A CBF comprou os direitos e repassou ao canal. O Estadão apurou que isso não deverá acontecer desta vez. A entidade que administra o futebol brasileiro entende que o investimento não rendeu o esperado. Também foi gasto algo em torno de R$ 5 milhões e o retorno financeiro foi ruim.

Por que a Globo não vai passar o jogo do Brasil?

A Rede Globo firmou um acordo para transmitir todos os jogos do Brasil e da Argentina como mandante. A exibição pode ser pela TV Globo ou pelo SportTV. Para os jogos em que a seleção brasileira é visitante, a negociação precisa ser feita jogo a jogo.

Na visão da emissora carioca, o valor de R$ 5 milhões não é recuperável em anúncios, patrocínio e audiência em partidas da seleção. Jogos de futebol têm diminuído a audiência nos últimos anos, em especial da seleção brasileira. E a ausência de Neymar faz com que o desinteresse público aumente ainda mais.

Negociação agressiva

A Mediapro quer firmar com alguma empresa brasileira um contrato para todos os jogos das Eliminatórias. Por isso, a empresa espanhola usa uma tática comum no mundo dos negócios e que a Rede Globo adota, por exemplo, na venda dos pacotes de pay-per-view do Campeonato Brasileiro.

A ideia é cobrar um valor elevado por um jogo para que a empresa interessada em transmitir a partida, faça as contas e perceba que é mais vantajoso fechar o pacote completo, com todos os jogos. A Rede Globo faz o mesmo com o canal Premiere. Um jogo avulso custa R$ 104,90. Se você assinar o pacote mensal, que dá direito a todos os jogos dos times que tem contrato com a Globo e ainda as partidas de um campeonato estadual, o valor é de apenas R$ 79,90 por mês.

O problema é que, na visão da Globo, não vale a pena investir para passar jogos de seleções que não sejam Brasil e Argentina. Um confronto entre Peru x Venezuela ou Paraguai x Chile não é atrativo de audiência e nem de anunciantes. Mesmo seleções mais fortes como Colômbia e Uruguai não despertam tanto interesse do torcedor brasileiro.

Crise em razão do coronavírus

Tudo isso tem acontecido muito em razão da crise vivida pelas empresas de comunicação, em razão do coronavírus. A Rede Globo não conseguiu escapar disso. A emissora fez cortes e decidiu fazer apostas mais certeiras e refez contratos. É o que aconteceu com a Fórmula 1.

A emissora decidiu rescindir contrato por entender que os valores eram muito elevados. Atualmente, a emissora voltou a conversar com os responsáveis pela transmissão da F-1 e um acordo pode acontecer em breve, com valores inferiores. A crise, inclusive, ajuda também a explicar o motivo das emissoras não conseguirem recuperar o investimento feito na partida em anúncios.

Empresas que tradicionalmente investem no esporte diminuíram drasticamente o investimento no setor e isso causa um efeito de bola de neve, em que um cortando gastos acaba obrigando o outro a fazer o mesmo e, com isso, transmitir jogs de futebol se torna algo ainda mais caro.

Estadão
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