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'Elefante branco' em Sochi é desafio para autoridades russas após a Copa

Estádio Fisht recebeu apenas sete partidas desde a sua inauguração, em 2013

11 jun 2018 - 07h04
(atualizado às 07h04)
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A Copa do Mundo da Rússia sequer começou, mas o governo de Putin e o Comitê Organizador vivem em Sochi um dilema idêntico ao presenciado em algumas das sedes do Mundial de 2014, no Brasil: salvar a praça esportiva do estigma de "elefante branco". Como depois do torneio não há um cronograma de utilização do Estádio Fisht para partidas de futebol, a aposta será em importar um time sediado a mais de 2 mil km de distância, em São Petersburgo, norte do país, para ocupar o local.

Palco das cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos de Inverno de 2014, o Estádio Fisht receberá seis jogos da Copa do Mundo. No complexo também está o autódromo de F-1. Ver futebol no local, porém, é bem raro. Desde sua inauguração, em 2013, foram apenas sete partidas disputadas, a última delas na Copa das Confederações, em 2017, na semifinal entre Alemanha e México. Isso já tem quase um ano. A cidade não possui um time profissional em atividade no momento.

Em apenas uma ocasião um time local jogou na arena. O agora licenciado Sochi FC, ex-integrante da terceira divisão do Campeonato Russo, levou 6 mil torcedores ao Fisht, cuja capacidade é para 48 mil pessoas. Foi em 2017, pouco antes de a equipe anunciar a interrupção das atividades como profissional.

Esse cenário encara uma tentativa de modificação a partir da próxima temporada. Durante a semana, o Dínamo São Petersburgo anunciou a decisão de deixar para trás a cidade de origem e se transferir para Sochi. O clube já teve diversos nomes, foi dissolvido algumas vezes e atualmente disputa a segunda divisão do futebol russo.

O Dínamo São Petersburgo é de propriedade do empresário Boris Romanovich Rotenberg, dono, com o irmão Arkady, do grupo SGM, de construção de gasodutos e linhas de fornecimento de energia elétrica no País. As empresas executaram diversas obras viárias e de infraestrutura em Sochi para preparar a cidade para realização dos Jogos de Inverno de 2014.

Na Rússia, Rotenberg também é visto como aliado próximo do presidente Vladimir Putin. Os dois se conheceram ainda adolescentes em campeonatos de judô. O empresário, inclusive, preside a confederação russa da modalidade, tem um filho jogador de futebol profissional no Lokomotiv Moscou e, antes de ser dono do Dínamo São Petersburgo, também foi um dos acionistas do Dínamo Moscou.

Mas a chegada de um novo clube na cidade não dá garantias de que o estádio terá bom uso. Afinal, o clube disputa a segunda divisão e carregará a partir da próxima temporada a pecha de forasteiro em uma cidade que coleciona histórico de abrigar times com vida curta e pouco êxito esportivo.

Houve diversos casos desses, como o do FC Zhemchuzhina-Sochi, que foi definitivamente dissolvido em 2013, e do FC Sochi-04, que deixou de disputar ligas profissionais em 2008. O último foi o FC Sochi, fundado em 2013, e que se licenciou ao término do campeonato da terceira divisão russa em 2017. Esse mandava os seus jogos no estádio Slava Metreveli, que será o palco dos treinamentos da seleção brasileira na fase final de preparação para a Copa do Mundo, a partir desta segunda-feira. O complexo tem estrutura mais modesta. A capacidade é para 10 mil torcedores apenas. No período em que esteve em atividade, o clube só atuou uma vez no Fisht, em evento-teste para a Copa das Confederações de 2017.

Casa Russa

Além disso, há planos da União de Futebol da Rússia para transformar a arena da Copa na casa da seleção. A equipe disputou amistoso no estádio em março de 2017, contra a Bélgica, que terminou empatado por 3 a 3. O estádio de Sochi custou cerca de US$ 779 milhões (aproximadamente R$ 2,9 bilhões na cotação atual).

A reportagem do Estado procurou o Comitê Organizador Local para pedir um posicionamento sobre o futuro do estádio. A entidade, por sua vez, recomendou que a prefeitura da cidade fosse procurada. Porém, o órgão não retornou o contato.

O esforço em dar mais utilização ao estádio de Sochi tem como um dos empecilhos sua localização. A nova arena fica na cidade de Adler, vizinha à Sochi. A distância é de cerca de 30 km, porém o deslocamento de transporte público pode chegar até a uma hora de duração.

Apesar da situação futura estar cheia de incertezas, a cidade localizada no sul da Rússia terá bastante protagonismo na Copa. Serão seis jogos em Sochi, incluindo uma partida das oitavas e uma das quartas de final. Na primeira fase, o Fisht receberá uma das partidas mais aguardadas da competição, entre Portugal e Espanha, na sexta-feira, além do confronto entre os atuais campeões do mundo, Alemanha, com a Suécia, dia 23.

O prefeito de Sochi, Anatoly Pakhomov, divulgou dias atrás um plano para ajudar a população a comparecer aos jogos. Um decreto determinou a adoção de ponto facultativo nos dias em que a cidade abrigará jogos da Copa. "Essa decisão foi tomada principalmente para aliviar o ônus sobre a infraestrutura de transporte da cidade", explicou o prefeito de Sochi. O transporte será gratuito. Dos seis jogos marcados para a cidade na competição, três deles estão marcados para dias úteis.

Paralelo

A situação do estádio em Sochi tem paralelo com algumas arenas do Brasil construídas para a Copa, como a Arena Pantanal, em Cuiabá, a Arena da Amazônia, em Manaus, o estádio Nacional, em Brasília, e a Arena das Dunas, em Natal.

Os locais receberam poucas partidas depois da Copa de 2014 e obrigam os respectivos gestores a alugar as arenas para shows ou jogos esporádicos de clubes de outros Estados ou de seleções de base e até feminina.

Na própria Rússia a situação duvidosa sobre o aproveitamento dos estádios após o Mundial que abre suas portas nesta quinta se repete em outras cidades-sede. Além de Sochi, quatro delas não têm representantes na elite do futebol russo. Volgogrado, Saransk, Nijni Novgorod e Kaliningrado têm equipes somente na segunda divisão local.

Estádios que serão usados na elite do futebol russo na temporada 2018-19 melhorou graças à promoção do Krylya Sovetov, de Samara, e à fuga do rebaixamento conquistada nas últimas rodadas pelo Ural Ecaterimburgo, Rubin Kazan e Rostov.

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Estadão
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