Da elite inglesa ao caos nacional: o que falta à arbitragem brasileira?
Entre críticas e promessas de mudança, técnico do Cruzeiro denuncia falhas sistêmicas enquanto CBF busca soluções na Premier League
O desabafo de Leonardo Jardim após o jogo entre Palmeiras e Cruzeiro escancarou uma ferida antiga do futebol brasileiro: a desqualificação da arbitragem e a estrutura que compromete o próprio espetáculo. O técnico português, que chegou ao Brasil em fevereiro de 2025 e ajudou a elevar o nível do time mineiro, demonstrou frustração não apenas com os erros pontuais do árbitro Rafael Klein, mas com o sistema que permite que equívocos se repitam sem consequência.
A condução travada do jogo, a marcação exagerada de faltas e a falta de critério nas decisões do VAR são reflexos de um modelo que não evolui. Mesmo com o campeonato mais competitivo e com recordes de público, a arbitragem continua sendo um ponto de desgaste. Jardim não se limitou à crítica técnica: ele questionou se vale a pena continuar trabalhando no país diante de tantos obstáculos estruturais.
É um caminho que o Brasil precisa seguir com urgência.
A comparação entre os 28 árbitros da Série A e os 20 da Premier League revela uma diferença de foco. Enquanto os ingleses investem em qualidade e exclusividade, o Brasil ainda aposta na quantidade e na rotatividade. O Grupo de Trabalho criado pela CBF para aperfeiçoar a arbitragem pode ser um passo importante, mas precisa ser acompanhado de mudanças reais na estrutura e na cultura do futebol nacional. Sem isso, seguirá apenas como mais uma iniciativa sem impacto prático.
Apesar de tudo, Brasileirão vive triênio de engajamento
O histórico de erros de arbitragem no Brasileirão é vasto, com decisões polêmicas que marcaram títulos e rebaixamentos. Contudo, é preciso salientar que não se trata de má-fé — como muitos insinuam até de modo irresponsável —, mas de um sistema vulnerável à pressão, à falta de preparo e à ausência de profissionalismo. O barulho constante dos dirigentes só piora a percepção pública e afasta o torcedor da confiança no campeonato.
Apesar disso, o Brasileirão vive um momento histórico de engajamento. As três edições mais recentes, já incluindo 2025, registraram as maiores médias de público de todos os tempos. Isso corrobora para a certeza de que o produto futebol brasileiro ainda é bom e desfila talento e paixão. Mas precisa parar com o autoboicote.
O posicionamento de Leonardo Jardim funciona, portanto, como um sinal claro para a CBF, os clubes e as ligas: é urgente repensar o modelo que rege o futebol brasileiro. Sem mudanças estruturais na arbitragem, no calendário e na gestão dos interesses esportivos, o sistema continuará a afastar profissionais qualificados e minando a confiança do público. A decisão está nas mãos das entidades que comandam o esporte: entregar um campeonato valorizado ou seguir alimentando práticas que comprometem sua reputação.
Siga nosso conteúdo nas redes sociais: Bluesky, Threads, Twitter, Instagram e Facebook.