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Copa do Mundo

Mundial da desorganização: relembre roubos, apagões e greves

12 jul 2010 - 03h52
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Allen Chahad
Direto de Johannesburgo

Desorganização de meter medo

Os primeiros dias de Copa do Mundo da África do Sul foram de meter medo. Greves de profissionais ligados à segurança, congestionamentos quilométricos, apagões até em estádios e, principalmente, roubos. Tudo ao mesmo tempo.

Depois foi a vez dos casos de invasões a vestiários e campo de jogo. E sem grandes dificuldades. Uma repórter que procurava uma saída da área de entrevistas abriu uma porta e deu de cara com o atacante Luís Fabiano da Seleção Brasileira.

Da metade para o final, os ânimos se acalmaram. Por diferentes motivos. Até porque, pela repetição contínua, os casos de desorganização deixaram de ser novidade. Também pelo número menor de jogos, pela saída de times e torcedores eliminados e pelas atitudes dos organizadores, que mantiveram a postura de, na maior parte do tempo, ignorar os questionamentos sobre a desorganização.

"Não perdemos tempo para pensar no que não conseguimos fazer. Temos que celebrar o que fizemos. Precisamos lembrar que é a primeira Copa na África e que deixamos os sul-africanos orgulhosos. Cruzamos uma barreira psicológica grande e vencemos a desconfiança. Não é um orgulho de 90 minutos, mas que ficará para sempre", avaliou Danny Jordaan, diretor-executivo do Comitê Organizador, no balanço que fez do Mundial.

Roubos

Após a explosão de casos no início do Mundial, as ocorrências diminuíram em número, mas não em gravidade. A polícia sul-africana se mostrou atenciosa na maioria das vezes, mas para remediar. A segurança foi ineficiente para prevenir problemas até mesmo dentro dos escritórios da Fifa ou de hotéis oficiais de delegações.

Em um dos casos recentes mais gritantes, jogadores da seleção espanhola Sergio Busquets e Pedro tiveram objetos furtados do interior de seus quartos no Protea Hotel de Durban antes de disputar a semifinal contra a Alemanha. Do primeiro levaram a mochila com todos os seus pertences e 800 euros, enquanto do segundo pegaram cerca de mil euros que estava dentro do cofre.

Em outro caso, ladrões levaram sete réplicas da taça Fifa e duas camisas da entidade. O furto ocorreu dentro de salas da entidade, o que leva a crer que foram pessoas familiarizadas com o local. A polícia não encontrou os responsáveis.

Já na Cidade do Cabo, um torcedor argentino morreu após sofrer um infarto enquanto era assaltado. Luis Arturo Forlenza, 57 anos, estava nas redondezas do Estádio Green Point, palco da derrota de sua seleção para a Alemanha por 4 a 0.

Outro turista, americano, foi encontrado baleado perto da estação de metrô Malboro Gautrain, na cidade de Johannesburgo. Segundo a polícia, ele foi atacado por um grupo de homens quando andava sozinho pela noite.

Durante a primeira fase da Copa, a África do Sul colecionou outros casos. A primeira situação grave foi registrada menos de 15 dias antes da abertura da Copa do Mundo. Em visita ao país para jogar um amistoso contra a África do Sul, os jogadores da seleção da Colômbia tiveram US$ 2.743 (cerca de R$ 5.016) roubados dos quartos do hotel Hyde Park Southern Sun, enquanto treinavam.

Dois dias antes do Mundial, jornalistas espanhóis e portugueses que cobrem o evento da África do Sul foram vítimas de um assalto a mão armada e tiveram roubados seus computadores e câmeras por um grupo de homens armados em seu hotel, nos arredores de Johannesburgo. Após alguns dias, a polícia prendeu três criminosos que participaram do assalto.

No dia da estreia da seleção uruguaia na Copa do Mundo, os jogadores Ernesto Rodriguez e Daniel Marotta tiveram US$ 4 mil (R$ 7,2 mil) e US$ 8 mil (R$ 14,4 mil) furtados, respectivamente, de seus quartos, enquanto estavam na partida diante da França. Repórteres chineses e o ex-jogador argentino Gabriel Batistuta também passaram por problemas de roubo nos seus hotéis.

Jornalistas brasileiros da Folha de S. Paulo e um profissional do Terra também foram vítimas. Tiveram cerca de US$ 1,8 mil roubados de dentro dos cofres dos seus quartos. Tudo dentro de um hotel apontado pela organização como oficial para hospedagem da imprensa. Após investigação no hotel Garden Court, localizado no bairro de Sandton, região mais nobre de Johannesburgo, foi descoberto que funcionários terceirizados da manutenção usaram um aparelho que mudava a senha dos cofres e roubaram pequenas quantias de dinheiro, com a intenção de não deixarem suspeitas. Os profissionais foram demitidos e o dinheiro devolvido.

Segundo a polícia, mais de 300 pessoas foram presas desde o início do Mundial. Cerca de um terço deles são sul-africanos. Entre os estrangeiros, os etíopes são os que mais cometeram crimes.

Congestionamentos

O trânsito foi outro problema sem solução durante a Copa. Mesmo com a diminuição do número de visitantes após o encerramento da primeira fase, os congestionamentos em dias de jogos continuaram vexatórios.

Como o transporte público é deficiente em todo o país, os carros e ônibus fretados entopem as ruas horas antes dos jogos. Os veículos com delegações oficiais - jogadores, por exemplo - saem muito tempo antes do apito inicial em direção aos estádios. São escoltados por batedores da polícia, que encontram dificuldades para abrir caminho.

São comuns os relatos dizendo que foram gastas duas e até três horas no trânsito por parte de torcedores, jornalistas e outros profissionais que precisam trabalhar nos dias de jogos. Desde o dia de abertura o "anda e para" dos carros até o Estádio Soccer City já era marcante. Muitos abandonaram seus veículos em qualquer canto para caminhar e não perder o jogo.

E muitos perderam o jogo de abertura. O próprio Comitê Organizador Local culpou o trânsito quando foi questionado sobre os assentos vazios no Soccer City apesar dos ingressos esgotados. Os cartolas se resumem a repetir que aconselham o uso do transporte público. Exatamente o sistema que não dá conta da demanda.

Foram gastos 170 bilhões de rands (cerca de R$ 39 bi) no sistema de transporte no período de 2005 a 2010. Com tantos problemas de deslocamento, os organizadores só repetem incansavelmente que os torcedores devem ir bem cedo aos estádios.

Invasões

Nem mesmo dentro dos estádios os jogadores tiveram segurança. Ao final da partida entre Inglaterra e Argélia, na Cidade do Cabo, um torcedor que alegou procurar um banheiro entrou no vestiário dos ingleses e deu de cara com David Beckham, auxiliar do técnico Fabio Capello. O invasor, que aproveitou a oportunidade para criticar o desempenho do time, foi retirado por seguranças minutos depois. Indignada com o fato, a federação inglesa registrou queixa formal para a Fifa na mesma noite.

Episódio semelhante aconteceu na partida entre Brasil e Costa do Marfim, no Soccer City. Uma jornalista brasileira, que procurava as líderes de torcida durante o intervalo, abriu uma porta e logo estava frente a frente com o atacante Luís Fabiano, dentro do vestiário do Brasil. Após o susto, ela se identificou e explicou a confusão. Sem saída para retornar à tribuna de imprensa, a repórter teve que entrar ao lado dos atletas no túnel que dá acesso ao campo.

Durante a semifinal entre Alemanha e Espanha, em Durban, mais problemas. Sem qualquer obstáculo, um torcedor italiano saiu das arquibancadas do Estádio Moses Mabhida e invadiu o gramado tocando uma vuvuzela. Após perceberem que havia um intruso já no meio de campo, seguranças correram atrás do penetra e o colocaram para fora.

Depois de cada um dos episódios acima citados, os organizadores prometeram reforçar a segurança dentro dos estádios. Mas a recorrência do problema evidenciou as falhas e colocou em risco os protagonistas da Copa do Mundo.

Greves e apagões

Depois de assustarem no começo da Copa, as greves em diferentes setores e as falhas no fornecimento de energia elétrica foram controladas pelos organizadores e autoridades.

As paralisações representavam o maior pânico da Fifa nos primeiros dias de Mundial. A entidade chegou a fazer reuniões especiais e chegou a apontar que o Comitê Organizador Local não o menor controle sobre a situação.

No dia da abertura do Mundial, durante a entrada de torcedores de Uruguai e França no Estádio Green Point, na Cidade do Cabo, seguranças deixaram seus postos de trabalho em protesto. Longas filas se formaram. Voluntários foram convocados às pressas, treinados em poucos segundos sobre como agir na revista de segurança e conferência de ingressos.

Era só a ponta de iceberg. Considerada uma das sedes mais importantes do evento, a Cidade do Cabo voltou a ter problemas logo no segundo jogo. Seguranças da partida entre Itália e Paraguai se declararam em greve três horas antes do encontro.

No terceiro dia do evento, depois da goleada da Alemanha por 4 a 0 sobre a Austrália, no Estádio Moses Mabhida, em Durban, cerca de 300 de funcionários protestavam contra o pagamento insuficiente por seus serviços e entraram em confronto com policiais. Com direito à detonação de duas granadas, uso de gás lacrimogênio e disparo de balas de borracha.

No quinto dia da Copa, cinco horas antes da estreia do Brasil contra a Coreia do Norte, foi a vez de centenas dos funcionários dos serviços de segurança protestarem do lado de fora do Estádio Ellis Park, em Johannesburgo. Reclamavam os 410 rands (R$ 94) supostamente prometidos por cabeça pela organização, que só teria pagado no dia 190 rands (R$ 43).

E os focos de greve pipocaram nos dias seguintes nas três cidades. O COL se viu obrigado a tomar uma medida extrema. Cancelou o contrato com a empresa de segurança privada Stallion e entregou os quatro estádios das cidades à polícia - além dos citados acima, também o Soccer City, em Johannesburgo.

Depois da entrega da segurança dos quatro estádios à polícia, a organização foi melhorando aos poucos.

Os estádios também sofreram com os apagões. No jogo de estreia da Seleção Brasileira, a região do Estádio Ellis Park teve quedas sequenciais de fornecimento de energia elétrica. Até mesmo dependências internas do estádio ficaram às escuras. Torcedores que subiam escadas e rampas de acesso ficaram em pânico, temiam pela segurança. Houve muita gritaria.

Por causa do problema, as catracas de acesso ao estádio ficaram travadas por cerca de 30 minutos e longas filas se formaram. Muitos fãs vagaram desesperados em volta do estádio em busca de outro acesso. A segurança liberou a entrada de torcedores comuns pela área VIP. Quando as catracas foram liberadas, os guardas nem checavam os pertences e os ingressos dos fãs para dar vazão e evitar um tumulto maior.

Antes, no dia do jogo de abertura África do Sul x México, teve apagão no bairro de Orlando, em Soweto, tradicional por ter servido como símbolo da resistência dos negros durante o regime de segregação racial apartheid. Torcedores não puderam acompanhar pela televisão parte do segundo tempo até o final do jogo.Já depois da derrota por 3 a 0 para o Uruguai, torcedores sul-africanos que foram ao jogo em Pretória não puderam voltar para casa por causa de um apagão que parou o metrô da cidade. A avaria deixou sem transporte cerca de 2 mil pessoas, entre moradores locais e turistas.

Os trens não saíram do lugar por duas ou três horas, e os últimos torcedores a deixar o Loftus Versfeld só chegaram a casa ou hotel no meio da madrugada desta quinta-feira. Condutores e passageiros tiveram que usar composições a vapor.

Greve de polícia no Estádio Soccer City é uma das baixas da primeira Copa realizada no continente africano
Greve de polícia no Estádio Soccer City é uma das baixas da primeira Copa realizada no continente africano
Foto: AP
Fonte: Terra
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