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Copa do Catar

Barrado da Seleção de 70 pelo governo, Edu ganha biografia

Livro homenageia preferido de João Saldanha para ser reserva de Pelé naquele Mundial

18 nov 2022 - 11h34
(atualizado às 12h31)
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Muito se conhece da polêmica troca de João Saldanha por Zagallo para comandar a Seleção brasileira em 1970. Havia o dedo ali do regime militar, que não aceitava ver um militante comunista dirigindo a equipe. Pouco se fala, porém, que a interferência do governo federal fez outra vítima naquele Mundial: Eduardo Antunes Coimbra, o Edu, artilheiro do Brasileiro de 1969, naquela época chamado de Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Ele jogava pelo America-RJ e era nome certo na lista de Saldanha para a Copa.

Edu foi artilheiro do Brasil em 1969 e era um dos nomes de João Saldanha para o Mundial de 1970
Edu foi artilheiro do Brasil em 1969 e era um dos nomes de João Saldanha para o Mundial de 1970
Foto: Reprodução

O então técnico da Seleção já havia declarado publicamente que contava com Edu na competição. Seria, a princípio, reserva de Pelé. Mas tudo mudou repentinamente. Primeiro, Saldanha “foi saído” da sua função e substituído por Zagallo, que, embora profundo conhecedor de futebol, era bastante despolitizado. Depois, na hora da lista final, sobrou para Edu e o motivo está relacionado à mesma questão.

De uma família de quatro jogadores de futebol - além dele, também brincavam de jogar bola Nando, Antunes e Zico -, Edu acabou punido com sua ausência na convocação. Em casa, todos já sabiam a razão. Meses antes, Nando, que frequentava grupos de esquerda e pregava a volta da democracia, tinha sido preso pela polícia política no Rio. Havia um adendo a tudo isso: Cecília Coimbra, prima do quarteto, também atuava bastante nos movimentos contrários à ditadura e sofria perseguições.

.Parte dessa história está relatada no livro “Edu Extraordinário”, do professor, escritor e profissional em controladoria Silvio Köhler (Editora 3 de Maio, R$ 50), que será lançado dia 26 no Rio (Brasa Gourmet, Rua Mariz e Barros, 881, Tijuca, a partir das 13 horas). O autor se debruçou por vários meses numa pesquisa meticulosa sobre a vida e carreira de Edu e acabou premiando o leitor e os torcedores do clube com uma revelação, respaldada por um levantamento intenso e rico em detalhes: Edu é o maior goleador do America-RJ e não Luisinho Lemos, como se supunha até então.

Luisinho morreu em junho de 2019, vítima de um infarto sofrido quando trabalhava como técnico do America durante um jogo do Campeonato Carioca. Ele fez ao todo 204 gols pelo clube. Já Edu marcou 211.

“O Edu sempre soube disso. Mas por uma questão de humildade e de caráter, jamais fez campanha para que esses números fossem divulgados. Preferiu silenciar. Gostava do Luisinho e lamentou muito a perda do amigo”, conta Köhler.

Para quem não vivenciou o período em que Edu antecedeu Zico nos gramados, era muito comum no final dos anos 60 e início da década de 70 que alguém, quando mencionasse o nome de Zico, dissesse assim. “Sei quem é, ele é irmão do Edu.” Muitos anos depois, com a genialidade do meia-atacante que ganhou o mundo com seu futebol-arte, essa constatação se inverteu e a menção a Edu passou a ser seguida de um complemento, “o irmão do Zico”.

Como atleta, Edu atuou ainda por Vasco, Bahia e Flamengo, entre outras equipes, e esteve presente em convocações da Seleção. Depois, ingressou na carreira de treinador e chegou a dirigir a própria Seleção brasileira em 1984. Também comandou grandes clubes, como Botafogo, Fluminense, Coritiba, além de Vasco e America. Foi técnico da Seleção do Iraque e do Kashima Antlers. Hoje, com 75 anos, ele mora em Quintino, subúrbio do Rio.

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