Script = https://s1.trrsf.com/update-1765905308/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Messi

Messi incorpora Maradona para liderar Argentina e conquistar sua Copa no Catar

Craque assume sua versão mais sanguínea com provocações, xingamentos e liderança incontestável

12 dez 2022 - 11h01
(atualizado às 11h21)
Compartilhar
Exibir comentários

Finalizada a dramática disputa de pênaltis contra a Holanda pelas quartas de final da Copa do Mundo, Lionel Messi é encarado pelo centroavante grandalhão Wout Weghorst no momento em que dava entrevista à imprensa argentina. Irritado, dispara: "¿Qué mirás bobo? ¿Qué mirás? Andá para alla" (Está olhando o que, bobo? Está olhando o que? Vai para lá"). O jogador holandês alegou posteriormente que só queria a camisa de Messi, mas não convenceu o craque da Argentina.

No mesmo Holanda x Argentina, Van Gaal foi alvo da irritação de Messi. O camisa 10 marcou de pênalti e escolheu comemorar seu gol em frente ao banco holandês. Parado, levou as duas mãos às orelhas, emulando a mais célebre comemoração de Riquelme, chamada de "Topo Gigio", na Argentina, em alusão ao ratinho de orelhas enormes, personagem de um programa infantil de sucesso exibido na televisão italiana na década de 1960.

Depois da vitória nos pênaltis, o astro argentino retornou ao local onde estava Van Gaal para cobrar o treinador e o auxiliar Edgar Davids.

A comemoração e a discussão foram respostas às palavras do treinador holandês, conhecido desafeto de jogadores sul-americanos, como Di María e Rivaldo. Ele havia dito que Messi "não faz a diferença quando está sem a posse de bola" e que sequer relou na bola no duelo entre argentinos e holandeses na Copa de 2014, com vitória nos pênaltis para os sul-americanos.

"Van Gaal vende a ideia que seu time joga um bom futebol, mas só dá chutões", respondeu Messi. "Eu sempre respeito todo mundo, mas gosto que me respeitem também. Van Gaal não foi respeitoso conosco".

Essa postura provocativa, as respostas com insultos, a dedicação em campo ao auxiliar os companheiros na marcação, a comemoração efusiva após cada vitória com os torcedores atrás do gol e a liderança que aprendeu a exercer de uns anos para cá em um longo processo não deixam dúvida: no Catar, Messi assumiu sua versão mais argentina e mais maradoniana. Ele está "Diegado".

"O que faz é não guardar nada. Se algo o incomoda, ele não hesita em se manifestar", diz ao Estadão o jornalista e escritor Ariel Senosiain, autor de "Messi, o Gênio Incompleto", a última das biografias publicadas sobre o craque argentino.

Ele já havia evocado uma versão do ídolo Maradona na Copa América de 2019, vencida pelo Brasil, quando atuou como porta-voz da Argentina durante todo o torneio e esbravejou contra a arbitragem. Chegou até a dizer que a competição estava "armada" para a seleção brasileira. "Me parece que sempre teve esse tipo de reação, mas conseguiu exteriorizar mais com o tempo", afirma o escritor.

Mas foi no Mundial do Catar que o craque argentino se aproximou ainda mais de Maradona, morto em 2020, em campo e no comportamento. "Dissemos desde o início: Diego está nos empurrando do céu", disse o atleta, que foi treinado por Maradona em 2010, na Copa do Mundo da África do Sul.

Ele marcou quatro vezes no Mundial catariano e superou Maradona em número de gols (10) e partidas (24). Se entrar em campo mais duas vezes no Catar, o que deve acontecer, já que a Argentina tem mais dois jogos no torneio, independentemente do resultado das semifinais, ele se tornará aos 35 anos o jogador com mais jogos em Copas em sua despedida do maior evento do futebol mundial.

LIDERANÇA

Mas Messi, hoje com 35 anos, nem sempre foi assim. Tinha dificuldades para liderar a seleção de seu país. Há uma década, ou um pouco mais, no período em que não repetia na Argentina as atuações geniais com a camisa do Barcelona, se dizia no país vizinho que o jogador jamais seria idolatrado como Maradona.

Era chamado de "pecho frío", expressão futebolística usada para definir um jogador que não joga com amor, que não tem brio. Essa pecha ele afastou em definitivo com a taça da Copa América conquistada no ano passado sobre o Brasil no Maracanã. Aquela conquista encerrou um tabu de 28 anos sem títulos. Foi o primeiro troféu de expressão que Messi ergueu com a camisa alviceleste. Todos abraçaram o craque e jogaram-no ao alto para festejar após o triunfo no Maracanã.

"Eu quero dar a vida, quero morrer por ele. Eu disse isso há quatro ou cinco meses, que preferia que ele vencesse a Copa América antes que eu", falou o goleiro "Dibu" Martínez, com quem Messi tem uma conexão especial.

O processo para se transformar num jogador "sanguíneo" e passar a ser o principal líder de sua seleção foi longo. Messi tropeçava nas palavras, era tímido, introspectivo. Não gostava e não sabia como se expressar diante de seus colegas.

Na Copa da África do Sul, em 2010, o técnico Diego Maradona deu a braçadeira de capitão para Messi na tentativa de ensiná-lo a ser líder. Os jogadores formaram a roda no túnel antes do jogo. Todos queriam ouvi-lo, mas nada saiu da boca do atleta, então um jovem de 23 anos.

Ariel Senosiain explicou em seu livro, com base em 68 entrevistas, que o comportamento de Messi tinha a ver com a sua criação futebolística no Barcelona. Nas categorias de base do clube espanhol, o atleta era ensinado a liderar com a bola nos pés. Sem gritos, sem exaltação. "Ele sempre foi um líder pelo futebol porque sempre era ele quem tomava as decisões para assumir o comando. É quem cobra a falta, pênalti, isso também é uma forma de liderar", explica Senosiain.

Mas Messi melhorou com as palavras e passou também a ser um capitão fora de campo. Se os atletas se espelhavam nele com a bola nos pés, passaram a também admirá-lo na postura longe do gramado. "Nos últimos três ou quatro anos ele acrescentou mais interesse em liderar fora de campo e fundamentalmente é porque a equipe o respeita, unanimemente sempre o respeitaram", considera Senosiain.

A braçadeira de capitão ele carrega em definitivo há mais de uma década. Foi o então técnico Alejandro Sabella que lhe deu em 2011. Ele a tirou de Mascherano, que aceitou com tranquilidade a troca, para passar ao camisa 10.

No caminho até se tornar um capitão e ídolo incontestável em seu país, Messi amargou derrotas, viu o nascimento de seus três filhos e celebrou o título continental ano passado. As intempéries e glórias ajudaram a formar o atual Messi, mais vibrante e atrevido. "Quando Messi fala, todos se calam e o escutam como se fosse o presidente da Argentina", define o goleiro Martínez.

Estadão
Compartilhar
Publicidade

Conheça nossos produtos

Seu Terra












Publicidade