Crise na CBF representa oportunidade de ouro para os clubes brasileiros
Acumulando mais um presidente afastado pela Justiça, confederação se vê fragilizada em meio à articulação por liga
Depois que Ricardo Teixeira renunciou ao cargo que ocupou por mais de duas décadas, em 2012, a Confederação Brasileira de Futebol experimenta um turbilhão político atrás do outro. Desde então, em menos de 10 anos, a entidade já teve quatro presidentes derrubados do poder, incluindo o atual mandatário Ednaldo Rodrigues, afastado por decisão judicial nesta quinta-feira.
No dia seguinte ao encerramento do Campeonato Brasileiro, a Justiça do Rio de Janeiro julgou procedente um recurso que contesta a validade das últimas eleições na CBF. Com isso, o tribunal determinou a nomeação de um interventor e a convocação de novo pleito em 30 dias.
A manobra recursal, chamada de golpe político por atuais dirigentes da CBF, é articulada nos bastidores por Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero, ex-presidentes afastados após denúncias de corrupção, assim como José Maria Marin. Rogério Caboclo caiu após acusação de assédio sexual no período em que sucedeu a constrangedora administração interina do Coronel Nunes.
Com outro presidente afastado, a confederação se vê não apenas com a imagem ainda mais corroída, mas também fragilizada no momento em que os clubes se articulam para tentar criar uma liga independente. E reside aí uma oportunidade de ouro para o futebol brasileiro romper as amarras que atravancam a definitiva profissionalização do negócio.
Atualmente, os clubes se encontram divididos em dois blocos: Libra e Forte Futebol, que ainda não chegaram a um acordo sobre a divisão de receitas dos direitos comerciais de uma eventual liga conjunta. Diante de seguidos escândalos e da total falta de estabilidade da CBF para comandar o futebol nacional, os dirigentes deveriam aproveitar o timing para sentar novamente à mesa e se convencerem de que o pior caminho é a desunião.
Bem articulados, os clubes, sobretudo na era das SAFs e de investidores estrangeiros, têm poder para, enfim, desarticular o verdadeiro sistema que prejudica a todos sem distinção: a estrutura meramente política e arcaica da CBF e suas respectivas federações – que naturalmente respinga no modelo de gestão das equipes.
É difícil ter esperança em um ambiente que sempre foi pautado pelo egoísmo clubístico e a mesquinhez dos cartolas. Nesta janela de oportunidade, por exemplo, John Textor e Leila Pereira, empresários à frente de clubes que disputaram o título brasileiro, vencido pelo Palmeiras, seguem trocando farpas e alfinetadas por causa de arbitragem, incapazes de enxergar que, dessa forma, somente fortalecem o tal “sistema” que dizem combater.
A queda de Ednaldo ainda pode ser revertida na Justiça. Mas não há dúvida de que o comando da CBF nunca esteve tão impotente como agora. Resta torcer para que os clubes saibam resolver suas diferenças e abracem a chance de tirar o futebol brasileiro do atraso. O que implica em uma insurgência revolucionária acima das vaidades de cartolas e torcedores.