Após 4 jogos, Seleção volta a ter centroavante; o que muda?
Desde que a Copa do Mundo foi criada em 1930, toda eliminação do Brasil na competição tem seus vilões – sejam eles merecidos ou criados pela torcida e pela imprensa. Foi assim com Barbosa em 1950, Cerezo em 1982, Felipe Melo em 2010... e em 2014, Fred pareceu ter sido o mais criticado após os 7 a 1 sofridos para a Alemanha na semifinal. A figura do centroavante se tornou algo sombrio, até ultrapassado, na mente dos brasileiros. Agora, depois de quatro jogos sem um jogador de referência, o Brasil de Dunga voltará a ter um típico camisa 9 na frente. O que muda?
Quem vai liderar o ataque verde-amarelo no amistoso contra a Turquia nesta quarta-feira, às 16h30 (de Brasília), é Luiz Adriano, 27 anos, desde 2007 no Shakhtar Donetsk. Comparado com Fred, é um jogador de mais mobilidade, acostumado a jogar em um time que, assim como a Seleção, tem sua principal força no contra-ataque. Mas ainda assim é um jogador de área e um definidor, bem diferente do camisa 9 que vinha sendo titular com Dunga, Diego Tardelli.
"Logicamente muda, porque é uma característica diferente", explicou Dunga na última terça. "A gente vai dar liberdade para ele (Luiz Adriano) ter essa movimentação. Ele joga na sua equipe mais fixo, porque tem muitos jogadores de mobilidade ao redor. Os jogadores da Seleção têm que se adaptar um pouquinho, ele também. Mas no futebol moderno, como ele joga em sua equipe na Champions, o jogador tem que ter movimentação para não ficar fácil de ser marcado".
É principalmente nesse ponto – movimentação – que Luiz Adriano deve se diferenciar de Fred. É injusto dizer que o centroavante do Fluminense tenha sido um "poste" no time de Felipão: ele fugiu de suas características para se tentar se movimentar mais na Copa do Mundo, apesar de tecnicamente ter ido mal, e na final da Copa das Confederações de 2013 ele se esforçou na defesa e foi importantíssimo para atrapalhar a saída de bola da Espanha, por exemplo. Mas puxar marcação e se dedicar na fase defensiva não são características de um centroavante "da velha guarda", um definidor nato como Fred.
São, sim, de Luiz Adriano, que pode ser classificado como um centroavante da "nova geração". Os principais camisas 9 do mundo hoje, como Diego Costa, Benzema, Falcao e Lewandowski, são atletas capazes de movimentações constantes com e sem a bola: podem jogar de costas para o gol ou receber lançamentos em direção a ele. Além disso, ajudam o time na hora de defender, pressionando a saída de bola ou recuando para perto do meio-campo. O jogador do Shakhtar pode não ter a mesma veia goleadora de Fred, mas oferece essas qualidades.
"Futebol não tem defesa ou ataque", disse Dunga. "Quando está sem bola, todo mundo tem que defender, e com a bola, todos ajudam a atacar. Tem que ter um equilíbrio entre as duas situações".