F1: Por que a Pirelli pediu 2 paradas obrigatórias no Catar?
A decisão de 2 paradas obrigatórias no GP do Catar veio em nome da "segurança". Mas por que a Pirelli escolheu ser conservadora novamente?
Dias atrás, havia surgido a noticia de que a F1 estaria discutindo a introdução de mais uma parada obrigatória nas corridas para forçar uma maior movimentação durante as provas. Oficialmente, o tema foi discutido na Comissão de F1 e decidido que o assunto seria melhor avaliado em 2026...
Coincidentemente, PIrelli, FIA e F1 comunicam nesta segunda (17) que o GP do Catar terá obrigatoriamente 2 paradas, já que a fabricante de pneus decidiu, por precaução, que os pneus não poderão passar por sequencias de voltas (stints) maiores do que 25 voltas. Como a corrida tem 57 voltas programadas...
Segundo a Pirelli, esta decisão foi tomada considerando o tipo de asfalto e os esforços que o pneu sofre diante das curvas do traçado de Lusail em termos térmicos e desgaste. É uma repetição do quadro que vimos no mesmo local em 2023, quando as zebras colocadas na época colocaram em risco a integridade dos pneus, gerando microdanos nas laterais dos pneus.
Cabe lembrar que a Pirelli indicou os compostos mais duros da sua gama para esta prova (C1/C2/C3) e que a corrida se dará à noite, quando a temperatura ambiente é mais baixa. Mesmo assim, decidiu usar esta ação de limitação, no mesmo sentido do ano passado.
Porém, por que a Pirelli tomou esta ação?
Temos que recordar que os pneus não são somente borracha e ar. Além disso, é a composição de diversos outros componentes para dar forma aos pneus. Além disso, para garantir sua integridade, é utilizada uma série de itens como malha de aço e kevlar para aguentar as exigencias de uma corrida.
Aqui tem um video legal feito anos atrás mostrando literalmente como é um pneu de F1 por dentro...
No caso de um pneu de competição, ele tem que levar em conta também configurações de suspensão, como cambagem e convergência. Não é a toa que se fala há muito que um carro de corridas é desenhado a partir do pneu. E nos ultimos tempos, para evitar que os times passem de limites de segurança, categorias como a F1 e o FIA WEC definem quais são os acertos básicos, bem como as pressões minimas de uso.
No caso do Catar, os pneus sofrem pelo fato de ser um asfalto mais abrasivo, mais poroso e das diferenças de temperatura. No caso das escolhas feitas para o GP do Catar, a janela de temperatura vai de 80ºC até 140º C. O objetivo das equipes é tentar manter os pneus funcionando ao máximo dentro deste intervalo para conseguir extrair o melhor desempenho do pneu, aumentando o seu uso e evitando o chamado "penhasco", que é quando o pneu perde qualidade de forma brusca.
Além de se preocupar com a gestão da temperatura, as curvas e zebras do Catar acabam sendo fatores de risco. Estamos acostumados a ver nas transmissões o dado de quantas vezes o piloto é afetado pela força da gravidade (força G). Os pneus também sofrem com isso. Imagine ter que ter contato com o chão, sofrer a questão termica e ainda lidar com as forças físicas? Não é a toa que, algumas vezes, vemos os pneus distorcendo em algumas cuvas. É também uma forma de evitar furos e outros danos.
A questão é: como espectadores, seria interessante vermos pneus se decompondo e os pilotos terem que fazer das tripas coração para administrar os compostos para chegar até o final. Porém, temos que lembrar que as corridas de carro também servem para vender produtos e projetar respeitabilidade. Como então uma fabricante de pneu pode deixar seu produto falhar diante de bilhões de pessoas? E a segurança? Por isso, a definição.
Não poderia a Pirelli fazer ações para que isso não acontecesse? Ao longo do tempo, a fabricante foi mudando a construção dos pneus para torná-los mais resistentes. Entretanto, isso impacta em mudanças de processos e até em possíveis aumentos de peso. Qualquer mudança neste tipo também tem que ter a anuência das equipes e da FIA. Fazer um modelo específico para este tipo de corrida também não é válido, até porque a construção destes pneus é feita com quase 2 meses de antecedência.
Enfim, agora a segurança entra em campo. Mas de uma forma bem conveniente para a F1 e a Pirelli.