F1: Mercedes sabotou George Russell em 2020?
Em 2020, Russell tinha tudo para vencer o GP do Sakhir, mas uma sequência de erros da Mercedes tirou a vitória do inglês. Acidente?
A temporada de 2020 da F1 foi uma das mais caóticas da história da categoria. Logo na primeira corrida do ano, o GP da Austrália, a gente teve muita polêmica. Todo o circo da F1 já estava armado, mas caso você não se lembre, ao mesmo tempo, estava rolando um probleminha, um pequeno detalhe: o início da pandemia.
E tudo foi tratado da maneira mais F1 possível, no caos e desinformação. Primeiro não sabíamos se ia ou não rolar corrida, depois Sebastian Vettel pegou o avião e voltou pra casa; a McLaren disse que não iria correr; a F1 falando que ia rolar mesmo assim e no fim das contas ocorreu o óbvio: cancelaram a corrida.
Depois disso a F1 teve que se virar nos 30 para encaixar um calendário completamente apertado, cheio de etapas repetidas em meio ao mundo que estava aprendendo a conviver com uma nova doença. Depois de muita enrolação, problemas logísticos e de uma temporada que quase nem recebeu o título de mundial, finalmente chegamos à primeira etapa da temporada de 2020: o GP da Áustria.
Logo de cara, vimos uma Mercedes extremamente dominante e, apesar da ótima vitória de Valtteri Bottas, o resto da temporada foi completamente dominado pelo Lewis Hamilton, que venceu 11 das 16 etapas que disputou para se tornar o segundo piloto heptacampeão mundial da história. E bem, se você se lembra da temporada de 2020, já percebeu um pequeno detalhe. “11 das 16 etapas”. Isso porque a temporada toda teve 17 corridas. Pouco antes do penúltimo evento, o GP do Sakhir. Lewis foi diagnosticado com COVID e não correu, sendo substituído pelo jovem da academia que estava sofrendo há três anos de Williams, George Russell.
A corrida, para quem se lembra, foi extremamente caótica, num dos circuitos mais malucos que a F1 já viu e terminou com a épica vitória de Sergio Pérez, que garantiu a vaga na Red Bull para 2021. Mas uma outra coisa muito estranha aconteceu naquela corrida: Russell parecia ter tudo para vencer, praticamente liderou da primeira volta até a 62, quando tudo deu errado para o inglês.
O estreante Jack Aitken, o próprio substituto de Russell na Williams, causou um Safety Car. Aproveitando o momento, a Mercedes chamou George para os boxes e fez algo que não costumava fazer: errou a troca de pneus, colocando jogos diferentes nos dianteiros e traseiros, o que o obrigou a fazer uma nova parada na volta seguinte para corrigir o erro, caindo para a 5ª colocação.
Mas tudo bem. Russell novamente escalou o pelotão e já estava em 2º, perseguindo Pérez, no que parecia ser uma ultrapassagem inevitável. Então, na volta 78, um novo rádio da Mercedes surge na tela, dizendo que ele teria um pequeno furo no pneu e por isso precisava fazer uma nova troca de emergência. Russell então para novamente e cai para 14º. Ainda escalaria mais uma vez o pelotão para terminar a corrida em 9º, mas longe do resultado que merecia por tudo que pilotou.
A Mercedes sempre foi uma equipe conhecida por ser milimetricamente perfeita em suas paradas, então como cometeu um erro grotesco desses? Justo na vez de Russell? E depois, como se não bastasse, ele ainda foi chamado por conta de um furo que aparentemente nunca existiu. Foi aí que surgiu a teoria de que, na verdade, nada disso foi acidental. Tudo foi armado e objetivado pela própria Mercedes para tirar a vitória do inglês.
Mas por que a Mercedes faria isso com o seu próprio piloto? O principal argumento é o de que a Mercedes teria feito isso para proteger a sua própria imagem.
É um fato que eles dominaram a categoria de 2014 até 2020, com exceção da temporada de 2018, onde a Ferrari teve o melhor carro durante boa parte das corridas. Se tem uma coisa que a F1 costuma fazer quando tem uma equipe dominante é mudar as regras da categoria para que isso acabe. Porque se não tem disputa, os fãs perdem o interesse, e se ninguém liga a TV para ver a corrida, a F1 perde dinheiro.
Certo, então se isso é verdade, então por que eles não tentaram acabar com a dominância da Mercedes antes? Bem, de 2014 e 2016, mesmo com um carro extremamente superior, tínhamos a novela Hamilton e Rosberg, que vendia muito para os fãs. Em 2018 a Ferrari reagiu, gerando uma disputa muito interessante pelo título. Entretanto, pela maior parte de 2019 e 2020, a F1 foi completamente dominada pela equipe alemã e a imagem de um piloto que nunca tinha sentado no carro vencendo, passaria uma impressão de que qualquer um naquele carro venceria o mundial, o que também diminuiria o valor da imagem da F1, dizendo que é o carro quem vence e não o piloto. Dessa forma, pensando em se proteger de possíveis regulamentações da FIA, a Mercedes teria boicotado Russell.
Outro ponto importantíssimo dessa teoria é de que, com isso, as pessoas passariam a questionar os mundiais de Lewis Hamilton, que conquistou seis dos seus sete títulos pela equipe alemã. Tudo isso se encaixa quando a gente começa a olhar o contexto da corrida, porque depois de fazer o segundo pit e voltar na quinta colocação, Russell escala com muita facilidade o pelotão para voltar ao 2º lugar e isso faria com que todo o plano fosse por água abaixo.
Por tudo isso, teriam inventado esse furo no pneu, dessa vez acabando com a corrida de Russell de uma vez. Por fim, outro motivo que costumam mencionar em relação a essa teoria, seria a forte relação do Bottas com Toto Wolff, já que antes do piloto entrar na Mercedes ele era agenciado pelo seu agora chefe de equipe. E pra quem viu a corrida, Bottas, um veterano com oito anos de F1 e quatro de Mercedes, tomou um baile do cara que estava na primeira corrida pela equipe.
Não era uma imagem nada boa para ele, o que criaria uma enorme pressão para cima da cúpula alemã demitir o finlandês e finalmente subir Russell já em 2021. Então,Toto teria tomado essa decisão para ajudar o Bottas e manter o emprego devido a relação prévia com o piloto.
Independente de tudo, a épica vitória do Pérez e o improvável pódio com Ocon e Stroll tomaram as manchetes e apagaram os erros da Mercedes na corrida seguinte. Lewis e Bottas também ficaram atrás do Max durante todo o GP de Abu Dhabi, finalizando a temporada e jogando a imagem da Mercedes dominante e fácil de pilotar para baixo dos panos.
Mas claro, lembrando, tudo isso é uma teoria da conspiração. Depois da corrida, Andrew Shovlin, engenheiro da Mercedes, disse que o rádio da equipe estava com alguns problemas de interferência naquela noite e quando chamaram os mecânicos para a troca dupla, a mensagem não foi entregue adequadamente e alguns deles levaram apenas o jogo de pneus do Bottas. O pneu errado colocado no carro do Russell era na verdade o dianteiro do Valtteri. Tanto que depois que George é liberado, o finlandês fica preso no pit por quase 30 segundos antes de ser devolvido para a pista com o mesmo jogo de pneus desgastados que ele estava usando antes, o que não parece ser a melhor maneira de ajudar ele.
Em relação ao furo, Toto chegou a dizer que depois de Rusell voltar para a pista, ele passou a forçar o carro mais do que o comum, provavelmente porque estava bravo com o erro nos pits, e dá para entender. Então quando realizava uma ultrapassagem, estava forçando demais os pneus dianteiros, causando o furo que obrigou ele parar de novo.
Quanto às acusações em relação a Mercedes estar tentando proteger a própria dominância, isso até faz sentido. A F1 realmente faz mudanças visando a competitividade do esporte, porque querendo ou não, é um produto e precisa ser agradável para o consumidor. Em 2014, a própria Mercedes admitiu não usar potência máxima do seu motor para não ficar absurdamente na frente do pelotão. Quer dizer, mais absurdamente do que já ficava.
Só que a F1 sempre foi assim. A combinação de piloto + máquina, nunca foi de outra maneira e nunca será. Williams, Mclaren, Ferrari e Red Bull, todas elas já tiveram sua dominância na categoria, por isso eu não gosto muito do argumento de “você só é campeão por causa do carro”, nesse caso você vai ter que desqualificar o título de mais de 90% dos pilotos campeões.
Além de que Russell também não é qualquer piloto, é um talento que chegou da F2 com status de futuro campeão mundial. Ele não foi dominante só porque estava numa Mercedes. Simplesmente chegou lá e bateu em um piloto que estava há anos na equipe. Desta forma já se prova que não é “qualquer um que seria campeão”.
Essa é a teoria da conspiração de que a Mercedes teria boicotado George Russell, uma das várias que existem no mundo do automobilismo, mesmo com seus diversos furos e inverdades na história, ainda tem uma grande utilidade em nos divertir.