UE se prepara para impactos de avalanche de produtos chineses após tarifas americanas
Além do aumento das tarifas de importação americanas aos produtos europeus, outro aspecto da guerra comercial protagonizada pelo presidente Donald Trump preocupa a Comissão Europeia: uma avalanche de produtos chineses deve invadir ainda mais o mercado europeu. Plataformas chinesas como Shein e Temu registram altas de vendas espetaculares nos últimos dois anos, uma performance que tende a disparar em meio à escalada tarifária entre Washington e Pequim.
Além do aumento das tarifas de importação americanas aos produtos europeus, outro aspecto da guerra comercial protagonizada pelo presidente Donald Trump preocupa a Comissão Europeia: uma avalanche de produtos chineses deve invadir ainda mais o mercado europeu. Plataformas chinesas como Shein e Temu registram altas de vendas espetaculares nos últimos dois anos, uma performance que tende a disparar em meio à escalada tarifária entre Washington e Pequim.
O tema está na capa de dois dos principais jornais franceses nesta sexta-feira (11). Le Figaro indica que Bruxelas prepara um pacote para "amortecer o choque" das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China. "Este choque deve congelar as trocas comerciais entre os dois e obrigar Pequim a encontrar um destino para os US$ 500 bilhões em bens que costuma exportar para os Estados Unidos", indica.
Na Europa, os setores mais ameaçados por este redirecionamento das exportações chinesas são a siderurgia, os químicos, o automobilístico e os têxteis. Para proteger estes e outros mercados, a Comissão Europeia elabora um mecanismo que permita ao bloco "monitorar de forma muito rígida as importações" que recebe.
O jornal Les Echos indica que, na área de produtos diversos, a plataforma Shein tende a ser o maior alvo. Nos últimos 12 meses, os franceses gastaram € 3 bilhões em compras no site - no que pode "ser apenas o começo da lavada chinesa" no mercado de moda, objetos de decoração ou artigos esportivos, entre milhares de outros comercializados a preços baixos.
UE é o segundo maior mercado da Shein
A União Europeia pode se tornar o principal mercado mundial da Shein, depois que os Estados Unidos adotaram tarifas que chegam a 145% sobre os produtos da China. Em editorial, Le Figaro afirma que a alternativa a subir as taxas europeias poderia ser "negociar com o presidente Xi Jinping uma abertura do seu mercado interno, gigantesco e subexplorado".
Hoje, na França, as principais plataformas asiáticas representam 22% das encomendas entregues pelos correios - cinco anos atrás, elas correspondiam a menos de 5%. A mesma tendência exponencial é observada na Europa, onde, em 2024, aproximadamente 4,6 bilhões de remessas de baixo valor (91% das quais provenientes da China) entraram no mercado, um número que dobrou em relação a 2023 e triplicou na comparação com 2022, alerta a Comissão Europeia.
O foco destas plataformas é o valor abaixo de € 150, o limite de isenção de impostos alfandegários para os pacotes que chegam de fora da União Europeia. Esta isenção foi adotada em 2010, quando uma norma europeia promoveu a "fluidez aduaneira" e introduziu a noção de "valor insignificante", ou seja, € 150.
Trump já visou pacotes de baixo valor
Entretanto, destacando os riscos de importar "produtos perigosos" e uma pegada ambiental significativa em tais volumes, a Comissão Europeia solicitou em fevereiro que essa vantagem fosse removida. O presidente americano não esperou e assinou um decreto na terça-feira (8) para aumentar as taxas alfandegárias sobre pequenos pacotes enviados da China, de 30% para 90%.
A isenção de taxas alfandegárias é uma vantagem "injustificada" e "anacrônica" que cria uma "concorrência totalmente desleal", denuncia Marc Lolivier, delegado geral da Federação do Comércio Eletrônico (Fevad) da França. "Estamos surpresos com a falta de resposta das autoridades francesas e europeias. Temos a impressão de que cada uma está se escondendo atrás da outra. Resultado: nada acontece", disse Pierre Bosche, presidente da Confederação dos Comerciantes Franceses, à AFP.
"Se Trump consegue tomar decisões em três dias, imaginamos que a Comissão Europeia consiga fazê-lo em menos de três anos", diz também Pierre-François Le Louët, copresidente do Sindicato Francês das Indústrias da Moda e do Vestuário.
A Europa propõe uma revisão do código aduaneiro, mas "isso levará dez anos", adverte Yves Audo, presidente do Conselho Comercial Francês.
Com informações da AFP