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"Será necessário um pacote fiscal para economia crescer"

Aumento de gastos vai demandar mais tributos, como taxação de dividendos, afirma ex-presidente do BNDES

24 mai 2020 - 04h10
(atualizado às 12h02)
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Além do aumento dos gastos públicos já anunciados, o governo terá de fazer um pacote fiscal para estimular a economia no pós-pandemia, segundo o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros. Se agora há certa condescendência dos investidores com a alta da dívida brasileira, dado que o movimento é global, o mesmo não ocorrerá quando esse pacote sair. Aí, a solução será elevar impostos para mudar a trajetória da dívida, diz. A seguir, trechos da entrevista.

Segundo o Ministério da Economia, a previsão de despesas com o seguro-desemprego aumentou R$ 3,783 bilhões.
Segundo o Ministério da Economia, a previsão de despesas com o seguro-desemprego aumentou R$ 3,783 bilhões.
Foto: José Cruz/Agência Brasil / Estadão Conteúdo

Que impacto o aumento da dívida terá no crescimento do País?

A questão do endividamento continua sendo um problema. A razão é simples: o Brasil tem pouca poupança. Nós precisamos da poupança externa para investir. Lá fora, um dos itens que os investidores olham é a tendência da dívida. Portanto, vamos ter de tratar, um pouco mais à frente, da estabilização da dívida e de transformá-la em uma curva descendente. Não precisa ser uma tendência muito forte. Até porque tem uma mudança hoje no Brasil que afeta muito a dívida pública, que é a taxa de juros real. Quanto menor o juro real, maior pode ser a relação entre dívida e PIB. Enquanto prevalecer essa política monetária (de juro baixo), temos um tempo para tratar a questão da dívida pública.

Os investidores serão mais condescendentes com dívidas elevadas, dado que elas estão aumentando globalmente?

Essa postura mais condescendente começará a mudar no ano que vem. O protocolo para lidar com a crise, tanto no Brasil como fora, é que, passada a epidemia, as economias estarão tão frágeis que será necessário outro pacote fiscal. Um pacote para colocar a economia na rota de crescimento. Todos os países farão isso. Os EUA aprovaram um pacote de US$ 3 trilhões para ser usado lá na frente. Teremos de fazer o mesmo. Se essa primeira rodada de déficit já mexe com a dívida, vamos ter outra rodada. Menor que essa, mas a dívida pode realmente ir para 100% do PIB. Essa segunda rodada não terá a condescendência que teve a primeira. O que vamos ter de fazer é um aumento de impostos para lidar com a curva da dívida.

Quais impostos será possível aumentar?

Esse aumento de imposto certamente vai ter uma característica diferente da nossa estrutura tributária. Deverá ser sobre ricos. A primeira coisa que vai sair é tributação de dividendo pago pelas empresas. Uma tributação maior para bancos também vai ser necessária. Talvez, finalmente, algum tipo de contribuição sobre movimentação financeira, mas com um limite mínimo para movimentações sobre a qual o imposto vai rescindir.

Alguns economistas falam de aumento no Imposto de Renda...

Já é alto no Brasil e pegaria muito a classe média. Dessa vez, tem de ser no capital. Até porque o argumento político é que boa parte do déficit foi feito para ajudar empresas, o que é verdade. Mas esse aumento tributário deve ser apenas por um período para mudar a tendência da curva da dívida.

Com o aumento da dívida, será possível manter a taxa de juros no atual patamar?

Como vamos ter recessão neste ano e um crescimento muito baixo ano que vem, dá para manter baixa. Vai subir um pouco, mas nada comparado ao que já tivemos.

Um ajuste fiscal também será necessário, no futuro, para mudar a trajetória da dívida?

Não tem como fazer isso. Como você inverte a curva? Com crescimento econômico. Não tem outro jeito.

Estadão
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