Sem encontrar emprego em sua área, economista abre empresa com R$ 300
Quando era estudante de economia, Wesley Garcia Gomes tinha o sonho de ser funcionário de uma grande multinacional, um daqueles que desfilam pomposamente com seu crachá durante a hora do almoço pelas ruas da capital paulista. O aluno da Universidade Mackenzie nem imaginava que viria a abrir uma empresa. Seu caminho tomou nova direção quando não conseguia o "emprego dos sonhos" e resolveu fazer uma viagem. A partir da premissa de que "para saber se um restaurante é limpo, é necessário conhecer o banheiro", a ideia para a empresa de Gomes nasceu.
Foi a falta do domínio da língua inglesa que fez com que o paulistano conseguisse apenas um estágio nos anos de graduação, justamente em um local onde teve contato direto com os microempresários, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O futuro empreendedor concluiu o curso e foi fazer uma viagem para a Austrália e a Nova Zelândia, onde aprendeu inglês. Mas na volta, a época de estágios já havia ficado para trás e, as empresas em que batia à porta, diziam que ele - com, então, 24 anos - possuía pouca experiência para um trabalho definitivo.
Gomes foi morar em Curitiba e conheceu um distribuidor de "dispenser" (dispositivo para liberar um produto, geralmente em doses ou quantidades pequenas ou uniformes) de fio-dental para banheiros e viu ali uma oportunidade. "Eu atormentei a vida dele (do distribuidor). Eu ia voltar para São Paulo, então peguei uma caixa e saí vendendo. Eu descia as ruas vendendo nos Jardins (bairro nobre de São Paulo) e em um mês vendi mais do que o rapaz responsável pela cidade vendeu em um ano", diz Gomes.
Com o sucesso das vendas, Gomes, chamou um sócio e decidiu abrir a empresa. A Wesco, que fornece produtos de higiene para banheiros com foco em restaurantes, bares e empresas, foi fundada em 2003 com R$ 300 pelo jovem recém-formado que montou a operação em seu próprio quarto. "O dinheiro inicial foi investido, principalmente, para comprar cartões de visitas e tirar cópias de contratos, porque a empresa era no meu quarto", diz.
Dificuldades
Gomes afirma que o início só foi possível ao abrir mão do lucro. "Eu estava morando com a minha vó. Tinha casa, comida, roupa lavada e mais nada, nem dinheiro para a cerveja eu tinha (risos). Deu para ir fazendo uma coisinha bem gradativa, por eu não ter despesas. Hoje, eu já não teria condições de abrir mão do sonho de um emprego tradicional, pois tenho contas para pagar".
Como tantos outros empreendimentos no País, no início a Wesco enfrentou dificuldades, principalmente, financeiras. "No começo de uma empresa, tudo depende de você, desde montar os boletos até a venda. Aqui (no Brasil) você precisa ter fôlego financeiro para abrir uma empresa, para se manter até o negócio engrenar. Além disso, a parte trabalhista é muito complicada, gerir é mais difícil do que ser gerido", afirma.
Conforme os clientes foram aumentando, os sócios da Wesco buscaram novos produtos para serem incorporados pela empresa. Além dos bares e restaurantes, os sócios também ampliaram o leque de vendas, incluindo empresas como possíveis clientes.
"Um banheiro limpo e que ofereça condições básicas aos usuários faz com que eles se sintam em casa. Com isso, o cliente fica mais à vontade para ficar mais tempo no bar, e, consequentemente gastar mais, e o funcionário rende mais", afirma Gomes. Além disso, uma das normas da companhia é sempre deixar os adesivos dos equipamentos com os contatos da Wesco em bom estado, já que o principal marketing é feito por pessoas que gostam da ideia e decidem ter os produtos em seus estabelecimentos.
Perspectivas
De acordo com Gomes, a Wesco atualmente busca se organizar melhor, já que o crescimento não foi dos mais planejados. "A minha meta é conseguir profissionalizar mais a Wesco, porque a coisa foi tudo acontecendo no susto. Óbvio que hoje está mais estruturada, mas ainda sinto falta de um pouco mais de profissionalismo".
Aos empreendedores iniciantes, ele dá a dica: "você precisa acreditar muito na coisa que está fazendo, pois vai ter que fazer praticamente tudo sozinho e se nem mesmo você acreditar que vai dar certo, não vai conseguir convencer mais ninguém." Além disso, o empresário argumenta que um empreendimento próprio traz benefícios, mas também mais responsabilidade aos donos. "Não caia na ilusão de que vai trabalhar menos. Isso é mentira, você vai trabalhar mais, porque se envolve totalmente naquilo".