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Reforma tributária testará força do Congresso

Regulamentação será decisiva para medir disposição do Congresso em assumir protagonismo das políticas públicas

23 abr 2024 - 09h31
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A aprovação da reforma tributária no ano passado coincide com um momento particular do País no qual, a cada dia, fica mais evidente a disputa entre dois sistemas de governo: o presidencialismo de coalizão, o qual o presidente Lula navegou com destreza; e o semipresidencialismo, que se impõe à medida que o Legislativo consolida seu fortalecimento.

Discutida há décadas, a reforma tributária simboliza não só a transição para um sistema mais justo e eficiente, mas também demonstra o que um Legislativo empoderado é capaz de fazer quando consegue impor sua agenda.

Protegidos pelas emendas impositivas e pelo domínio da pauta, deputados e senadores levaram à reboque o Executivo, governos estaduais, líderes e presidentes de partido, bem como os setores impactados pela reforma.

Não é pouca coisa e nos permite fazer um paralelo com a gênese do empoderamento do Congresso: a aprovação do Código Florestal. Foi a primeira vez em que o Executivo precisou ir ao Legislativo negociar um tema de alcance nacional fora dos restritos gabinetes do governo federal.

Reforma tributária ainda precisará ser regulamentada por leis complementares
Reforma tributária ainda precisará ser regulamentada por leis complementares
Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO / Estadão

O impacto da aprovação foi tão expressivo que o então presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, declarou à época: "Foi a noite dos meus sonhos para esta Casa: a controvérsia, o debate, as pessoas legítimas, o embate, o voto, a discussão, a votação, o Brasil real".

Essa nova realidade, contudo, ainda é um aprendizado para a sociedade. Por isso, a regulamentação da reforma será determinante para medir o quanto o Congresso está disposto a assumir o protagonismo das políticas públicas. E o Código Florestal, de novo, traz lições importantes.

Isso porque aquela lei remeteu apenas três trechos à regulamentação posterior pelo Executivo. O restante do texto abrange normas autoaplicáveis, isto é, que passam a valer na sua totalidade assim que promulgado.

Adotar o conceito das normas autoaplicáveis será fundamental para que o Legislativo se afirme na perspectiva do semipresidencialismo, já que a palavra final sobre as novas regras será efetivamente dele. Caberá ao Executivo tão somente executar, e ao Ministério Público garantir sua aplicação.

Os benefícios serão imensos: todos os aspectos regulatórios terão de ser analisados no Legislativo, tornando-os uma previsão de Estado, e não de governo.

Assim, o Congresso terá a chance de dar à reforma dois sinais importantes: o da vida real, de conferir maior segurança jurídica ao setor produtivo; e o da vida política, mostrando que está apto a assumir o protagonismo da agenda nacional.

Estadão
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