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Quarentena pode deixar distribuidoras com sobras de energia de até 13%, diz CCEE

3 abr 2020 - 15h31
(atualizado às 19h37)
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Quarentenas adotadas pelo país para impedir a propagação do coronavírus devem resultar em sobras de energia contratada para concessionárias de distribuição de eletricidade em um patamar de até 13%, uma vez que as medidas de isolamento reduzem significativamente o consumo, estimou nesta sexta-feira a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

20/02/2008. REUTERS/Paulo Whitaker
20/02/2008. REUTERS/Paulo Whitaker
Foto: Reuters

Pela regulação do setor, eventuais custos decorrentes de excesso de energia contratada podem ser repassados aos consumidores até um limite de 7%. A partir desse patamar, as sobras passam a poder gerar prejuízo para as concessionárias de distribuição.

"Cada mês de isolamento social ou quarentena implica em 0,8% de sobrecontratação das distribuidoras", disse o presidente do conselho da CCEE, Rui Altieri, em conferência com jornalistas.

Ele projetou ainda que a retração econômica decorrente das medidas contra o vírus também deve gerar por si só um aumento de mais 0,8% na sobrecontratação das empresas de distribuição.

Com isso, a CCEE estima que as distribuidoras de eletricidade podem encerrar 2020 com média 11% de sobrecontratação, caso as quarentenas durem um mês, ou até 13% caso essas medidas sigam em vigor por três meses.

Para reduzir eventuais perdas, as elétricas podem tentar vender os excedentes por meio de alguns mecanismos regulatórios ou liquidá-las no mercado spot de energia, pelo Preço de Liquidação das Diferenças (PLD).

O problema é que em um cenário de sobras generalizadas as vendas podem ser difíceis, enquanto o PLD deve ficar em valores mais baixos devido à maior oferta de energia no mercado decorrente dos impactos do vírus sobre a demanda.

Nesta semana, os preços spot caíram ao patamar mínimo permitido pela legislação devido à acentuada redução no consumo.

A CCEE projetou nesta sexta-feira que o PLD médio para a região Sudeste em 2020 deve ficar em 80,7 reais por megawatt-hora, ou 37% abaixo do cenário-base para o ano.

Desde o agravamento do coronavírus no Brasil, na semana iniciada em 19 de março, a CCEE tem visto uma redução média de 8% no consumo de energia, disse Altieri.

Ele apontou que a maior retração foi vista nas indústrias de veículos (-39%), têxtil (-32%) e de serviços (-31%).

Altieri destacou que os dados ainda mostram a indústria siderúrgica resiliente, com retração de apenas 2% na demanda, e que o segmento representa uma porção importante do total de energia consumida no mercado livre de eletricidade.

Produtores de aço no Brasil, no entanto, estão aos poucos cortando porções significativas de suas produções de aço bruto diante de um mercado que evaporou praticamente da noite para o dia após as medidas de restrição à circulação tomadas contra coronavírus.

APOIO A DISTRIBUIDORAS

O presidente do conselho da CCEE ainda confirmou que a instituição tem participado de conversas lideradas pelo governo sobre um possível apoio a distribuidoras de energia elétrica por meio de empréstimos.

O ministério de Minas e Energia realizou na véspera uma videoconferência com BNDES, Caixa e Banco do Brasil para discutir a eventual operação.

A reunião contou com participação da CCEE, que em 2014 e 2015 foi utilizada pelo governo como veículo para tomar empréstimos semelhantes sem afetar os níveis de endividamento das empresas de distribuição, em transação que ganhou o nome de "Conta ACR".

"Fala-se muito em uma Conta ACR 2. É uma solução que foi muito boa lá e tem tudo para ser muito boa agora", disse Altieri a jornalistas.

"Se a CCEE vai participar ou não, depende do ministério. Se formos chamados para operar uma eventual conta ACR, vamos fazer, com o mesmo empenho e a mesma competência", acrescentou.

Executivos de distribuidoras estimaram nesta sexta-feira que o setor precisaria de 15 bilhões a 17 bilhões de reais para superar as turbulências decorrentes do coronavírus, que incluem retração acentuada do consumo e expectativas de aumento da inadimplência.

O presidente da Energisa, Ricardo Botelho, defendeu ainda que, além de eventuais empréstimos, o apoio ao setor poderia envolver também recursos do Tesouro e de fundos setoriais.

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