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Política fiscal e monetária precisam andar juntas no próximo governo, dizem pesquisadores da FGV

Em seminário organizado pela instituição em parceria com o Estadão, economistas demonstram preocupações em relação à política econômica do governo Lula

8 dez 2022 - 15h29
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RIO - O próximo ano será desafiador para a economia, mas há dúvidas sobre como o novo governo do PT reagirá ao cenário, conforme economistas da Fundação Getulio Vargas (FGV). A contribuição externa para a atividade econômica no Brasil será menor, com vários países preocupados em combater a inflação elevada que se espalhou pelo mundo por causa dos desequilíbrios causados pela covid-19 e pela guerra na Ucrânia. E impulsos temporários ou atípicos, alguns associados à pandemia, não se repetirão.

O quadro foi desenhado nesta quinta-feira, 8, por pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre), que participaram de seminário transmitido pela internet, organizado em parceria com o Estadão. Os especialistas externaram preocupações em relação a como a política econômica do novo governo enfrentará os desafios.

"Acho que 2023 é desafiador porque, do ponto de vista cíclico, precisamos desacelerar", disse Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre.

Após a divulgação dos dados do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todo o valor gerado na economia) do terceiro trimestre, na semana passada, o FGV Ibre passou a projetar crescimento econômico de 3,0% neste ano. Só que, para 2023, a estimativa aponta para uma estagnação, com crescimento de apenas 0,2%.

O pesquisador Armando Castelar, também participante do seminário, afirmou ver nos sinais iniciais da equipe de transição de governo um viés favorável ao aumento da carga tributária. Especialmente se o ex-ministro e ex-prefeito Fernando Haddad for confirmado como ministro da Fazenda.

"Haddad tem feito discurso de aumentar imposto. Ele não fala isso, fala em reforma tributária, mas a prioridade para isso parece ser pelo aumento da carga", afirmou Castelar.

Inflação elevada

De acordo com Matos, o maior problema de uma política econômica sustentada no aumento indiscriminado de despesas do governo está relacionado à inflação elevada.

"Aqui, a preocupação é a inflação de serviços. E a inflação de serviços é componente relacionado a demanda doméstica", afirmou a pesquisadora, lembrando que a inflação dos preços de serviços giram em torno de 8% no acumulado em 12 meses, ante os cerca de 6% no IPCA agregado.

Por isso, disseram os pesquisadores do FGV Ibre, seria importante que, a partir de 2023, a política fiscal atuasse de forma combinada com a política monetária. Ou seja, que a dinâmica de despesas do governo não estimulasse a demanda excessivamente.

Caso a estratégia do novo governo do PT seja apenas aumentar os gastos, como o Banco Central (BC) tem se mantido firme na disposição de manter os juros elevados para conter a demanda e, assim, arrefecer a inflação, há o risco de o novo governo tentar fazer a economia crescer com estímulos, mas a política monetária seguir "com o freio de mão puxado", disse Senna.

Por isso, para Senna, que foi diretor do BC, o principal desafio da próxima gestão será "desfazer a ideia de que estão confiando, exclusivamente, no aumento de gastos" como elemento central da política econômica.

Estadão
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