'Nosso compromisso é repor mais de 100% de toda a água que consumimos', diz CEO da Coca-Cola
Para Luciana Batista, realização da COP-30 no Brasil é a chance de unir a agenda ambiental com a social e incluir as comunidades vulneráveis nas discussões sobre sustentabilidade
Para uma empresa de bebidas, a água, de um lado, e o uso de embalagens, de outro, são pontos críticos da cadeia de produção. Ainda mais em tempos de enfrentamento das mudanças climáticas globais.
No caso da gigante Coca-Cola, como explica Luciana Batista, presidente da empresa para o Brasil e Cone Sul, são temas absolutamente centrais (veja a íntegra da entrevista no vídeo acima).
"A água é o principal insumo dos nossos produtos. Portanto, garantir que os recursos hídricos sejam usados de forma responsável e devolvê-la para a natureza, além de garantir o acesso das comunidades à água que a gente consome na fabricação dos nossos produtos, é uma das nossas pautas prioritárias", diz ela.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
Para a Coca-Cola, o que é ser sustentável?
A sustentabilidade pode ser interpretada de formas diferentes para diferentes pessoas. Para alguns, ela está em garantir que o suco que oferecemos venha de uma agricultura responsável. Para outros, está em ter uma embalagem 100% reciclada. Por isso, investimos em entender o que é sustentabilidade para o consumidor. E não só para oferecer aquilo que ele busca, mas também para informar e ajudá-lo a fazer escolhas melhores ao longo do tempo.
A produção de bebidas está totalmente atrelada ao uso dos recursos hídricos. Como o grupo trata a questão da disponibilidade e qualidade da água em suas fábricas?
A água é o principal insumo dos nossos produtos. Portanto, garantir que os recursos hídricos sejam usados de forma responsável e devolvê-la para a natureza, além de garantir o acesso das comunidades à água que a gente consome na fabricação dos nossos produtos, é uma das nossas pautas prioritárias. E como a gente faz isso? Em primeiro lugar, temos o compromisso de repor mais de 100% de toda a água que consumimos. Isso é feito via projetos ambientais, efetivamente, que fomentam, por exemplo, técnicas agrícolas de menor consumo de água, reposição hídrica, recomposição de bacias e das matas no entorno de bacias hidrográficas.
Se, de um lado, a água é essencial no início da cadeia produtiva, do outro, no pós-consumo, tem a questão do uso do plástico e das embalagens. A Coca-Cola está preocupada com a redução dos resíduos sólidos no ambiente?
Essa também é uma agenda prioritária. Nossas ações estão sob o guarda-chuva da iniciativa que tem o nome global de World Without Waste. Quando a gente pensa em circularidade e gestão de resíduos, existe um conjunto de iniciativas relacionadas à redução do uso de plástico para as nossas embalagens. Um exemplo bem local é o da água Cristal, em que a gente, por meio de inovação e de estudos bem profundos sobre manuseabilidade da embalagem, consegue reduzir a quantidade de plástico usado em cada uma das próprias garrafas, no local, por exemplo, onde a pessoa segura o produto. A redução é considerável, e esse é apenas um dos múltiplos exemplos que a gente vem fazendo. Existe também a redução do tamanho de rótulos, em países que permitem. O segundo pilar envolve ações para gerar, de fato, menos embalagens no mercado. E, aqui no Brasil, temos o orgulho de ser uma companhia que tem 25% dos produtos sendo vendidos em embalagens reutilizáveis. Além disso, nossa relação com a reciclagem, com os catadores, é histórica, em todas as regiões do País onde atuamos.
E os gargalos para aumentar os números ainda pífios da reciclagem no Brasil estão sendo enfrentados? A ideia de remunerar o consumidor engajado, como ocorre em outros países, tende a dar certo por aqui?
Ter políticas de reciclagem passa por aliar governo, poder público, empresas e sociedade. Nos países onde ocorreu uma aceleração da reciclagem, existem políticas na base do processo, no sentido de tornar a prática mais institucionalizada. Aqui, cada vez mais, isso é algo que buscamos fazer. A forma como temos trazido esse incentivo ao consumidor aqui no Brasil, na prática, é dentro do produto retornável. Ele é mais barato do que aquele que não é retornável. É um incentivo embutido no produto. Entendemos que essa estratégia é a que torna mais fácil promover a retornabilidade. Alguns outros países preferem dar um incentivo para o retorno da garrafa vazia, que é um incentivo para a reciclagem, mas não necessariamente um incentivo para a retornabilidade, como é o caso da Alemanha, por exemplo, que é um país referência nesse incentivo. Então, também nos adaptamos ao contexto de cada país. No caso brasileiro, a retornabilidade é uma forma de a gente, inclusive, trazer uma atratividade financeira e entregar isso para o consumidor também na ponta.
Qual é o papel da Coca-Cola no debate sobre alimentação saudável e bebidas ultraprocessadas, temas que também estão atrelados ao bem-estar e à sustentabilidade?
Nos consideramos uma empresa total de bebidas. Nosso papel como líder da indústria de bebidas não alcoólicas é dar opções ao consumidor. Quem gosta do sabor da Coca-Cola, mas quer reduzir o consumo de açúcar, pode escolher a versão zero. Temos sucos com a marca Del Valle, água com a Crystal, isotônicos com Powerade, bebidas à base de soja com o AdeS. As escolhas devem estar nas mãos do consumidor, sempre com segurança e o sabor que nossa marca tem a obrigação de entregar.
Voltando para o tema ambiental, quais as suas expectativas para a COP-30, que será realizada no Brasil?
Como cidadã brasileira, ver a COP acontecer no Brasil, na Amazônia, gera uma conexão muito maior com o tema. Acredito muito no poder do diálogo, e espero que a COP seja um espaço onde governos, empresas, sociedade civil e instituições possam sentar à mesma mesa, escutar uns aos outros e evoluir em agendas comuns. Precisamos reduzir nosso impacto climático, e isso só acontece com escuta ativa e colaboração.
E como a Coca-Cola vai participar da conferência em Belém?
Queremos deixar um legado. Embora já estejamos na Amazônia há mais de 35 anos, estamos reforçando nossa atuação. Estamos investindo, por exemplo, na capacitação em inglês de pessoas que vão trabalhar com os visitantes da COP, por meio do Instituto Coca-Cola e em parceria com o governo do Pará. Também atuamos na agenda de reciclagem: vamos construir uma fábrica no Estado para aumentar as taxas de coleta e melhorar a logística, agregando valor ao material reciclado.
Além da reciclagem, há outras frentes de atuação?
Vamos investir também em cozinhas solidárias, em parceria com a Ação da Cidadania. Elas vão alimentar voluntários durante a COP, mas, mais importante, vão continuar operando depois, como um legado de combate à fome.
Qual é o principal simbolismo de a COP30 ser na Amazônia?
É a chance de unir de verdade a agenda ambiental com a social. Trazer a COP para a Amazônia destaca o quanto precisamos incluir as comunidades vulneráveis nessa conversa. Não se trata apenas de clima, mas de garantir um impacto positivo também para as pessoas que vivem nesses territórios.
Você se sente otimista em relação ao enfrentamento das mudanças climáticas?
Sim. Tenho orgulho do que estamos fazendo. Acredito que a COP pode ter um impacto global importante, mas também local. E esse equilíbrio entre escala e enraizamento é o que vai fazer a diferença. E temos que ver também que empresas com uma escala global, como é o caso da Coca-Cola, têm uma responsabilidade, inclusive, de promover o ambiente de negócios que queremos ver no futuro. A mudança que queremos nunca é fácil. E sempre tem a questão daquilo que você consegue fazer mais ou menos rápido. E do contexto dos negócios que te permite evoluir. Mas é uma agenda inegociável. Na nossa visão, sempre falamos da palavra crescimento ao lado do termo sustentável.
E a eterna polêmica: Coca-Cola de vidro é mais gostosa?
(Risos) É o que dizem! Tanto que temos até uma campanha sobre isso. Se é a sua preferida, ótimo! Inclusive, a garrafa de vidro é nossa embalagem mais reutilizável e, por isso, uma escolha mais sustentável também.