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Eleições e Copa do Mundo impactarão a agenda econômica no Brasil em 2026

Em um contexto geopolítico de tantas incertezas, o que esperar da economia em 2026? Com o mundo ainda sob o impacto da gestão agressiva do presidente Donald Trump, reconfigurando suas antigas alianças, o aumento do protecionismo e a ameaça das guerras levam o crescimento mundial a continuar fraco, antecipa o FMI. No Brasil, a perspectiva de eleições embaralha ainda mais as cartas. Mesmo assim, há razões para otimismo.

24 dez 2025 - 12h36
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Lúcia Müzell, da RFI em Paris

Segundo o Fundo Monetário Internacional, o crescimento do PIB mundial em 2026 será quase o mesmo que em 2025: 3,1%. As tarifas comerciais mais elevadas, a instabilidade das políticas econômicas, a começar pelos Estados Unidos, e os conflitos geopolíticos impactam no comércio e nos investimentos, aponta também a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

"Será, acima de tudo, um ano de surpresas, porque assim é o governo americano. Muitas coisas podem acontecer, desde as mais assustadoras até as mais pitorescas", observa Jorge Arbache, professor de Economia da Universidade de Brasília e ex-economista sênior do Banco Mundial.

"É possível que o que está aí se aprofunde e a gente tenha uma ainda maior polarização em nível global. E, para um país como o Brasil, que procura manter uma certa neutralidade política e econômica, vai exigir, num ano de eleições, um certo malabarismo para não elevar tensões ou não criar dificuldades num ambiente muito frágil e sensível. O país, obviamente, vai adiar grandes decisões, esperando um novo governo - qualquer que seja ele", afirma Arbache.

Impacto das eleições e da Copa do Mundo

"A gente fala que é um ano mais curto porque tem eleições e também a Copa do Mundo, que é algo muito importante no Brasil", lembra ainda a economista Patricia Krause, especialista na economia da América Latina da Coface, líder mundial de seguro de crédito. "A agenda no Congresso fica reduzida e, no segundo semestre, tudo fica mais focado nas eleições. Elas podem trazer sempre alguma volatilidade cambial - e câmbio é a pior variável que tem para tentar fazer previsões", frisa.

No ano que passou, a desigualdade caiu ao menor índice em 10 anos no Brasil, e o país atingiu o pleno emprego. No segundo semestre, o crescimento econômico desacelerou, o que era esperado há meses pela maioria dos especialistas, preocupados com a inflação.

"A economia brasileira, de modo geral, tem surpreendido para cima nos últimos anos, com crescimento mais resiliente do que esperado e os economistas revisando para cima as projeções. E este ano, de fato, ocorreu essa desaceleração do crescimento que há muito era esperada", indica Patricia Krause.

Queda dos juros?

Com uma taxa Selic de 15% ao ano, num contexto de inflação de 4,5%, a projeção de crescimento da Coface para 2026 é de 1,9%. Mas a perspectiva agora é de queda da inflação. "Com isso, a grande questão é a esperança de que o Banco Central brasileiro comece a reduzir juros no começo do próximo ano", salienta Krause.

Ano eleitoral costuma ser sinônimo de aumento de gastos - e, no caso do Brasil, este é um dos aspectos mais delicados que ficam de 2025 para 2026. A situação das contas públicas se deteriora ano após ano e o descontrole fiscal é hoje a maior preocupação da economia do país, com o déficit e a dívida pública em curva ascendente.

A alta da taxa de juros, aplicada pelo Banco Central para controlar o aumento dos preços, joga ainda mais lenha nesta fogueira, ao corroer a fraca margem de manobra dos gastos do governo federal. Se nada for feito, o orçamento tende a ficar cada vez mais estrangulado, com o peso das despesas em saúde e previdência também em crescimento.

"O aumento significativo dos gastos já está contratado. Ele não vai nos surpreender", adverte o professor da UnB, que foi secretário para Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento. "Hoje, 95% dos gastos públicos são praticamente definidos. O espaço de manobra efetivo é muito menor do que as pessoas imaginam."

Brasil em posição favorável no mundo

O economista pondera, entretanto, que, do ponto de vista relativo, o Brasil hoje está melhor em relação à maioria dos outros países, inclusive as potências. "Não que o Brasil tenha feito o dever de casa, mas porque o mundo piorou. Fazer negócios hoje nos Estados Unidos é muito mais arriscado do que no Brasil", diz Arbache. "Muita coisa tem mudado também na Europa, e a guerra cria uma insegurança brutal. O mundo hoje não está para peixe, e do ponto de vista relativo, o Brasil está melhor."

Os dois economistas avaliam que, em meio à guerra comercial de Donald Trump contra os antigos parceiros, o Brasil demonstrou resiliência. "O fato de o Brasil ser uma economia ainda muito fechada ao comércio nesse momento acabou ajudando. Isso não é algo positivo, mas neste momento em que o comércio internacional preocupa, você está menos exposto", sublinha a especialista da Coface. "Teve queda nas exportações para os Estados Unidos, porém o Brasil conseguiu aumentar vendas para outros mercados. Isso foi, de certa forma, algo positivo."

No plano interno, a aprovação das reformas fiscal e tributária trouxe avanços. O arcabouço legal relativo à economia verde, com um imenso potencial para o Brasil, coloca o país na rota de investimentos em setores como energia renovável, mercado de carbono e combustíveis limpos. Em 2025, o Brasil demonstrou que entendeu qual é o seu lugar nesta promissora economia, constata Jorge Arbache.

"Eu acho que não existe outra estratégia para o país, do ponto de vista econômico e de desenvolvimento. É essa ou nenhuma", destaca. "Não só a capacidade de atração de investimentos no âmbito do powershoring, mas também aquilo que é pertinente aos minerais críticos para a transição e às terras raras, que vêm atraindo uma crescente atenção, especialmente da Europa, dos Estados Unidos e da China. Muita coisa deverá se passar nos próximos meses e anos. Esse caminho é sem volta."

Acordo UE-Mercosul 

Neste ponto, o economista chama a atenção para as falhas do acordo comercial negociado entre a União Europeia e o Mercosul, que esteve prestes a ser ratificado em 2025. Travado devido a resistências na questão agrícola, o texto sequer aborda o potencial de cooperação na área da transição energética. Os europeus deixam passar a oportunidade de serem parceiros privilegiados dos países latino-americanos neste comércio.

"O maior ganho, para a Europa, nem está nas manufaturas. Eu acho que é tudo aquilo que tem a ver com a abertura de novas fronteiras e possibilidades de negócios para ajudar a solucionar muitos dos mais graves problemas econômicos que a Europa tem, associados à energia e à produção de vários produtos manufaturados e insumos a custos muito menores, fundamentais para dar maior competitividade para a própria indústria europeia", explica. "Essas coisas passam ao largo do acordo atual."

Ainda na área de energia, mas também das commodities, as perspectivas são positivas. "A gente tem uma produção de petróleo em alta e pode ter um ano importante, em termos de volume. A estimativa de safra indica recorde, além de uma demanda por proteína aquecida", antecipa Patricia Krause. "Eu diria que o canal de exportação e também um consumo resiliente podem trazer alguma sustentação para o PIB brasileiro no próximo ano."

RFI A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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