Classificação oculta: Receita coloca empresas na mira da fiscalização sem aviso prévio
Notas do Programa Sintonia estão sendo atribuídas sem que as empresas tenham conhecimento ou possam se defender
Empresas têm sido avaliadas pela Receita Federal por meio de um mecanismo chamado "classificação oculta" no Programa Sintonia, sem acesso prévio às notas ou possibilidade de defesa, gerando preocupações operacionais e reputacionais.
Recentemente, diversos empresários e especialistas em compliance tributário têm manifestado preocupação com um novo mecanismo utilizado pela Receita Federal do Brasil, conhecido como “classificação oculta”. Trata-se de um processo interno da Receita, pelo qual certas empresas são atribuídas notas no chamado Programa Sintonia, sem que os contribuintes tenham acesso prévio ou conhecimento dessas avaliações. Essa prática pode trazer impactos significativos, tanto do ponto de vista operacional quanto reputacional, especialmente para empresas de médio e grande porte.
O Programa Sintonia é uma iniciativa da Receita Federal criada para melhorar a eficiência das fiscalizações, utilizando uma série de indicadores e dados extraídos do cruzamento de informações fiscais, contábeis e bancárias das empresas. A partir desses dados, a Receita atribui notas que refletem, em resumo, o nível de risco fiscal de cada contribuinte. Contudo, essas notas não são divulgadas oficialmente para as empresas avaliadas, o que configura a chamada “classificação oculta”.
O problema central dessa metodologia é a ausência de transparência e de possibilidade de defesa prévia. Empresas que recebam notas consideradas desfavoráveis podem ser incluídas automaticamente no radar da fiscalização, sem qualquer aviso ou oportunidade de esclarecer possíveis inconsistências antes do início das ações fiscais. Isso pode causar prejuízos operacionais, como interrupções nas atividades, retenções indevidas de créditos tributários e até mesmo a necessidade de provisionamentos para possíveis contingências tributárias.
Além disso, há o risco reputacional, uma vez que a inclusão em programas de fiscalização intensa pode ser interpretada por parceiros, clientes e mercado como indicativo de irregularidades fiscais, mesmo que a empresa ainda esteja em processo de análise ou contestações. O impacto negativo na imagem corporativa pode repercutir em contratos, financiamentos e negociações comerciais.
Especialistas recomendam que as empresas ampliem seus investimentos em controles internos, auditorias e compliance tributário para monitorar de forma constante os seus indicadores fiscais e financeiros. A adoção de práticas proativas pode ajudar a identificar eventuais desvios ou inconsistências que poderiam levar a uma classificação negativa no Programa Sintonia.
A classificação oculta da Receita Federal representa um desafio para as empresas brasileiras, exigindo maior atenção e preparação para lidar com um ambiente fiscal cada vez mais tecnológico e automatizado. A transparência e a possibilidade de contestação são reivindicações crescentes do setor empresarial frente a esse modelo, buscando garantir segurança jurídica e equilíbrio nas relações entre fisco e contribuintes.
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