Mercado no Brasil não está maduro o suficiente para investimentos verdes, diz diretor da CNP
Com meta e apetite por investimentos sustentáveis no País, a seguradora francesa diz que enfrenta dificuldades para alocar
A CNP Assurances, terceiro maior grupo segurador do Brasil, está em busca de investimentos sustentáveis no País. Existe tanto um apetite quanto uma meta a ser cumprida, seguindo diretrizes da matriz francesa, que tem como alvo global € 30 bilhões sob gestão em investimentos "verdes" até o fim do ano. No entanto, para a contribuição brasileira, há um problema: está difícil encontrar ativos verdadeiramente sustentáveis por aqui.
"O mercado (brasileiro de investimentos) não está maduro o suficiente, existe uma dificuldade dos gestores em realmente conseguir se dedicar a uma exclusão total do greenwashing (falsa sustentabilidade), e não há regras claras, tendo em vista a evolução tardia da taxonomia local", afirmou André Mourão, diretor de Investimentos da CNP Assurances América Latina, em entrevista ao Estadão/Broadcast.
Ele menciona, ainda, a desaceleração global do interesse em sustentabilidade após a "eleição de governantes menos interessados". "Mas continuamos firmes. Não trabalhamos com 'modismos', estamos aqui para o longo prazo."
Segundo Mourão, a CNP já tem um longo histórico de investimentos socioambientais, com a França mais madura no assunto. Por lá, há três grandes pilares: energia renovável, florestas e envelhecimento com qualidade.
No entanto, replicar o modelo na América Latina é mais desafiador, não pelo alinhamento com os pontos, mas pelas restrições no campo da oferta de ativos elegíveis, avalia o executivo. Considerando todas as empresas da CNP na região, a meta é ter 5% de alocação em ativos sustentáveis.
Atualmente há mais de meio bilhão de reais alocado em fundos de investimento sustentável (IS) no Brasil. Os fundos de crédito privado representam a maior fatia, com uma posição próxima a R$ 400 milhões, por conta da maior oferta. "Não são os ativos mais sustentáveis, mas são os que geram para instituições financeiras uma maior possibilidade de alocação tendo em vista esse perfil de oferta", observa Mourão.
Ele conta também ter alocação em torno de R$ 120 milhões em dívida soberana, R$ 31 milhões em ações e R$ 55 milhões em private equity (capital privado) — este último considerado na classe que gera mais impacto.
"Conseguimos observar claramente a ligação entre o investimento, os impactos promovidos e os resultados financeiros acima da média", afirma Mourão, destacando a parceria com a Rise Ventures, gestora com a qual já tem um primeiro fundo investido — com a fintech Jeitto como principal nome do portfólio — e um segundo em processo de criação, focado em clima e biomas brasileiros — e que já investiu na agtech Solinftec.
"Nosso grande objetivo é estimular o mercado, não só as instituições bancárias e gestoras de recursos, mas também nossos pares a buscar alternativas que realmente apresentam impacto e possam fazer a diferença nos investimentos sustentáveis, assim evitando greenwashing", afirma Mourão. Ele acrescenta que há também busca por maior aproximação de órgãos regulatórios e melhores discussões sobre a taxonomia sustentável brasileira — que ele acredita que vai trazer uma visão mais clara sobre o tema.
O executivo destaca que a CNP atua especialmente entre gestores para o desenvolvimento de produtos, instituindo o Second Party Opinion (SPO) para capitanear a gestão dos fundos a partir dos resultados de auditorias internas.
"Temos conseguido melhorar as alocações vigentes, e o próprio mercado tem percebido mudanças. Nos buscam com bastante frequência pelos pares que buscam desenvolver novas estratégias ESG", diz Mourão. "Não vemos como competição, mas oportunidade para um mercado mais maduro e com melhor oferta de produtos."