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Investidores ambientais costumam superestimar os riscos no Brasil, diz fundadora da Converge Capital

Para Marina Cançado, capital tende a ir para soluções mais maduras, como energia e transporte renováveis, mas essas soluções representam apenas 35% do que o planeta precisa

31 out 2025 - 11h11
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Dinheiro para maturar setores importantes no enfrentamento da crise climática. Eis um legado que a COP-30 poderá deixar, na avaliação da administradora Marina Cançado, fundadora da gestora de recursos Converge Capital. As principais decisões já estão tomadas; por isso, a atual COP precisa realmente ser o evento da implementação, diz.

Antes mesmo dos debates em Belém, a cidade de São Paulo receberá, no dia 8 de novembro, o Climate Implementation Summit, fórum internacional que reunirá mais de 750 CEOs, investidores, filantropos, organizações multilaterais e representantes governamentais, às vésperas da COP-30.

O evento, organizado pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS), Climate Action e Converge Capital, integra a programação da Climate Action Innovation Zone (de 6 a 8 de novembro) e tem como objetivo demonstrar o compromisso do setor privado com a implementação de soluções transformadoras para o clima e a natureza — mostrando que a transição climática é uma realidade em construção, não apenas uma promessa.

O capital, explica Marina, tende a ir para soluções mais maduras, como energia e transporte renováveis. Mas essas soluções representam apenas 35% do que o planeta precisa. "Os outros 65% ainda precisam atingir escala competitiva, incluindo a transição do agronegócio, sistemas alimentares, soluções baseadas na natureza e indústria verde", afirma a executiva — processo que, segundo ela, a COP pode ajudar a acelerar.

A seguir, os principais trechos da entrevista, cuja íntegra pode ser vista no vídeo acima.

Até que ponto o Brasil está realmente embarcando no bonde da história da transição energética? Será que estamos perdendo essa oportunidade de sermos protagonistas nesse setor?

Antes de entrar no momento presente, vale a pena fazer uma retrospectiva. As COPs nasceram aqui mesmo no Brasil, em 1992 (Rio-92), com a conferência que cunhou o termo "desenvolvimento sustentável" e determinou que os países deveriam se reunir anualmente para debater o clima — um tema sem fronteiras. Depois de 30 anos de negociações, que levaram a grandes acordos, como o Acordo de Paris, em 2015, chegamos agora à COP-30, de volta ao Brasil, mais de 30 anos depois. Esta COP é uma grande virada de chave. Por quê? Porque a maior parte das negociações já ocorreu. O grosso, que era o consenso de que os países precisam reduzir suas emissões para conter o aumento da temperatura, já foi definido.

Neste ano, na COP, os países apresentarão novas metas de redução de emissões, que guiarão estratégias até 2035. A mensagem central é a da implementação: já sabemos o que fazer, agora precisamos agir. Isso é uma oportunidade perfeita para o Brasil, que é protagonista em soluções para clima e natureza, mostrar seus casos.

A sua avaliação é que o trabalho, no País, é bom?

O Brasil tem feito um bom trabalho, que começou no ano passado com o G-20 e o B-20 no País. Esses movimentos ajudaram a organizar o setor privado em grupos de trabalho, incluindo o grupo de finanças, do qual participo. Nosso objetivo foi coletar soluções brasileiras e internacionais nas seis agendas de ação climática estabelecidas pela presidência da COP.

A SB COP, criada para organizar lideranças de negócios, fez um trabalho maravilhoso de coletar milhares de soluções. O Climate Implementation Summit, que organizo com diversas organizações, terá um dia focado em mostrar soluções transformadoras, muitas delas brasileiras, no dia 8 de novembro. A participação brasileira em eventos como Davos, Semana do Clima de Londres e Nova York tem sido significativa, mostrando nossas soluções para o mundo. Vale lembrar que a presidência brasileira da COP-30 vai até novembro do ano que vem, então ainda temos um ano de trabalho para que o setor privado traga soluções para a agenda climática, porque, no fim, quem vai entregar a redução das emissões e as soluções escaláveis é o setor privado.

Ou seja, o setor privado já virou a chave em relação à sustentabilidade? E quando você menciona soluções palpáveis, quais são elas?

Vou começar com números. De 2020 a 2023, triplicamos os investimentos em soluções para clima e natureza. Em 2023, atingimos US$ 1,9 trilhão em investimentos públicos e privados — dois terços do total, privados. Na América Latina, apenas cerca de US$ 100 bilhões desses investimentos ficaram aqui. O capital tende a ir para soluções mais maduras, como energia e transporte renováveis. Mas essas soluções representam apenas 35% do que precisamos. Os outros 65% ainda precisam atingir escala competitiva, incluindo a transição do agronegócio, sistemas alimentares, soluções baseadas na natureza e indústria verde.

Para maturar essas soluções, precisamos combinar capitais: bancos de desenvolvimento, (instituições) multilaterais como o IFC e o Green Climate Fund, e capital catalítico filantrópico. É um desafio trazer capital brasileiro e internacional que esteja disposto a correr mais risco e ajudar a maturar essas soluções.

Isso pode ser um legado da COP?

Sem dúvida. O Brasil precisa mobilizar capital interno e também internacional. Mas, muitas vezes, investidores internacionais têm um conhecimento limitado sobre o Brasil e suas soluções, o que leva à superestimação do risco. A COP ajuda a reduzir essa assimetria, trazendo mais capital e parcerias.

Falando dessas outras áreas que ainda precisam maturar — como recuperação de áreas degradadas, agro e soluções baseadas na natureza —, quais estão mais perto de virar realidade?

Além de energia e combustíveis sustentáveis, vemos muito progresso em soluções baseadas na natureza, agro e resíduos. Em soluções baseadas na natureza, falamos de restauração florestal, conservação, técnicas regenerativas e bioeconomia florestal. Desde 2022, os negócios amadureceram rapidamente. Estou envolvida com a Capital for Climate, que busca mobilizar US$ 5 bilhões em investimentos até a COP-30. Há três anos, as captações eram de US$ 5 milhões a US$ 10 milhões; hoje chegam a US$ 30 milhões a US$ 50 milhões.

Empreendedores de outros setores estão entrando nesse mercado, e grandes empresas do agro estão abrindo verticais relacionadas às soluções baseadas na natureza. No agro, vemos avanços em bioinsumos e no uso de resíduos para gerar biometano, criando ciclos de energia sustentáveis. Também estamos explorando o uso de biocombustível produzido em áreas degradadas para o setor marítimo, garantindo que não haja competição com a produção de alimentos.

E sobre o contexto geopolítico conturbado, isso ajuda ou atrapalha o Brasil a ser uma potência verde?

É difícil generalizar, mas há consequências positivas. Investidores, principalmente family offices, estão agora mais atentos à América Latina, incluindo Brasil e México. O Brasil passa a ser visto como parceiro resiliente, e essas alianças Sul-Sul, com Índia e África, são importantes. Apesar dos desafios, os brasileiros têm histórico de transformar adversidades em oportunidades.

Existe um apetite ao risco desses investidores no Brasil?

Sim. Participo da rede CREO Syndicate, que tem papel catalítico. O capital de family offices é flexível, intencional e de longo prazo. Eles podem assumir mais risco para depois catalisar investimentos maiores de bancos de desenvolvimento e outros investidores institucionais. A meta da CREO é investir US$ 100 bilhões até 2027, estimulando o resto do mercado. Esse papel é essencial para financiar os 65% de soluções que ainda não maturaram.

O agro, portanto, continuará sendo protagonista?

Exato. O agro é segurança energética e alimentar. Ao adotar práticas sustentáveis e regenerativas, torna-se mais resiliente frente às mudanças climáticas. Grandes empresas e startups estão promovendo produtividade, eficiência e melhor uso de recursos. A narrativa da sustentabilidade mudou: não é mais custo ou sacrifício, é produtividade, inovação e prosperidade.

Você está otimista com essa COP, em termos de legados que poderão ser deixados para os negócios e para o setor privado no Brasil?

Estou otimista. Esta COP representa uma virada de chave: saímos de negociações muitas vezes impotentes para um momento em que o setor privado tem protagonismo. O relatório Planetary Health Check mostra que sete das nove variáveis que definem a estabilidade do planeta foram ultrapassadas. A ação precisa vir do setor privado, que possui know-how e soluções escaláveis. Se colocarmos talento e expertise para atuar, podemos transformar a próxima década em algo muito melhor para o planeta — e para os negócios.

Estadão
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