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Honda completa 50 anos nos Estados Unidos

11 jul 2009 - 14h05
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Após 50 anos nos Estados Unidos, o nome Honda se mesclou à cultura ao lado de Sony, Nestlé e Adidas, outras marcas estrangeiras agora abraçadas como fornecedores confiáveis de produtos de alta qualidade e bem concebidos. Isso é uma conquista digna de nota para uma empresa que construiu seu nome vendendo miúdas motocicletas revestidas de plástico enquanto Detroit produzia suas baleias mais ostentosas.

Para uma ampla faixa de consumidores americanos, a Honda - uma marca usada não apenas em carros e motocicletas, mas também em geradores, cortadores de grama e qualquer outra coisa que o maior fabricante de motores pudesse ligar - é a produtora de coisa boa e despretensiosa a preços acessíveis. Normalmente sem estilo brilhante ou distinto, pode-se dizer que os produtos Honda definem a liderança do trivial.

É uma posição incomum para uma companhia que, se cumprisse com as ardilosas tradições de negócio japonesas e desse importância ao Ministério de Comércio Internacional e Indústria, estaria na obscuridade produzindo anéis de pistão.

"Quando você olha para como a Honda surgiu, basicamente diziam que ela não poderia entrar no negócio de motocicletas", disse John Mendel, vice-presidente-executivo para vendas automotivas da Honda americana. "E que ela não poderia entrar no negócio automotivo. Mas ela foi contra todas essas coisas."

Esse traço rebelde remonta ao fundador da empresa, Soichiro Honda, o filho mais velho de um ferreiro. Nascido em 1906, Honda foi aprendiz em oficinas automotivas antes de abrir sua própria em Hamamatsu, Japão, em 1928. Em uma entrevista de 1964 para a Newsweek, Honda disse que o negócio "ficou conhecido como uma mecânica extravagante, por causa de minhas gueixas e travessuras".

Gueixas à parte, a paixão de Honda era a corrida. Ele colocou um imenso motor de avião Curtiss-Wright V-8 no chassi de um carro e o usou para estabelecer um novo recorde de velocidade japonês. Seus dias de competição terminaram em um acidente em 1936; ele prometeu à sua mulher que pararia de correr e se concentraria nos negócios.

Essa concentração levou, em 1937, à criação de sua fábrica de anéis de pistão (que fornecia para a Toyota, entre outras montadoras). A fábrica foi destruída na Segunda Guerra Mundial, mas Honda, cujo único ativo era entulho, se reergueu para abrir o Instituto de Pesquisa Técnica Honda em 1946. Ele começou experimentos com motores pequenos e, após dois anos, adquiriu motores de gerador de 50 cc excedentes da guerra e os instalou em bicicletas.

As bicicletas motorizadas foram um sucesso, fazendo Honda reorganizar suas operações como Companhia de Motores Honda Ltda. e iniciar o desenvolvimento da Dream D-Type em 1949, a primeira verdadeira motocicleta Honda.

Em 1952, Honda montava motores de quatro tempos eficientes e relativamente silenciosos e, em 1954, Soichiro Honda visitou a célebre corrida de motocicletas TT da Ilha de Man, Reino Unido, com planos de conquistar o troféu.

Sabendo que as oportunidades de crescimento de sua companhia no Japão eram limitadas por não fazer parte dos grandes conluios comerciais, Honda decidiu priorizar o desafio mais difícil para exportações: os Estados Unidos. Começando com uma loja em Pico Boulevard, Los Angeles, a Honda americana chegou ao país com motocicletas pequenas que pareciam inadequadas às preferências prevalecentes. Afinal, a maioria das motos disponíveis era de Harley-Davidson ou as britânicas Triumph e Norton, com algumas poucas Moto Guzzi e Ducati da Itália.

Havia também uma questão de opinião pública: a dedicação exigida para a manutenção das motos na época limitava a compra a um grupo relativamente pequeno, normalmente visto como jovens com jaquetas de couro pretas e comportamento raivoso.

Assim, Honda atacou com gentileza. As maiores motos Honda, Dream e Benly, não podiam competir com as alternativas britânicas, mas a Super Cub (chamada de Honda 50 na América em homenagem à marca Piper Aircraft) enfrentaria pouca competição.

Com seu quadro rebaixado e painéis de plástico, a Honda 50 pareceria um brinquedo aos desajustados sociais. Seu silencioso motor de quatro tempos 49 cc gerava um modesto desempenho de 4,5 cavalos-vapor.

Esse era um produto para o qual Honda conseguiria recrutar revendedores; em 1961, havia 500 espalhados pelo país vendendo a moto de US$ 249. E Honda teve o apoio de uma inteligente campanha publicitária montada em torno do slogan: "Você conhece as pessoas mais gentis em um Honda". De repente, o motociclismo se tornou algo atual e divertido ao invés de uma ameaça da marginalidade.

Em 1964, quando a banda Hondells lançou seu single de sucesso "Little Honda" (composto por Brian Wilson e Mike Love do Beach Boys), a Honda 50 era um ícone e seu fabricante estava consolidado na América, vendendo mais de 100 mil motocicletas por mês ao redor do mundo. Mais de 60 milhões foram fabricadas ao todo e a moto continua em produção em quatro continentes.

Tendo conquistado muitos campeonatos de corrida de motocicletas, a Honda se sentia pronta para construir carros. No entanto, havia empecilhos: o Ministério de Comércio americano tinha uma legislação pendente para impedir qualquer nova empresa japonesa de entrar na produção automobilística; os cartéis existentes tinham efetivamente tomado a distribuição doméstica; e a Honda não sabia como produzir carros.

Mesmo assim, Honda direcionou a empresa para projetar pequenos carros esportivos e dedicou seus recursos de engenharia para desenvolver carros de Fórmula 1. Em 1963, a empresa construiu 136 unidades de sua primeira produção de quatro rodas, o pequeníssimo carro esportivo S500, equipado com um motor 531 cc de quatro cilindros e transmissão por corrente às rodas traseiras.

E, em 1964, o carro de corrida Honda RA271 de Fórmula 1 fez sua estreia no Grande Prêmio da Alemanha, equipado com um motor V-12 de 1,5 l, montado transversalmente, que gritava a 12 mil rpm, algo sem precedentes. Em outubro de 1965, Richie Ginther deu à Honda sua primeira vitória na Fórmula 1, ao vencer o Grande Prêmio do México.

Mudanças de regra tornaram os carros de 1,5 l da Honda obsoletos em 1966, e a montadora voltou novamente sua atenção às motocicletas e à sua entrada no mercado automotivo. O resultado foram dois produtos embrionários em 1969: a motocicleta avançada CB750 e o sedã 600. A CB750 redefiniu o mercado de motocicletas pesadas enquanto o sedã 600 se tornou o primeiro carro a ser oficialmente exportado pela Honda aos EUA.

O sedã 600 de dois cilindros, seguido do cupê 600 de 1971, não resultou em muitas vendas, mas ambos ajudaram a estabelecer a rede de concessionárias de automóveis da Honda na América e prepararam terreno para o mais refinado Civic de quatro cilindros, que chegou em 1973, justamente quando a OPEP diminuía o fornecimento de petróleo.

Essa fortuita sincronia de acontecimentos resultou no sucesso tremendo do Civic, e a Honda deu seguimento a isso em 1976, com o maior e ainda mais bem-sucedido Accord.

A partir de então, a presença da Honda na América se expandiu exponencialmente. Em 1979, a montadora seguiu sua rival Kawasaki e abriu uma fábrica nos EUA para construir motocicletas. Em 1982, a Honda abriu sua segunda montadora junto à fábrica de motocicletas em Marysville, Ohio, e passou a produzir Accords. Em 1984, a empresa já produzia cortadores de grama na Carolina do Norte e abria seu primeiro centro de pesquisa americano na Califórnia. Dois anos depois, a Honda iniciou a Acura, a primeira divisão de luxo japonesa.

Quando Soichiro Honda morreu em 1991, a empresa fundada por ele já dominava as corridas ao redor do mundo, seu Accord havia sido o carro mais vendido dos EUA e a montadora produzia o Acura NSX, considerado pela Motor Trend como "o melhor carro esportivo que o mundo já produziu. A qualquer hora. Em qualquer lugar. A qualquer preço".

A Honda tomou algumas decisões estúpidas ao longo dos anos. Mas as inovações de engenharia, como o projeto do motor de Combustão Controlada de Vórtice Composto dos anos 1970, ajudaram a estabelecer a Honda como líder em engenharia. O projeto cumpria com as regulações federais de emissões de gases sem a necessidade de um conversor catalítico - algo que os concorrentes afirmavam não ser possível. Seu comprometimento pioneiro com o desenvolvimento e a construção de produtos nos locais em que eram vendidos se tornou um procedimento operacional padrão para rivais como Toyota, Nissan, Mercedes-Benz e BMW. E o futuro da montadora inclui robótica e a aeronave de negócios HondaJet de US$ 3,65 milhões.

Não é provável que os produtos da Honda apareçam nos gramados de um concurso de elegância de automóveis, a menos que eles estejam lá para cortar a grama. Eles são companheiros do nosso dia-a-dia que passam despercebidos, não são itens de coleção, mas são persistentes, confortavelmente familiares e geralmente confiáveis. Eles podem não ser clássicos, mas ganharam certa afeição.

Fonte: Invertia Invertia
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