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Por que Paris está repleta de lixo

O acúmulo de lixo nas ruas da capital francesa vem ocorrendo desde que garis entraram em greve, no início de março, contra mudanças nas regras de aposentadoria. Nova paralisação geral contra reforma das aposentadorias está prevista para terça-feira (28/3)

26 mar 2023 - 13h11
(atualizado em 27/3/2023 às 06h02)
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Nova paralisação geral contra reforma das aposentadorias está prevista para terça-feira (28/3)
Nova paralisação geral contra reforma das aposentadorias está prevista para terça-feira (28/3)
Foto: REMON HAAZEN/ZUMA PRESS WIRE/REX/SHUTTERSTOCK / BBC News Brasil

Imagens de ruas em Paris repletas de lixo viraram cena comum nas últimas semanas. Moradores relatam que a situação atrai ratos, aumentando o receio de um problema de saúde pública.

O acúmulo de lixo nas ruas da capital francesa vem ocorrendo desde que garis entraram em greve, no início de março, contra mudanças nas regras de aposentadoria.

A greve nacional envolve várias outras categorias e já atingiu aeroportos, escolas e refinarias de petróleo da França. Os trabalhadores protestam contra o aumento da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos defendido pelo governo de Emmanuel Macron.

Para os agentes de limpeza pública, a reforma da Previdência prevê que a idade mínima para a aposentadoria passe de 57 para 59 anos. (Veja abaixo mais detalhes sobre as mudanças nas regras de aposentadoria)

Em alguns desses atos que revelam indignação popular com o plano do governo, manifestantes atearam fogo em pilhas de lixo acumuladas nos dias anteriores.

Acúmulo de lixo nas ruas da capital francesa vem ocorrendo desde que garis entraram em greve contra novas regras de aposentadoria
Acúmulo de lixo nas ruas da capital francesa vem ocorrendo desde que garis entraram em greve contra novas regras de aposentadoria
Foto: STEFANO RELLANDINI/GETTY IMAGES / BBC News Brasil

A imprensa local aponta que a situação de coleta de lixo tem variado nos diferentes distritos de Paris, já que em algumas áreas a coleta é realizada por empresas privadas.

Os protestos têm se tornado mais violentos, segundo a imprensa francesa, desde que o governo usou um dispositivo especial para aprovar um projeto de lei sem passar pela Assembleia Nacional.

Na quinta-feira (23/3), greves generalizadas levaram a interrupções de transporte em estradas e trens, além de cancelamentos de voos. Nesse dia, mais de 1 milhão de pessoas saíram às ruas em todo o país, segundo dados do Ministério do Interior.

Em Paris, cerca de 120 mil protestaram. E houve confrontos entre policiais e indivíduos mascarados, que quebraram vitrines, vandalizaram o mobiliário urbanos e atacaram um restaurante da rede McDonald's na capital francesa.

Agora, uma paralisação geral está prevista para terça-feira (28/3).

Protestos têm se tornado mais violentos desde que o governo usou dispositivo para aprovar um projeto de lei sem passar pela Assembleia Nacional
Protestos têm se tornado mais violentos desde que o governo usou dispositivo para aprovar um projeto de lei sem passar pela Assembleia Nacional
Foto: SAMUEL BOIVIN/NURPHOTO/REX/SHUTTERSTOCK / BBC News Brasil

Visita do rei Charles 3º adiada

Nesse contexto, a visita do rei Charles 3º à França foi adiada. A viagem a Paris e Bordeaux estava prevista para começar no domingo (26/3).

O Palácio de Buckingham disse que a decisão de adiar a visita de três dias de Charles e Camila, a rainha consorte, se deve à "situação na França".

"Suas Majestades esperam ansiosamente a oportunidade de visitar a França assim que as datas forem encontradas", dizia o comunicado.

O presidente Macron disse que telefonou ao rei e que "o bom senso e a amizade levaram-nos a sugerir uma adiamento." O presidente francês disse que propôs mudar a viagem para o início do verão, "quando as coisas se acalmarem novamente".

Relógio de Macron

Alvo dos franceses que combatem mudanças nas regras de aposentadoria, Macron foi criticado após retirar o relógio do pulso durante uma entrevista sobre o tema.

Enquanto a equipe dele informou que o relógio foi tirado porque estava fazendo barulho na mesa, os críticos dizem que o relógio é um objeto de luxo que simboliza a falta de contato do presidente com a população. Seus adversários políticos argumentam que ele é um presidente que apoia os ricos.

Houve alegações errôneas de que o relógio valeria até 80 mil euros (R$ 450 mil). Palácio do Eliseu informou à mídia francesa que o presidente estava usando um modelo Bell & Ross BR V1-92, personalizado com um brasão.

Os preços deste relógio na internet, sem personalização, estão entre 1.660 e 3.300 euros (R$ 9,4 mil e 18,6 mil).

Reforma da Previdência na França: o que muda

O principal objetivo da nova lei previdenciária é aumentar gradualmente a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos até 2030. O aumento ocorrerá com base em incrementos de três meses por ano, a partir de setembro de 2023.

A última vez que a idade de aposentadoria na França foi alterada foi em 2010, antes da qual era de 60 anos.

A idade mínima de aposentadoria pelo sistema público de Previdência é menor na França que em outros países da Europa, como Itália (67), Reino Unido (66) e Espanha (65).

A reforma francesa também prevê, para 2027, a exigência de contribuir 43 anos para obter o benefício, em vez de 42 anos.

Além disso, a nova lei elimina os privilégios de aposentadoria de alguns funcionários do setor público, como os trabalhadores do metrô de Paris.

A resistência à nova lei tornou-se ainda mais forte depois que o governo forçou em 16 de março sua aprovação contornando a Assembleia Nacional - a câmara baixa do Parlamento - onde não tem maioria absoluta.

Macron diz que a reforma da previdência é uma forma "impopular, mas necessária" de garantir o futuro do sistema previdenciário do país.

Segundo o presidente, a medida é crucial para evitar o colapso do generoso sistema previdenciário da França e para garantir que os cidadãos mais jovens não assumam o ônus de financiar as gerações mais velhas.

Os oponentes, no entanto, argumentam que a medida afetará desproporcionalmente os trabalhadores braçais, que têm maior probabilidade de começar a trabalhar em uma idade mais jovem e ter empregos fisicamente mais exigentes do que executivos e profissionais autônomos.

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