Ata do Copom amplia a divisão no mercado entre Selic parada e nova alta em junho
Entre 41 casas que responderam à pesquisa do Estadão/Broadcast, 21 apostam em alta de 0,25 ponto porcentual; 19, em juro básico parado em 14,75%; e 1 prevê aumento de 0,5
Após a divulgação da ata da reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom), o mercado está dividido quanto aos próximos passos da política monetária. Entre 41 casas que responderam à pesquisa do Estadão/Broadcast, 21 apostam em uma nova alta na Selic, de 0,25 ponto percentual. Outras 19 instituições anteveem o juro básico parado em 14,75% no próximo encontro. Uma instituição prevê aumento de 0,5 ponto percentual.
Em levantamento realizado na semana passada, após a divulgação do comunicado da reunião, a aposta majoritária (24 de 44 casas) era de juro parado em 14,75%. Uma alta de 0,25 ponto em junho estava no cenário de 19 instituições.
Com isso, as medianas passaram a indicar Selic de 15% nas reuniões de junho, julho, setembro e novembro, ante estimativa intermediária de 14,75% para todos esses encontros na pesquisa anterior.
Também houve elevação da mediana para a Selic no fim deste ano (14,75% para 14,88%). A estimativa intermediária para o fim de 2026 permaneceu em 12,50%
Selic em análise
A ata da reunião de maio do Copom manteve as portas abertas tanto para uma nova alta na Selic em junho quanto para manter o juro parado no atual nível, na avaliação de analistas consultados pelo Estadão/Broadcast.
Para parte do mercado, o documento reforçou as indicações da semana passada, de que o BC pretende parar o quanto antes o ciclo de aperto monetário. Outra parcela de analistas, porém, observou que a ata recolocou na mesa a chance de uma nova alta na Selic em junho ao sinalizar que ainda não há consenso no colegiado de que o balanço de riscos para a inflação é neutro.
Além disso, questões novas, como o acordo de redução de tarifas entre Estados Unidos e China, podem levar à mudança de cenários e projeções até a próxima reunião do colegiado.
Em relatório, a equipe econômica do Itaú Unibanco, chefiada pelo economista Mário Mesquita, frisou que, embora a porta para uma nova alta na Selic ainda não esteja fechada, a barra colocada pelo BC para isso está alta.
Entre os destaques do documento, o banco cita que os membros do Copom "parecem operar sob uma convicção muito forte" de que a política monetária está em um nível bastante contracionista e que o colegiado está confiante de que a economia já está desacelerando.
Na avaliação do economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, o BC utilizou a ata da reunião de maio para construir um "encadeamento de ideias" em que ficou clara a opção pelo encerramento do ciclo de altas na Selic a partir de agora. Ele destaca que, embora a autoridade monetária tenha frisado o "incômodo" com a desancoragem das expectativas de inflação, a ata deixou clara a visão do BC de que os principais efeitos do aperto monetário ainda serão sentidos.
"A construção narrativa é de que a política monetária já trouxe impactos, ainda que incipientes sobre a atividade, mas que isso ainda vai ser sentido em maior magnitude à frente", diz Sanchez, que, por isso, projeta que a Selic deve ficar estacionada em 14,75% ao menos até meados de 2026.
O economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles, por sua vez, segue apostando em uma Selic de 15% em junho. Na avaliação dele, o comunicado da semana passada pendia mais para o fim do ciclo do aperto, enquanto o documento de hoje teve um tom mais hawkish, ou seja, mais agressivo no aperto, apontando para um maior equilíbrio entre as duas possibilidades.
Dentre os trechos da ata que corroboram essa visão, Salles aponta o parágrafo referente ao balanço de riscos. "Na ata, o comitê disse que aparentemente houve uma discussão sem um consenso. Alguns consideraram o balanço como neutro, mas uma parte do colegiado que ainda o viu como levemente assimétrico", explica.
Adicionalmente, Salles destaca que a big picture do documento foi a sinalização de que o colegiado não está disposto a cortar o juro básico tão cedo. "Chama a atenção o comitê ter enfatizado bastante o termo 'período prolongado' para falar do nível contracionista do juro. É uma forma de reduzir essa discussão sobre um corte em breve", afirma.
Já o Bradesco atenta para elementos novos no radar, com destaque para o acordo de redução de tarifas entre Estados Unidos e a China. Em relatório, o banco mencionou que a ata é consistente com o atual call da casa, de Selic parada em 14,75%, mas que a "diminuição da intensidade do choque global com o acordo entre EUA-China", aliado a possíveis dados mais robustos da atividade doméstica, "podem levar o BC a reavaliar o cenário".
Os possíveis efeitos de uma trégua entre americanos e chineses também foram citados pelo JPMorgan. Em relatório o banco destacou que a ata deu bastante peso à questão internacional, partindo do princípio de que haverá uma desaceleração considerável da economia dos EUA, mas que essa visão já pode estar desatualizada. "Pensamos que uma reversão (mesmo que parcial) nas expectativas do comitê para o crescimento global reforçará as chances de um aumento de 0,25 ponto na próxima reunião", escreveu o JPMorgan.
