Ameaça de Trump a Brics pode respingar no Brasil, mas falta clareza, diz diretor da agência Fitch
Todd Martinez, da Fitch Ratings, afirma que ameaça de tarifa adicional de 10% a quem apoiar política 'antiamericana' é aplicável ao Brasil, mas Trump tem mudado de ideia sobre as taxas o tempo todo
A ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar países alinhados às "políticas antiamericanas" do Brics com uma tarifa adicional de importação de 10% pode respingar no Brasil, mas o cenário é incerto, alerta o co-chefe de títulos soberanos da América Latina da Fitch Ratings, Todd Martinez. O País integra o bloco formado também por Rússia, Índia, China e África do Sul.
"O Brasil é certamente um dos países do Brics, não um país que eu diria que se posicionou para estar ideologicamente alinhado com a administração Trump. Então, eu diria que é justo dizer que essa ameaça poderia se aplicar ao Brasil", afirma Martinez, em entrevista ao Estadão/Broadcast.
O Brasil foi taxado em 10% pelas tarifas recíprocas de Trump, anunciadas em 2 de abril, que ficou conhecido como o 'Dia da Libertação', figurando entre os países menos afetados pelas novas políticas comerciais de Washington.
Mas, na sequência, o republicano anunciou uma pausa de 90 dias para negociações, que termina no próximo dia 9, mantendo o patamar de 10% para todos os países, o que igualou o Brasil aos demais.
"Qualquer país que se alinhar às políticas antiamericanas do Brics será submetido a uma tarifa adicional de 10%. Não haverá exceções a essa política", escreveu Trump, em sua rede Truth Social, sem mencionar o Brasil, na noite de ontem.
Por sua vez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o Brasil é "soberano" e que também pode taxar os EUA. "Se o Trump pode taxar, nós podemos taxar também", disse o brasileiro, durante a Cúpula do Brics Brasil, no Rio de Janeiro. O tema tarifas não foi debatido na reunião do bloco, conforme ele.
Na imprensa americana, circulam rumores de que o governo Trump não pretende impor imediatamente uma nova tarifa de 10% contra os membros do Brics, mas planeja cumprir a ameaça aos países que adotarem medidas consideradas "antiamericanas".
Incertezas com Trump
Para Martinez, ainda há muitas incertezas em torno das políticas comerciais que os EUA devem adotar após o fim da trégua tarifária.
"Não temos muita clareza sobre essas ameaças que continuam surgindo e desaparecendo. Há muita incerteza em torno de tudo isso", diz, acrescentando que essa não é uma "preocupação" em relação ao Brasil.
Trump voltou a mencionar o Brasil nesta segunda-feira, desta vez, diretamente. Segundo ele, o País está promovendo uma "caça às bruxas" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, mas evitou apontar os responsáveis por isso.
O republicano defendeu ainda que o único julgamento deveria ser feito pelos eleitores brasileiros.