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Agro é sustentável, mas não comunica

Convencer consumidor de que o setor acata regras ambientais na produção é difícil

21 nov 2019 - 19h47
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Muito além dos gargalos logísticos ou da oscilação de preços de commodities agrícolas ou da guerra comercial entre Estados Unidos e China, um dos principais obstáculos enfrentados pelo agronegócio brasileiro atualmente é a dificuldade de se comunicar e de mostrar ao mundo que é sustentável. Essa limitação foi citada pelos debatedores do painel "Além de Pop, Tech e Sustentável", durante o Summit Agronegócio Brasil 2019, promovido pelo Estado e patrocinado pela Corteva e Embratel.

Para a diretora comercial da consultoria Labhoro, Andrea Cordeiro, o setor tem, de fato, "dificuldade de comunicação". "Temos um agro extremamente eficiente, focado em práticas de melhoria e tecnologia, mas há dificuldade de mostrar lá fora a sustentabilidade do nosso País", disse. "O Brasil, internamente também, precisa despertar a consciência do valor do agro e mostrar o quanto estamos comprometidos com a sustentabilidade", ressaltou ela, reconhecendo, porém, que não se trata de "tarefa muito fácil".

Passividade

A imagem negativa que o Brasil tem lá fora, para Andrea, também tem uma parcela de culpa do próprio setor agropecuário, que "foi muito passivo". "Precisamos sair dessa inércia e fazer nossa parte, mostrar que o agronegócio brasileiro é pró-Brasil."

O presidente da Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio), Arnelo Nedel, concordou com a consultora, acrescentando que a agricultura brasileira "nunca soube propagandear o que ela faz". "Para nós, do setor de biológicos, é mais fácil a comunicação, porque estamos em evidência, mas também precisamos comunicar o alto nível de eficiência e tecnologia envolvido num defensivo biológico." Para melhorar a comunicação do agronegócio com o consumidor final, o representante da ABCBio sugere que o consumidor visite as fazendas para conhecer o produtor rural. "Se não formos eficientes em comunicar o que fazemos, alguém vai fazer o dever de casa por nós."

União

O membro do conselho da CropLife Brasil, Eduardo Leduc, justificou a nova entidade, fundada em outubro, por Bayer CropScience, FMC, Syngenta, Basf e Sumitomo Chemical, "justamente para unir o setor e melhorar a comunicação". "Antes, cada pedaço falava de si e a comunicação não ficava eficiente", disse. Ele lembrou que trabalha há mais de 30 anos no setor de defensivos agrícolas e garantiu que o segmento tem uma "contribuição enorme" para a sustentabilidade. "Vemos redução de 40% no impacto de coeficiente ambiental ao longo dos anos. E, com novas moléculas de defensivos recentemente aprovadas pelo Ministério da Agricultura, elas vão reduzir em mais de 50% esse impacto ambiental." Mas reconheceu: "O setor tentou explicar sua sustentabilidade por meio da ciência e estudos, teses de doutorado, mas vimos que não é por aí. Está claro que a forma de falar hoje tem de ser diferente, disruptiva, devemos acessar mais gente e todos os dias", disse, citando, neste contexto, as redes sociais.

O coordenador da cadeia de soja da TNC (The Nature Conservancy), Rodrigo Spuri, ressaltou que o Brasil é uma potência agrícola e ambiental, com dois grandes biomas: Amazônia e Cerrado. "Talvez, sob este aspecto, existam oportunidades de melhoria na comunicação. Mas é importante comunicar como produzir e preservar ao mesmo tempo", disse.

Fim da moratória

Algo que atualmente está sendo discutido pelo setor de soja e que poderia provocar ruídos na comunicação sobre sustentabilidade do agro brasileiro é a retirada da Moratória da Soja. Entidades de produtores têm reivindicado o fim da moratória - compromisso assumido pelas empresas exportadoras da oleaginosa, que vetam a compra do grão cultivado em áreas desmatadas na Amazônia. A possibilidade não foi bem vista pelos palestrantes do Summit. "Entendo que estrategicamente não é o momento correto, apesar de juridicamente ser possível. Com disputa comercial entre EUA e China, o Brasil está surfando numa onda muito importante como exportador mundial de soja, o que poderia ser afetado por essa estratégia", avaliou Andrea Cordeiro, da Labhoro.

Na mesma linha, Leduc, da Croplife Brasil, disse considerar ser um momento "muito sensível" para o País rever essa medida. "O País tem muito mais a perder do que a ganhar com essa revisão nesse momento. A comunicação não alcançaria as questões emocionais e racionais que abrangem a medida. Podemos ter como resultado barreiras econômicas e políticas aos nossos produtos", afirmou Leduc.

Spuri, da TNC, ressaltou que a Moratória da Soja não impediu a expansão da produção de grãos no bioma Amazônia. Segundo ele, nos 14 anos da moratória, a área passou de 1,5 milhão de hectares para cerca de 5 milhões de hectares no bioma.

Estadão
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