Ação da incorporadora Helbor desaba 13% por suspeita de inconsistência bilionária em balanços
Empresa, em comunicado, diz ter 'confiança na correção das informações, rigorosamente preparadas de acordo com as melhores práticas contábeis e auditadas por auditor independente'
A incorporadora Helbor, tradicional no mercado imobiliário de Mogi das Cruzes e São Paulo, está sob suspeita de ter inconsistências nos balanços ao longo dos últimos dez anos que podem ter elevado o patrimônio líquido no montante de R$ 1,8 bilhão. A empresa diz ter confiança nos seus números.
Após o caso vir à tona, as ações da Helbor despencaram na Bolsa ao longo desta terça-feira, 8 — fechou o dia em queda de 13,04%, a terceira maior fora do Ibovespa, cotada a R$ 2,00, menor preço de fechamento desde abril deste ano. A empresa havia informado na segunda-feira, 7, que o diretor financeiro da companhia, Leonardo Piloto, renunciara ao cargo.
O caso está sendo conduzido pela Associação Brasileira de Investidores do Mercado de Capitais (Abimec), fundada em 2024 pelo empresário e investidor Rafael Ferri para lidar com temas de interesse de minoritários.
A Helbor publicou um comunicado ao mercado afirmando que "tem absoluta confiança na correção e fidedignidade das suas informações financeiras, que são rigorosamente preparadas de acordo com as melhores práticas contábeis (BRGAAP e IFRS) e auditadas por auditor independente registrado na Comissão de Valores Mobiliários".
Procurada, a empresa não concedeu entrevista e reafirmou os termos do comunicado.
O comunicado da Helbor foi assinado por Roberval Lanera Toffoli, vice-presidente que ficou também com o posto de diretor financeiro e de relações com investidores após a renúncia de Leonardo Piloto, na segunda-feira, 7.
A Helbor também respondeu à Abimec, afirmando desconhecer o teor integral de parecer técnico que questiona os balanços. Segundo a empresa, esse documento não foi recebido. A Abimec disse ao Estadão/Broadcast que enviou e reenviou o documento nos últimos dias.
O diretor executivo da Abimec, Gabriel Brondi, contou ao Estadão/Broadcast que a associação foi procurada por um investidor da Helbor — que pediu para não ter o nome divulgado — e que desconfiava de inconsistências contábeis no balanço da incorporadora que somariam R$ 1,8 bilhão nas contas.
A partir daí, o investidor encomendou um parecer da consultoria Black Stream Associates (BSA), sediada em Ribeirão Preto (SP), analisando as demonstrações financeiras da Helbor entre 2013 e 2024.
O documento da consultoria, ao qual o Estadão/Broadcast teve acesso, endossa a desconfiança do minoritário contratante.
"Existem evidências claras de erros materiais na elaboração das demonstrações financeiras da Helbor, bem como indícios que requerem maiores informações para esclarecimento de seu potencial impacto sobre o patrimônio da companhia e suas investidas, algo que prejudica diretamente investidores e o mercado de capitais", afirmaram os autores do estudo, que são dois sócios da consultoria: Marcelo Botelho Moraes, professor na Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP), e Filipe Caselatto Scabora, bacharel em direito e contabilidade, dourando na FEA-USP.
O laudo apresenta oito situações em que os balanços da incorporadora adotaram práticas que teriam gerado resultados superestimados.
Na maior delas, o documento cita 65 empreendimentos em que a Helbor contabilizou resultados integrais, quando, na verdade, deveria ter feito a apuração parcial por se tratar de projetos que foram realizados com sócios.
Isso teria gerado um acréscimo indevido de R$ 839 milhões ao seu patrimônio, segundo a consultoria.
"Fica evidente que em todos os 65 casos existe a relação de controle conjunto (joint venture), não cabendo o reconhecimento de ativos e passivos, bem como de receitas e despesas, dessas entidades nas demonstrações consolidadas da Helbor, uma vez que a empresa não controla individualmente as investidas, sendo o controle compartilhado com outros sócios", descrevem os autores no laudo. "O correto seria o reconhecimento apenas da proporcionalidade".
Outro tópico do laudo cita indício de erro ao incorporar juros de despesas financeiras ao valor dos estoques de imóveis para comercialização, proporcionando uma estimativa de incremento do patrimônio em R$ 346,2 milhões.
O laudo apontou também a mensuração pelo método de "valor justo" em 17 empreendimentos, agregando o total de R$ 260,7 milhões ao patrimônio da Helbor.
Em outro caso, o laudo registra a manutenção indevida de Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs) avaliados em R$ 40,7 milhões.
O diretor da Abimec, Gabriel Brondi, relatou ao Estadão/Broadcast que procurou a Helbor na semana passada, mas que a empresa só deu uma resposta no começo desta semana. Por enquanto, ele não trata o caso como uma acusação, mas com um "pedido de esclarecimentos".
"Enviamos o parecer e queremos explicações da empresa", disse. "Aparentemente manipularam o balanço para inflar o relatório, apresentando lucro onde não deveria ter. Se o resultado fosse reconhecido como pede a norma brasileira, teriam que reportar prejuízo."
O investidor minoritário que encomendou o parecer pede a exclusão das auditorias Baker Tilly Partners e Fábio Rodrigo Muralo da contabilidade da Helbor e cobra uma intervenção da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na companhia. /Com Amélia Alves/Broadcast