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'Quatro por Quatro' partia da batalha "elas contra eles" há 15 anos

23 out 2009 - 07h33
(atualizado às 08h01)
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Márcio Maio

Hoje, 15 anos depois, Carlos Lombardi acha que Quatro por Quatro, um dos maiores sucessos da década de 90, poderia ser considerada um desastre pela mídia. Na época, o autor tinha a função de bolar uma história capaz de substituir, à altura, os 57 pontos de média geral deixados pelo "remake" de A Viagem, de Ivani Ribeiro.

O que, ele assume, causou preocupação até o dia 24 de outubro de 1994, quando o folhetim estreou na tela da Globo. "A estratégia de chegar com uma temática completamente oposta era arriscada. Tanto que eu não sei se funcionaria hoje em dia. Lembro que começamos bem, mas não nos índices da antecessora, o que atualmente seria visto automaticamente como um fracasso", analisa Lombardi.

A história era bem simples, mas ousava por um detalhe que, naquele período, não era comum. Quatro por Quatro, pela sinopse, tinha pelo menos dez protagonistas. Isso porque a novela girava em torno de uma batalha entre mulheres decepcionadas com seus parceiros e homens mais preocupados com a própria vaidade e trabalho do que com seus relacionamentos amorosos.

O que ficava bem marcado já na abertura, com a música Picadinho de Macho, de Sandra de Sá. A ideia era fazê-las recuperarem a autoestima e, é claro, botar os companheiros "traíras" no chinelo. O próprio refrão já explicava: "sangue e salada no almoço e jantar". "O bom disso é que as histórias tinham muita comédia, é claro, mas não ficava só nisso. Todas as mulheres daquela vingança tinham um lado humano muito forte, com dramas, conflitos mais densos.

Foram papéis de ouro", valoriza Cristiana Oliveira, que encarnava o "patinho feio" Tatiana, jovem que começava atrapalhada e sem qualquer sensualidade para se transformar, ao longo dos capítulos, numa musa.

Para interpretar as vingativas Auxiliadora, Tatiana, Abigail e Babalu, o diretor Ricardo Waddington contou com Elizabeth Savalla, Cristiana Oliveira e as praticamente estreantes Beth Lago e Letícia Spiller. "A Beth tinha feito Anos Rebeldes e a Letícia vinha do elenco de apoio de Despedida de Solteiro. Foram duas enormes surpresas e, acho, dos maiores sucessos da trama", lembra Waddington, que estreou na comédia com esse trabalho. Inicialmente, os papéis foram escritos para Eliane Giardini, Malu Mader, Bruna Lombardi e Adriana Esteves, respectivamente. "Como elas não puderam aceitar, nossas escalações foram meio que no susto", explica Lombardi.

Cada uma das mocinhas tinha seus motivos para querer "chacinar" o namorado ou marido. Auxiliadora viu seu Alcebíades, de Tato Gabus, trocar um casamento de 20 anos por uma aventura com uma colega da filha do casal. Já Tatiana era uma jovem desajeitada e enfeada que era largada na porta da igreja pelo noivo Fortunato, de Diogo Vilela.

"Foi a novela da Globo mais marcante que fiz. Pude explorar bastante esse lado da comédia, que eu adoro", lembra Cristiana. Abigail enfrentava uma crise conjugal por voltar a trabalhar e chamar mais atenção no mercado do que o marido psicanalista Gustavo, de Marcos Paulo. E a espevitada Babalu já começava o folhetim cansada das "puladas de cerca" do namorado, o cobiçado mecânico Raí, de Marcelo Novaes.

"Quatro por Quatro foi determinante na minha carreira. Até hoje me chamam de Babalu nas ruas. Ainda mais agora, que estou bem loura", avalia Letícia Spiller, que interpreta atualmente a comportada Bettina, de Viver a Vida.

Na outra parte da trama central, o médico aventureiro Bruno, do então descamisado Humberto Martins, voltava do Amazonas, depois de uma longa temporada, para reencontrar a filha Ângela, de Tatyane Goulart. Isso porque não chegou a conhecer a menina, já que fugiu para o mato quando perdeu a mulher Mércia durante o parto.

Mas seus planos eram atrapalhados por Gustavo, que criou a garota ao lado de Abigail e se recusava a deixar que a menina se relacionasse com o pai biológico. "No lugar de duas mães brigando, preferi usar dois pais. Isso deu uma perspectiva diferente para uma narrativa tradicional e costumeira", recorda Lombardi.

Mas nem tudo saiu como planejado. Mesmo tendo seu nome na abertura dos créditos da novela, Elizabeth Savalla não ficou satisfeita com, segundo o próprio Lombardi, a "direção da narrativa". "Não posso dizer que tenha sido um relacionamento fácil", assume Lombardi. Mas pior mesmo foi quando recebeu um ultimato de Diogo Vilela. "Ele foi direto ao ponto. Disse que estava saindo e me deu um prazo para fazer o final do personagem", lamenta o autor.

Um dos maiores êxitos de Quatro por Quatro foi, sem dúvida, o figurino. E o responsável, Lessa de Lacerda, assume que se surpreendeu com o resultado, já que o que caiu na moda não foi exatamente sua primeira aposta. "Eu sempre achei que as roupas das personagens da Betty Lago e da Helena Ranaldi fossem chamar mais atenção, mas as da Babalu é que são lembradas até hoje", justifica Lessa.

Graças à manicura vivida por Letícia Spiller, os saltos grossos, margaridas no cabelo, barriga de fora e saias e shorts curtíssimos ganharam as ruas. Mas não foi só isso que ficou daquela época. "Comecei a usar camisetas com mangas cortadas no Marcelo Faria e no Humberto Martins e, até hoje, a gente vê isso aos montes", valoriza Lessa.

Protagonistas de 'Quatro por Quatro'
Protagonistas de 'Quatro por Quatro'
Foto: Luiza Dantas/Carta Z Notícias / TV Press
Fonte: TV Press
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