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"Rainha das gafes", Catia Fonseca diz que não teme o ridículo

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São quase quatro horas diárias ao vivo. Catia Fonseca, apresentadora do Mulheres, da TV Gazeta, entra no ar todos os dias às 14h e sai só às 17h50, fazendo muito merchandising e poucos intervalos. Falando quase que ininterruptamente, ela comanda o programa que tem como público donas de casa e enfrenta a concorrência de “grandes”, como o Vale a Pena Ver de Novo, a Sessão da Tarde da Rede Globo e Sonia Abrão, da RedeTV! Mas, apesar de estar diariamente no ar, Catia, 43 anos e apresentadora do Mulheres desde 2002, só ficou conhecida no País inteiro quando passou a ser figura frequente no Top Five do CQC (a Gazeta pega em poucas cidades de fora do estado de São Paulo). Ela já apareceu tantas vezes no quadro que mostra os momentos mais inusitados da TV brasileira que ganhou o título de “musa do Top Five” e foi convidada para apresentar na bancada o programa de número 200.

Catia Fonseca, comandante do Mulheres, da TV Gazeta, entra no ar todos os dias às 14h e sai só às 17h50; Terra acompanhou a rotina da apresentadora por trás dos bastidores
Catia Fonseca, comandante do Mulheres, da TV Gazeta, entra no ar todos os dias às 14h e sai só às 17h50; Terra acompanhou a rotina da apresentadora por trás dos bastidores
Foto: Edson Lopes Jr. / Terra

Em uma quarta-feira, a reportagem do Terra acompanhou o programa ao vivo. Catia, de vestido longo e cabelos cuidadosamente penteados, fez 21 merchandisings naquele dia. Ela conversa por alguns minutos com um representante de uma marca - Iogurteira Top Therm, SP Implantes, Easy Implant, Rommanel e roupas Fenomenal foram alguns dos anunciantes daquele dia - sobre as qualidades daquele produto ou serviço (“tem que bolar abordagens diferentes para cada um , porque às vezes tem quatro empresas de odontologia no mesmo dia”, confidenciou ela em entrevista após o programa). Entre um e outro “merchã”, apresentou quadros de culinária, debateu a vida das celebridades com Mamma Bruschetta, interpretada pelo ator Luís Henrique, e fez um quadro de transformação para algumas telespectadoras que foram sorteadas no início do programa ali mesmo, na escadaria do prédio da Gazeta, no número 900 da Avenida Paulista.

 
Cátia caminha com desenvoltura de um lado a outro do estúdio e parece sempre decidida sobre o que fazer. Mas o que os telespectadores talvez não saibam é que há um diretor atento dando instruções para a apresentadora o tempo inteiro. É Rodrigo Riccó, que assumiu a direção do vespertino em maio deste ano. Ele fica atento à audiência de todos os canais e dá orientações para Catia conforme os números vão se movimentando. “Se um vai pro break, você tem que ver se naquele dia você indo é melhor, se naquele dia você não indo é melhor. Tem que analisar dia a dia. Tem que estar com o controle não só nosso, mas de tudo”, explica a apresentadora, que, além de orientações sobre o que fazer no estúdio, tem de ouvir muita piada no ponto eletrônico que usa no ouvido para a comunicação com o diretor. “Às vezes acontece de a Catia estar entrevistando um médico e eu falar ‘ô, Catia, esse cara é veado’”, contou Riccó. “E aí, se eu achar que sim, balanço com a cabeça positivamente. Se achar que não, dou uma negativa”, completa Catia. O telespectador, claro, nem percebe o que se passa.
 
É atrás das câmeras também que acontecem alguns dos momentos mais curiosos do programa. Mamma Bruschetta, por exemplo, não perde tempo e aproveita quando não está diante das câmeras para comer as delícias feitas nos quadros de culinárias - nas quais, Catia só dá uma ou duas garfadas. No dia em que a reportagem do Terra acompanhou o programa, ela se deliciou com uma costelinha de porco e depois com um cheesecake. É nos intervalos também que Catia e a equipe - havia 23 pessoas no estúdio além dela - comentam o que acaba de acontecer no ar. “Aquela moça que ganhou o convite para o show do Salgadinho não curtiu, não”, disse a apresentadora no “break” logo após o sorteio das mulheres que passariam pela transformação - uma das candidatas não disfarçou o descontentamento ao ganhar ingresso para o show em vez da transformação, que inclui cabelo e maquiagem.
 
Às 17h50, quando o programa terminou, Catia sentou no sofá da sala VIP da Gazeta para uma conversa que durou aproximadamente uma hora e que teve a participação também de Riccó. Ela falou sobre a ajuda que teve do marido no início da carreira, sobre o peso de já ter sido a substituta de Ana Maria Braga e revelou que já foi muito assediada por outras emissoras - mas garante que não tem interesse nenhum em deixar a Gazeta. Junto com Riccó, ela contou “causos” do programa, detalhes da disputa por audiência e se disse incapaz de fazer um Top Five só seu (“tem muitos”, justificou), mas elegeu o que considera o maior de todos os seus momentos diante das câmeras. “O pior foi o do pintinho”, começou, antes de contar em detalhes o dia em que foi obrigada a “caçar” um pinto ao vivo no meio do estúdio. O CQC, claro, não perdoou e disse que Catia sabia agarrar muito bem um pintinho.
 
Confira a entrevista a seguir
 
Terra - Você sempre quis trabalhar na TV?
Catia Fonseca - Na verdade, eu pensava em fazer jornalismo, apresentar telejornal. Meu marido já era jornalista e apresentava telejornais, então eu pensava em fazer a mesma coisa. Ele montou um telepromter, me treinou naquelas coisas básicas. Aí eu soube que na Rede Mulher estavam precisando de alguns profissionais. Fui lá e me ofereci. Na época, o (diretor) Waldemar de Moraes trabalhava lá e falou “olha, não tem nada por enquanto, me liga daqui a uma semana”. E eu fiquei religiosamente um mês e meio ligando toda semana. Até que ele falou pra mim “olha, só tem um programa de culinária”, mas eu falei que não queria culinária. Eu gosto de cozinhar, mas não é o que eu tava a fim de fazer. Aí ele disse “entra nesse programa de culinária e depois a gente vai vendo as possibilidades e vai te mudando”. Nessa eu fiquei e fui gostando. isso foi em 94, faz tempo já. 
 
Terra - E depois disso?
Catia - Depois disso, a Claudete estava aqui na Gazeta e foi pra Rede Manchete. E aí ficou uma brecha de 15 dias. Meu marido trabalhava aqui, chegou pra Claudete e falou “olha, você não quer chamar a minha mulher pra te cobrir?” e ela aceitou. Me indicou e eu fui lá fazer esses 15 dias. Em uma semana, a Gazeta me chamou pra apresentar o Pra Você, que era de manhã. Eu fiz por dois anos. Aí a Record me chamou e eu fui pra Record. Depois da Record, eu desisti e disse que não queria mais trabalhar na TV. “É muito estressante, eu já cansei, não quero!”. E saí por um ano e pouco. Nesse tempo, a Gazeta já estava me chamando pra voltar. Aí eu falei “ai, eu não quero mais fazer isso, é uma vida complicada”. Aqui até que não, mas quando eu trabalhava na Record, a gente tinha muita briga por audiência. E às vezes isso compromete um pouco o que você está fazendo. Não que brigar por audiência não seja legal, mas depende de que forma você briga. E tinha algumas situações ali que eu não curtia, então eu falei que não queria mais. Mas aí me fizeram umas propostas e eu falei “tá, tudo bem”. 
 
Terra - A passagem pela Record foi traumática?
Catia - Não, na verdade foi ótima. Foi traumática no sentido de que a gente vive num mundo em que a gente age de um jeito. Mas cada empresa tem um jeito. Foi importantíssimo pra mim, porque o jogo de cintura que eu tenho hoje foi graças ao que eu passei por lá. A forma que eu tenho hoje de encarar a profissão foi uma forma que eu adquiri a partir desses dois anos que eu fiquei lá. Então foram dois anos muito importantes pra mim. Eu era muito boba, muito ingênua na época. Então sabe quando você tem uns ideais? E os seus ideais muitas vezes ficam na sua casa, né? Acho que eu era muito despreparada para aquela função. Se o tempo voltasse, eu faria as coisas diferentes.
 
Terra - O que você faria diferente?
Catia - Eu acho que a gente tem que aprender a ter mais jogo de cintura. Se pode dizer tudo, mas não é o que você fala, é como você diz. Na época eu era muito “certo, certo, errado, errado”. Acho que hoje eu sou mais flexível nesse sentido. O amadurecimento faz isso também. Você aprende a resolver os seus problemas de uma forma mais meiga e amena.
 
Terra - Pesou o fato de ter que substituir Ana Maria Braga na Record?
Catia - Então, como foi de uma sexta para uma segunda, eu nem tive tempo de pensar nisso.
 
Terra - Como assim de uma sexta para uma segunda?
Catia - Eles me chamaram na sexta, umas cinco e pouco da tarde. O programa estava no ar ainda. Eu até achei que fosse trote. Ligaram no meu celular e falaram “aqui é da rede Record, a gente tá te chamando, mas, se você quiser ouvir a nossa proposta, você tem que chegar aqui em uma hora”. Eu liguei para o meu marido e falei “olha, é trote, né? Que negócio é esse de chegar em uma hora? Isso é trote!” Eu peguei na bina, vi o número, liguei e falei “escuta, me ligaram desse número”. “Ué, você não chegou ainda?” Eu perguntei quem tava falando. “Ah, fulano de tal”. Aí eu perguntei “então é pra ir mesmo?”. “Você acha que eu liguei pra quê?” Aí fui, eles me fizeram uma proposta, mas falaram “olha, a proposta é essa. Se você sair daqui, é sinal que você não quer. Se você quiser, você assina o contrato”. Eu tinha que decidir na hora, porque era uma sexta-feira e na segunda-feira a Ana já tinha avisado que ela não ia mais estar no ar. Pedi demissão e aceitei, assinei o contrato na hora. Por isso que eu disse que foi inexperiência. Tudo o que é feito muito rápido assim, não dá tempo de você pensar, de você analisar. Mas, enfim, eu assinei na sexta e na segunda estava no ar ao vivo. A gente fez um piloto no sábado, um piloto no domingo, e segunda-feira estava no ar. Aí, como é tudo muito rápido, não dá tempo de você pensar “ai, as pessoas que gostam da Ana, o que vai acontecer?”. Minha filha, se gostam ou não gostam, não vai ter saída. Eu cheguei já despretensiosa nesse ponto de não querer fazer como a Ana, porque ela tinha o jeio dela. Não tem uma nova Hebe. A Hebe foi única. Um novo Silvio Santos? Esquece, não vai ter nunca. Cada um tem um espaço importante a cumprir. Eu sempre fui muito fã da Ana Maria Braga e continuo sendo. Assisto até hoje de manhã. Então pra mim era mais um negócio assim “nossa, eu tô aqui, eu agora?”, no sentido de ser um programa de quatro horas com uma briga de audiência que eu nunca tive. Então o que mais me pegou foi isso. E lá tinha a obrigação de dar pelo menos seis pontos de média. Não é fácil. 
 
Terra - E o que você fez no período em que ficou afastada da televisão?
Catia - Foi um ano e pouco, eu montei uma padaria. Eu sempre quis ter um negócio. Coisa de brasileiro, né? Mas caiu por água abaixo também. Você acha que você ter um negócio é você não ter patrão. Mas eu tinha 45 funcionários, então eu tinha 45 patrões, fora todos os clientes. É muito complicado, porque você tem que ficar 24 horas em cima daquilo. 
 
Terra - O Mulheres tem a sua cara?
Catia - A gente muda tanto o programa... São dez anos, um programa de quatro horas diárias que já está há 33 anos no ar não tem a cara de ninguém. Tem que ter a cara do público. E quem dirige o programa hoje é o Rodrigo Riccó, que foi meu diretor lá no tempo da Record. A gente briga, a gente quebra o pau, mas sai direito! A gente pode tretar até não poder mais, mas tudo pelo programa. Não é o que eu quero, nem o que ele quer. É o que quem tá assistindo quer ver naquela hora. A gente tem sempre que ficar fazendo mudanças. E não só mudança nos quadros do programa, mas na forma como a gente aborda... Então por isso que é divertido. Não tem monotonia. E às vezes o que entra no ar não foi o que a gente planejou. Por isso que você tem que ter muita confiança em quem dirige o programa, porque ele vai me passando, “o que a gente combinou esquece, vamos fazer assim assim, assado” e a gente vai mudando tudo na hora. 
 
Terra - Por que acontecem mudanças de última hora?
Catia - Por exemplo, o público não quer nessa tarde saber de fofoca, não tá funcionando. Entrou com um quadro de fofoca, aí começou uma, duas, três e ele me fala “ó, Fonseca, não vai rolar, vamos esperar mais um ou dois minutos pra ver o que acontece”. Se aquilo não rolou, a gente sai, faz outra pauta, daqui a pouco a gente volta, porque tem horários de mudança de público. Acaba a novela da Globo, antes de começar o filme da Globo, antes da Sônia Abrão entrar no ar, quando ela vai pro merchandising eu tenho que estar em determinado lugar, tudo isso é estratégia. Então ele fala pra mim “Fonseca, ameaça fazer tal coisa pra fulana sair”. Aí a gente ameaça, quando a pessoa vai, a gente fica e puxa audiência dela pra gente. A gente nunca sabe o que vai acontecer. 
 
Terra - É difícil se concentrar com o diretor no ponto?
Catia - Você aprende a dividir o cérebro na metade. Uma metade pensa e ouve e uma metade pensa no que o diretor está falando e ouve o que o diretor está falando. E ele fala! Hoje na hora do Silvio Rezende (o cabeleireiro do programa), ele disse assim pra mim: “é, esse Silvio... Precisamos fazer uma pesquisa, porque esse Silvio não tá rendendo”. Sacanagem, claro, não é verdade. Eu fazia que não e o Silvio ria. A gente fala, conversa, vê as coisas e responde, isso que é divertido. As pessoas muitas vezes não imaginam. 
 
Terra - E não são desgastantes as quatro horas de programa?
Catia - Não, são ótimas. São divertidíssimas. E às vezes a gente acaba as quatro horas e tem gravação. Às vezes tem gravação de manhã. Sábado agora a gente grava Natal, dia 24 de dezembro. Chega o Natal e a gente já tá “aqui” de Natal. Ceia de Natal? Ah, não quero, já comi três vezes a ceia de Natal! Então é engraçado, mas a gente não cansa. Às vezes cansa fisicamente, mas mentalmente é muito gostoso, porque não tem a monotonia de você ficar trancado, num lugarzinho, com tudo muito previsível. Eu não gosto de nada previsível, eu gosto de lidar com o imprevisto. E a gente lida quatro horas por dia com o imprevisto. Um convidado que você acha que vai funcionar e o cara não funciona...
 
Terra - E o que você faz quando o convidado não funciona?
Catia - Ah, você tenta, né. Tem um monte de técnicas. Eles já me passam “ó, fulana é a primeira vez”. Eles levam a pessoa para o estúdio antes da pauta, ela fica ali pra ver como é, que é tranquilo, que não tem stress. No intervalo, eu vou lá e puxo um papo, ela já vê que eu não vou agredir. Na hora da entrevista, você tem que estar mais jogada. Se eu estou te entrevistando, você está nervosa e eu estou mais pra frente, de braço cruzado ou estou olhando para os lados, é sinal de que eu estou entediada e p..., então não posso fazer isso. Eu tenho que encostar na cadeira, ficar balançando o pé, ficar tranquila. 
 
Terra - Depois de todos esses anos, você sabe dizer o que o público quer?
Catia - Eu acho que o que o público mais gosta é sinceridade, que você acredite no que você está fazendo. Pode ser uma bobagem, mas se você está acreditando e você está se divertindo, ele se diverte. Agora, se você faz algo ultra mirabolante mas em que você mesma não tá acreditando, os olhos mostram que a gente não está acreditando. Não tem assim “isso eles querem ver”. Eles querem ver sinceridade.
 
(nesse momento, o diretor do programa, Rodrigo Riccó, entra na sala)
 
Catia - Riccó, ela tá perguntando o que a gente acha que funciona hoje. Eu falei pra ela que não tem muito como saber o que funciona. Funciona a sinceridade, acreditar no que a gente tá fazendo.
 
Riccó - Funciona falar pro povo. Não adianta inventar, não adianta americanizar, tem que falar pro povo. E a Catia faz isso muito bem.
 
Catia - E eu comentei com ela que é o que é legal é que a gente começa essas quatro horas no escuro, a gente não sabe o que vai acontecer. Às vezes no meio da pauta, ele fala “ó, não vamos fazer nada daquele jeito, vamos fazer assim assim, assado”. E aí eu tenho que confiar nele, porque eu tenho que seguir o que ele quer. E aí às vezes ele fala “agora você vai falar assim assim assim” e eu não sei o que ele tá querendo fazer, mas tenho que seguir.
 
Riccó - Tem coisas que funcionam numa semana, na outra semana não funcionam. Então você não pode embarreirar uma coisa só porque naquele dia não funcionou. Pode ter sido por causa do horário ou qualquer outra coisa. 
 
Catia - Mas a gente se diverte com isso, porque você não sabe o que vai acontecer. Então é um joystick, um videogame.
 
Riccó - E vicia.
 
Catia - E eu tava falando pra ela das estratégias que você tem que ter. Se um vai pro break, você tem que ver se naquele dia você indo é melhor, se naquele dia você não indo é melhor. Tem que analisar dia a dia. Tem que estar com o controle não só nosso, mas de tudo. Tem que ser uma sincronia, porque, se ele fala para fazer uma coisa e eu falo que não e não faço, que raio de trabalho a gente consegue desenvolver?
 
Terra - E já aconteceu de vocês se desentenderem?
Catia - Claro, mas não no ar. Fora do ar. Ontem mesmo aconteceu. Mas no ar eu obedeço cegamente, nem que depois eu discuta. Mas não é discutir porque vai fazer o que eu quero, vai fazer o que ele quer. É porque às vezes ele quer uma coisa que fisicamente não é possível, porque está faltando alguma coisa ou não tem o câmera posicionado. É esse tipo de discussão, não de questionamento “por que você falou para fazer tal coisa?”. Não tem questionamento. Se a gente não confia no trabalho um do outro, não vai adiantar.
 
Terra - De que você mais gosta no programa?
Catia - Disso. A gente não ter muito controle das coisas. De a gente ter a oportunidade de ficar sempre buscando alguma coisa diferente. Às vezes vem do que dá certo e às vezes vem do que não dá certo. Isso também é gostoso. Quando você vê que não dá certo, não é frustrante. E se a gente fizer de um outro jeitinho? Aí você muda um pouquinho e dá certo. E a gente pensa “nossa, por que eu ia desistir disso tão fácil?”. Então eu acho que isso é o mais legal, é a gente ter oportunidade todo dia de fazer um programa completamente diferente do outro, embora muitas vezes com quadros meio parecidos, do mesmo segmento, mas bem diferentes. Hoje o musical caiu.
 
Riccó - É, tava em cima da hora e os caras não chegaram. Tinha que chegar às 14h e eles só conseguiram chegar às 14h30, quando já não era mais interessante. 
 
Catia - Porque tem que ter estratégia.
 
Terra - Vocês preencheram esse tempo com quê?
Catia - Com tudo. 
 
Riccó - Com VT, com o 7 List, que agora tá todo mundo copiando.
 
Catia - O que mais chateia a gente é isso. Porque a gente tem uma produção muito pequena, muito enxuta. Aqui a gente tem uma verba pequena. A Record tem uma verba gigante, tem 40 pessoas na produção. Pô, imitar a gente é sacanagem. Pô, eles têm dois helicópteros!
 
Riccó - Eles podiam ter feito um 5 list, mas não!
 
Catia - Eles colocam até o mesmo nome! Ontem eu falei “ah, na boa, a gente é pobrinho, mas a gente é limpinho”. Pô, a gente não tem 40 pessoas na produção, a gente não tem uma verba absurda de produção nem dois helicópteros. Use a criatividade! Se você tem 40 pessoas para pensar, coloca esses 40 para pensar. Vão roubar o que a gente tem, sendo que a gente tem tão pouca gente para pensar? Mas a gente leva na esportiva. Ah é? Então isso a gente vai fazer de outro jeito. É Recópia! Imagina a gente com 40 pessoas!
 
Riccó - Mas o excesso atrapalha. É isso que eu acho que eles estão vendo hoje.
 
Terra - Que apresentadoras você admira?
Catia - São várias e cada uma tem um estilo diferente. Eu gosto da Ana Maria Braga, por um jeito que ela tem leve, bom pra de manhã. Ela não te incomoda. Você deixa a televisão ligada de manhã e, enquanto você faz as coisas, ela não te irrita. Gosto da Eliana. Acho que ela também é uma apresentadora que tem o tom dela, não é um tom imitado. Gosto da Regina Volpatto, porque ela também é muito natural. Gosto de gente que mostra o que é de verdade. 
 
Terra - Você já recebeu convites para trocar de emissora?
Catia - Essas coisas sempre acontecem, mas aí depende do que interessa para você naquele momento. Funciona assim para todo profissional. Aí você pensa “o que é importante para mim nesse momento? O que eu quero?” E a gente tem uma relação de transparência aqui. Mesmo quando, em outras oportunidades, aparecerem alguns convites que ficaram evidentes na mídia, eu cheguei e falei “ó, foi verdade, mas não me interessa por isso, isso e isso e eu vou continuar aqui”. Então a gente tem uma relação boa nesse sentido.
 
Terra - Você é a musa do Top 5 do CQC. Lembra a primeira vez em que entrou na lista?
Catia - Ah, acho que foi com o Doutor Pellini, mas qual foi a vez eu não me lembro. Eu acho isso divertido, porque eles têm um humor inteligente, eles nunca menosprezam, nunca satirizam a gente. Algumas coisas que aparecem lá é o que a gente mesmo ri na hora, que a gente fala “gente, tosco demais”. Tem muita coisa que acontece que sai do controle. Então eu acho isso muito legal. Eu participei do CQC 200 e achei ótimo. Eles são muito inteligentes, gosto muito dos meninos.
 
Terra - Como foi participar do CQC 200?
Catia - Foi ótimo, muito divertido. Eles deixam todo mundo à  vontade. Então foi muito legal. Todo mundo sabe que tem coisas que dão errado. Então, se der errado, a gente assume que deu errado. Ontem puseram uma música, eu ouvi e falei “nossa, que música horrível, que música é essa?”. Aí tem gente que fala “mas precisava falar que a música era horrível?”. Ué, mas a música era horrível pra mim! Me falaram que a música era do fulando de tal. Mas, fulano de tal, a sua música é horrível. “Vou apertar a sua bundinha, vou pegar na sua bundinha...” É horrível! Eu sou tiazinha! 
 
Riccó - Mas, ao mesmo tempo, se essa música estourar e entrar no primeiro lugar da rádio, não é porque a gente não gosta que não vai entrar no programa.
 
Catia - É, no programa, entra o que tem que entrar. Não é o que eu gosto nem o que você gosta. É o que as pessoas querem ver. O programa não é pra mim nem pra ele nem pra produção, o programa é pra quem assiste. Se elas tão gostando, se elas querem isso, ok, a gente faz.
 
Terra - Como seria um top 5 só de Catia Fonseca?
Catia - Ah, tem muitos. O pior foi o do pintinho. A gente tinha uma pauta que tinha pintinhos e coelhos. Era na época da Páscoa. Tiveram a brilhante ideia de colocar uns arranjos e os bichos soltos. Eu falei “olha, nós vamos pra outra pauta, esses bichos vão fugir”. Aí o camarada que trouxe os bichos disse “não, eles são muito bonzinhos, não vão fugir”. Tá bom então. Eu tava sentada no sofá entrevistando nem lembro quem. Quando eu olho, os pintinhos fugindo, os coelhos fugindo... E eu só olhando. Aí, no estúdio, um coelho corre, outro corre. Um tenta pegar e o coelho corre. Aí pegaram, mas ficou faltando um pintinho e ninguém conseguia pegar o pintinho. E eu entrevistando uma mulher. Aí ficou esse pintinho e ninguém segurava o raio do pintinho. Aí eu falei pra convidada “dá licença um pouquinho, eu já volto pra gente conversar”. Levantei , falei pros meninos “não se mexam, eu vou pegar o pintinho”. E aí eu dei um pulo e catei o pintinho. Você não consegue fazer a pauta com tudo isso rolando. E o coelho passou na câmera, o pintinho passava e gritava, a gente vai fazer cara de paisagem? Vão achar que a gente tá louca, né? Eu só não esperava ter que dar um peixinho. Na hora ele correu e eu tive que dar um impulso um pouco maior. Aí eu me arremessei, foi horrível! Esse foi o pior, o mais dramático. Aí o CQC colocou que eu sabia bem como pegar um pintinho, olha que coisa horrível! Mas não dá pra ter medo do ridículo, senão você não faz nada. Sempre vai ter alguém que vai te achar ridículo.
 
Riccó - É super bom pra gente estar no CQC.
 
Catia - É uma divulgação. Esses dias o Marco Luque estava pedindo desculpas, falando que pegava pesado. Mas eu falei que a gente fica chateado é quando não entra! Pra gente, é ótimo, não é ruim. Como eu disse, eles não são grosseiros. Mas eu não assisto porque é muito tarde. Eu assisto de manhã no dia seguinte, pela internet. Entro no site da Band e assisto. 
 
Riccó - Não é a à toa que é um dos últimos quadros.
 
Catia - Claro, pra segurar a audiência. Mas eles têm um humor inteligente. Salvo algumas exceções, eu acho que acaba sendo muito legal. E as pessoas não querem naturalidade? Então. Eu acho que o principal é isso. Não adianta você achar que vai ter uma fórmula mágica pra você de repente estourar.
 
Terra - Você já ficou chateada com alguma coisa que eles disseram?
Catia - Não. Eu não fico chateada com o que ninguém diz, porque eu acho que cada um tem o direito de achar o que quiser. Assim como eu não gosto de todo mundo, ninguém é obrigado a gostar de mim. Eu não fico chateada com nada, não. Quando eu leio, eu questiono “será que o fulano tem razão?”. Se tem razão, eu falo “pô, é verdade”. Se não tem, eu deleto e um abraço. Isso não me influencia. Nem se tá indo mal de audiência, nem se tá indo bem de audiência, a gente faz tudo do mesmo jeito. Se tem um assistindo, ele vai ter que ser respeitado.
 
Riccó - A nossa briga ontem foi por causa disso.
 
Catia - É (risos). O bom é que a gente faz as DRs mas sai resolvido. Eu falei pro meu marido hoje que eu gosto de fazer DR com o Riccó porque a gente se resolve! A gente briga, treta, mas aí fica tudo bem.
 
Riccó - É que tem vários pontos de vista. Ela está com o posto de vista do que está acontecendo no estúdio e eu não estou vendo. Eu estou com o ponto de vista das câmeras. A maior parte das discussões que a gente tem é por causa disso, porque ela está defendendo o lado dela, eu estou defendendo o meu. Você tinha que ouvir o que acontece na nossa comunicação.
 
Catia - É, eu tava falando pra ela. Mas isso anima a gente, senão vira um tédio!
 
Riccó - Às vezes acontece de a Catia estar entrevistando um médico e eu falar “ô, Catia, esse cara é veado”.
 
Catia - É! E aí eu faço assim, ó (balança a cabeça afirmativamente), se eu acho que é. No merchandising, tinha um tiozinho que vinha que era muito engraçado. Aí o Riccó me dizia “Fonseca, duvido que você dê um pedala nele”. Mas isso a gente não pode mostrar.
 
Riccó - Às vezes eu testo a Catia no ponto. Mas posso falar o que for e ela não desmonta.
 
Catia - Pode brigar comigo que eu não vou desmontar. E também tô ouvindo, pra depois eu poder rebater. Então eu também tenho que prestar bastante atenção. Não posso apagar. Senão como eu vou rebater o que ele disse? 
 
Riccó - Uma vez aconteceu uma coisa engraçada. Eu disse “Catia, repete o que eu tô falando”. 
 
Catia - É, aquele dia foi f... Eu tava no “merchã” e ele falou assim “Fonseca, confia em mim. Você vai sair do merchandising e eu vou te falar o que é pra fazer. Eu vou falando e você vai falando, tá bom?”. E eu “tá bom”. “Vocês vão ver agora...”, ele começou a falar e eu fui repetindo. “Porque agora a gente vai mostrar...”, e aí ele não falou.
 
Riccó - Tocou o telefone. 
 
Catia - Ele atendeu o telefone e esqueceu de mim! (risos) Aí eu “a gente vai mostrar algo muito especial que a gente separou pra vocês”. Ele simplesmente esqueceu de mim! Era um problema que ele tinha que resolver naquela hora e ele esqueceu de mim, porque ele sabe que eu também vou continuar. Então tudo bem, a gente não briga.
 
Terra - Alguma vez você ficou desconcertada com algo que aconteceu ao vivo?
Catia - Não. Acontece um monte de coisa errada, mas nada que me deixe abalada. Uma vez a Elke Maravilha veio, sentou e me falou “não gosto de você”, ao vivo. Aí eu perguntei “não?”. E ela “não”. E eu disse “ah, tudo bem, porque eu gosto de você”. Ela que não gosta de mim, eu gosto dela! 
 
Terra - Só hoje foram 21 merchandisings. Isso não te incomoda?
Catia - Isso faz parte. Mas tem que ter a hora certa de fazer o “merchã”, o jeito certo de entrar... Porque, por exemplo, às vezes tem quatro empresas de odontologia. Então tem que bolar abordagens diferentes, pra não repetir a mesma coisa que você já falou pro concorrente.
Fonte: Terra
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