Para salvar 'Chuck', mudanças radicais
- Dave Itzkoff
Vocês se lembram de quando Chuck era um seriado sobre um novato inepto tentando sobreviver no mundo da espionagem e do perigo? Bem, preservem essas recordações.
Algumas semanas atrás, Zachary Levy, o ator que interpreta o protagonista nerd desse seriado na rede NBC estava no estúdio da Warner Brothers, em Burbank, preparando uma cena de um futuro episódio. Depois de invadir a sede secreta de uma organização maligna de espionagem, Chuch Bartowski estava a ponto de iniciar um tiroteio com um sinistro agente inimigo, desarmar um segundo vilão com uma série de manobras de artes marciais e nocautear um terceiro com um único soco.E isso porque o personagem é um nerd.
Para a base de fãs de Chuck, pequena mas ferozmente leal, a cena indica a nova direção criativa que esse seriado de humor e ação está tomando em sua terceira temporada. (A estreia, em um episódio de duas horas, acontece neste domingo; depois, ela tomará seu novo horário às segundas-feiras.)
Trata-se de apenas um dos passos agressivos e potencialmente perigosos que os produtores do seriado decidiram dar para manter o programa vivo em uma rede em crise e em uma das mais competitivas noites da semana ¿e mesmo assim eles sabem que essas mudanças podem não bastar.
"Certeza não é algo que acompanhe esse trabalho", disse Josh Schwartz, um dos co-criadores de Chuck, em seu escritório, no mesmo estúdio. "Fazer essa série oferece diversos prazeres, mas certeza quanto ao futuro nunca foi um deles".
Chuck, que acompanha as aventuras de um nerd entusiasta dos computadores que termina incorporando um banco de dados sobre espionagem ao seu cérebro, enfrenta dificuldades desde a estreia, em 2007. Ainda que tenha recebido críticas positivas e conquistado audiência decente, a primeira temporada (com média de público de 8,7 milhões de telespectadores por episódio) terminou abreviada pela greve dos roteiristas.
Na segunda temporada, nem mesmo um episódio em 3D, pesadamente promovido, bastou para deter a queda de audiência (média de 7,4 milhões na temporada, mas apenas 6,11 milhões de pessoas assistiram ao episódio final). Por isso, no segundo trimestre deste ano a NBC parecia incerta quanto a renovar ou não o contrato com os produtores da série.
Para conseguir a terceira temporada, Schwartz, seu co-criador Chris Fedak e McG, o produtor do seriado, ofereceram uma nova ideia à rede: ao receber uma atualização do software que traz incorporado ao cérebro, Chuck ganha novas capacidades como espião e poderes físicos que terá de aprender a controlar; se as circunstâncias forem propícias, o desajeitado herói pode se tornar um guerreiro.
"Ele não é mais o mesmo cara que, na primeira temporada, ficava sentado no carro soltando gritinhos de medo", disse Schwartz. "Se o tema do ano passado era o amadurecimento de um menino, o deste ano será o da transformação do homem em espião".
Mas quando a NBC anunciou sua primeira lista de séries que seriam retomadas na nova temporada, Chuck não estava entre os nomes incluídos. "Eles disseram que não deveríamos entender esse fato como indicador", afirma Schwartz. "Mas como isso seria possível?"
Os executivos da NBC afirmam que estavam procurando uma maneira de trazer Chuck de volta. "O cancelamento foi discutido", disse Angela Bromsted, vice-presidente de entretenimento de horário nobre na rede. "Mas gostávamos de ter uma série jovem, e uma base entusiástica de fãs é algo que sempre merece consideração".
Por isso, os produtores de Chuck recorreram a todos os fãs influentes que encontraram, e conversaram com blogs de televisão e com veículos tradicionais de mídia (entre os quais o New York Times) sobre as incertezas quanto à continuação do seriado. Uma conscientização maior -e mais atenção de mídia- surgiu com uma campanha iniciada na Web pela fã Wendy Farrington, que encorajou outros espectadores a comprar sanduíches da cadeia de lanchonetes Subway (um dos patrocinadores da segunda temporada) durante a transmissão do episódio final de Chuck, em 27 de abril.
Na verdade, o patrocínio de Subway pode ter salvo o programa, porque a companhia fechou contrato para a terceira temporada, enquanto os produtores aceitavam em reduzir em algumas centenas de milhares de dólares por episódio o orçamento de produção da série. (Como aconteceu na temporada passada, os sanduíches da Subway continuarão aparecendo em lugares lógicos da vida de Chuck, como o shopping center onde ele trabalha.)
"Não é que eles estejam bancando o seriado", disse Fedak, "mas esse dinheiro ajuda a cobrir os custos e assim podemos explodir mais coisas. Olha, eu mesmo adoro sanduíches, especialmente de atum".
Depois de fechar com a NBC para uma temporada de 19 episódios, os produtores de Chuck planejam reforçar os elementos heróicos da série e de seu protagonista, e trarão atores famosos como convidados, a exemplo de Brandon Routh, de Super-Homem, e de Stone Cold Steve Austin, um astro da luta-livre.
Schwartz também prometeu que a nova temporada veria a solução da subtrama romântica que envolve Chuck e sua atraente guardiã, uma agente da Agência Central de Inteligência (CIA) interpretada por Yvonne Strahovski.
Uma nova campanha publicitária da NBC também vai difundir a mensagem de que Chuck deixará de ser bonzinho. "Estamos tentando abandonar o humor mais pastelão de temporadas anteriores", disse Adam Stotsky, presidente de marketing da NBC Entertainment. "Vamos nos concentrar na inteligência e no humor inteligente, e não no humor tolo".
Schwartz disse que, comparada à outra série que ele produz na rede, a novela de luxo Gossip Girl, Chuck tem um tom mais esperançoso, que pode atrair audiência mais ampla.
"Trata-se da história de um cara na casa dos 20 anos que tenta descobrir seu lugar no mundo ¿aquela sensação de que você não está realizando seu potencial, e de que seria capaz de muito mais, se houvesse uma oportunidade", ele disse. "Existe muita gente por aí que se sente exatamente como Chuck Bartowski".
Mas o programa não deixará completamente de lado seu jeito nerd. Chuck continuará trabalhando como técnico de computação e enfrentará dificuldades cômicas ao não conseguir invocar seus poderes de espionagem recém-descobertos. Mas, em um intervalo entre cenas de ação, Levi reconheceu que alterar o tom do programa era um risco e que isso poderia alienar os atuais espectadores.
"Quando começamos a série, havia um forte sentimento de que não queríamos fazer um novo Agente 86, e sempre repetíamos isso", ele diz. "Mas com o progresso da série, percebemos que, bem, estamos de certa forma fazendo um Agente 86".
Apesar das dificuldades de audiência, Levi diz que sente forte lealdade pela série e que faria tudo para mantê-la no ar. Por exemplo, em lugar de privilégios normalmente reservados aos astros de séries de TV -trailers maiores, serviços de massagem-, ele pediu simplesmente a oportunidade de dirigir um episódio da nova temporada. ("Conseguimos permanecer por pouco", disse Levy, "e por isso não era um bom momento para renegociar meu contrato e pedir mais coisas, só para ouvir: 'Ei, dê-se por feliz de ainda ter emprego'".)
Levi também diz que sente a obrigação de promover a série sempre que pode, seja em uma convenção de fãs na Inglaterra, seja na cerimônia anual da árvore de Natal da NBC no Rockefeller Center. ("Se pretendo participar da cerimônia de Natal de novo?", disse. "Provavelmente não. Quando essa hora chegar, talvez eu não esteja mais na NBC".)
Chuck enfrenta adversários formidáveis no horário das 20h de segunda-feira The Bachelor, na rede ABC, House, na Fox; e How I Met Your Mother, na CBS. Bromstad disse que ficaria feliz se Chuck mantiver o nível de audiência de sua predecessora, Heroes, que está sendo transferida para as 21h e conseguiu audiência de mais de cinco milhões de telespectadores por episódio na atual temporada.
"O horário é muito difícil, e reconhecemos o fato", diz.Já que uma decisão sobre a renovação pela quarta temporada está se aproximando, Schwartz diz que ele e sua equipe estão dirigindo o seriado da mesma forma que fizeram no ano passado."Estamos tentando galgar novas alturas", disse, "e caso haja uma nova temporada, descobrir como superar o que fizemos nesta fica como problema para o ano que vem".