Lucianas da vida real vibram com história de 'Viver a Vida'
- Gabriela Germano
- Rio de Janeiro
"A cadeira de rodas é só um detalhe." Quem diz isso é Caroline Paiva, 27 anos, paraplégica e modelo. A história de Luciana (Alinne Moraes) em Viver a Vida (Rede Globo) é ficção, mas a de Caroline e a de mais 64 portadores de deficiência que trabalham com a fotógrafa Kica de Castro são pura realidade.
Carina ficou paraplégica aos 18 anos. Hoje, aos 30, trabalha como modelo. Ela e as companheiras estão felizes em saber que Manoel Carlos optou por um caminho feliz - e perfeitamente possível - para sua personagem. "Luciana vai voltar a fotografar, sim. E não vai demorar", adianta o autor.
Carina Queiroz, 30 anos, que se tornou deficiente aos 18 após sofrer um acidente de carro, defende a abordagem realista da novela. "Ela vai voltar a trabalhar em uma área que valoriza muito o físico. Com uma lesão medular, nosso corpo muda muito, mesmo com todo o tratamento. Não quero milagres, com Luciana voltando a andar no final da história. Mas ela pode fazer fotos e ir para a passarela. Isso resgata um pouco da minha história", compara a baiana, que além de modelo, trabalha como enfermeira.
Kica começou a fazer fotos de portadores de deficiência em 2002. "Trabalhava em um centro de reabilitação, com fototerapia, para melhorar a autoestima das pessoas. Mas elas começaram a se sentir atraentes e pedir um espaço no mercado de trabalho. "Desde 2007, tenho uma agência que coloca 65 modelos, de 4 a 58 anos, em contato com clientes que tenham interesse em realizar campanhas com eles. Alguns casos são surpreendentes, como o da Diolice. Ninguém acreditava que ela tinha força nos braços para fazer uma foto se apoiando", conta Kica.
Boa parte dos trabalhos é voltada para desfiles e também marcas que fazem roupas adaptadas, explica a fotógrafa, que admite existir preconceito. "Tenho uma modelo linda em Maceió. Um cliente a escolheu para a campanha de um resort de luxo, mas escondeu suas deficiências. Ela usou próteses."
Caroline, no entanto, portadora de deficiência desde os 9 anos por causa de um acidente de carro, diz não sofrer preconceito. "Entre os eventos (dos quais participou), fiz até festa da revista Sexy. Foi um sucesso. Trabalhava com telemarketing, mas hoje não dá para conciliar com meu trabalho de modelo".
Antes de voltar a trabalhar, Luciana vai sofrer para se adaptar às mudanças
A personagem Luciana vai ficar radiante com a oportunidade de retomar sua carreira de modelo em Viver a Vida, mas antes disso sofrerá um bocado para se adaptar à cadeira de rodas. Esta semana, a personagem de Alinne Moraes receberá a notícia de sua iminente alta e Tereza (Lilia Cabral) e Marcos (José Mayer) terão dificuldades de convencê-la a usar a cadeira de rodas.
"Quando tive hérnia de disco, fiquei um mês na cadeira de rodas", lembra o pai de Luciana (Jose Mayer). A modelo vai retrucar: "Ainda bem que era só por um mês". Ele tentará amenizar: "Não importa se é por um mês, dois". Luciana vai novamente cortá-lo: "Importa, sim. Não tente me enganar. Um mês é um mês, dois meses são dois meses. Mas, no meu caso, o que sinto é que vou sentar para não levantar nunca mais". Neste momento, Miguel (Mateus Solano) vai intervir: "Na verdade, ninguém pode garantir isso", tranquilizará o médico, reiterando que ela pode ter uma vida normal.
Mesmo fragilizada, Luciana não perderá o jeito direto de falar e vai retrucar as tentativas de fazê-la se conformar e seguir em frente. "Reforma, adaptação, deixar tudo pronto para receber um cadeirante para toda vida. Se fosse por 30, 40 ou 50 dias, ninguém teria feito tudo isso."
Para dar continuidade ao processo de reabilitação, a terapeuta ocupacional Graziela (Adriana Zattar) entrará na história de Manoel Carlos. "Estava acompanhando a história da Luciana e me emocionava. Entro na trama para levar ânimo, esperança. Vou participar das descobertas dela, que agora lida com um novo corpo. Como venho no pacote da cadeira de rodas, no começo Luciana vai resistir. Mas minha personagem vai ter que se aproximar com firmeza e doçura ao mesmo tempo", afirma Graziela.