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'Nada Será como Antes': a história da TV contada na TV

Globo exibe telefilme este sábado (19), que conta como a chegada da TV em 1950 mudou o Brasil

19 set 2020 - 13h10
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José Luiz Villamarim conversa com o repórter pelo tefone. Está no carro da produção que o leva para o estúdio da Globo onde, daqui a pouco, iniciará a gravação do dia de Amor de Mãe. Villamarim retomou as gravações da novela em 14 de agosto, há pouco mais de um mês. "Às 12h30, coloco a minha máscara, troco algumas vezes durante o dia, mas permaneço assim até as 9 da noite. Cansa, às vezes a gente tem dificuldade de respirar, e é muito estranho ver todo mundo mascarado, com aqueles aventais brancos que fazem parte do protocolo de segurança. A sensação é de estarmos num hospital."

O que Villamarim sente mais falta é da proximidade dos atores. "Sou um diretor muito físico, gosto de tocar, dando as instruções, e isso agora é impossível." Mas o contato não é para falar exatamente da novela, interrompida pela pandemia, mas sobre a série Nada Será Como Antes, que conta a história da TV no País. A série foi criada em 2016 por Guel Arraes e Jorge Furtado, com direção artística de Villamarim. Na sexta, 18, foi a data exata. Nesse dia de setembro de 1950 - há 70 anos -, a TV comercial surgiu oficialmente no Brasil. A Tupi, com equipamentos que Assis Chateaubriand trouxe dos EUA. A partir desse dia, nada mais foi como antes. A TV entrou nas vidas dos brasileiros. Instalada na sala, e no começo em preto e branco, veio substituir a Rádio Nacional como testemunha ocular da história.

A série reconstitui esse passado heróico. Os pioneiros da TV. O empreendedor Murilo Benício, que tem um romance com a locutora de rádio Débora Fallabela e ela vira estrela na telinha. Dois irmãos do hi-society, Daniel de Oliveira e Letícia Colin, que se metem nesse novo meio. Duas histórias cruzadas. A primeira, mais clássica; a segunda, mais apimentada.

Originalmente, a série tinha dez capítulos. Transformada em telefilme, será a atração deste sábado, 19, no Supercine da Globo, após o programa Altas Horas. Há uns seis meses, pouco mais, Villamarim vivia intensamente o processo de filmagem de Amor de Mãe. Guel Arraes veio com as proposta - reduzir os dez capítulos, transformar Nada Será Como Antes em telefilme. "Eu até comecei o trabalho, mas estava com a cabeça dividida e devolvi para o Guel." E Guel, também pelo telefone, mas de casa, onde cumpre o isolamento, conta: "Voltei ao roteiro original e criei um novo roteiro. Privilegiei alguns núcleos, abandonei outros. É impossível reduzir quase dez horas em duas sem cortar severamente."

Villamarim garante que ficou bem bacana. "A história segue centrada na Débora e no Murilo Benício, mas a Letícia cresceu bastante, num triângulo bem intenso. A TV surgiu numa década que seria marcada pela transformação do Brasil. O presidente Juscelino Kubitschek, a construção de Brasília. A transformação atingiu o comportamento das mulheres, que avançaram na mudança de padrões da vida famíliar e profissional."

O repórter não se furta a elogiar Leticia, que esteve recentemente no ar como a princesa Leopoldina da novela Novo Mundo e a Marilyn da série Cine Holliúdy. "A Leticia é uma potência. Prepare-se porque ela virá muito forte em Onde Está Meu Coração, do George Moura e da Luiza Lima, que supervisionei. Já está pronta, mas deve entrar só no ano que vem, março ou abril."

Reverlar os bastidores da TV é a proposta que Nada Será Como Antes mantém, mesmo em sua versão compacta. Guel já acertou em cheio ao transformar O Auto da Compadecida, de uma microssérie em quatro capítulos para telefilme de sucesso. "Temos feito bastante essas mudanças de formato. Quando propus a Nada Será Como Antes, não estava pensando especificamente nas comemorações dos 70 anos da TV. Foi a emissora que preferiu esperar." Villamarim reflete: "Muitas vezes, a gente faz um produto já pensando em outro formato. Se faço uma série sabendo que lá adiante vai virar filme, já tomo certas precauções que poderão facilitar a conversão. Nesse caso, a proposta veio depois. O Guel foi fundamental."

Ele iniciou Amor de Mãe à base de planos-sequências, mas agora, com o distanciamento no set, tem cortado mais. Espera que isso não rompa o conceito - jogar o telespectador dentro da ação. Ambos, Guel e Villamarim, estão com novos filmes engatilhados. Se não fosse a quarentena, Amor de Mãe já teria terminado e Villamarim entraria na pré-produção de Crônica da Casa Assassinada. A adaptação do romance de Lúcio Cardoso será sua próxima parceria com o roteirista George Moura e a produtora Vânia Cattani. Guel também já tem pronto o roteiro para a sua versão de Grande Sertão - Veredas, escrita com Jorge Furtado. "Na verdade, poderíamos ter avançado bastante, até filmado, se o governo não tivesse transformado a Ancine nesse imbróglio. Tratar o cinema como inimigo não é solução."

Estadão
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