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'Meus professores foram os filmes que assisti', diz João Emanuel Carneiro

Autor respondeu a perguntas sobre sua novela 'A Favorita', que está de volta no 'Vale a Pena Ver de Novo'

16 mai 2022 - 05h10
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Quando estreou em 2008, A Favorita provocou reações variadas no público noveleiro, que se mantinha fiel aos folhetins, com personagens bem delineados. Afinal, como o autor, João Emanuel Carneiro, se atrevia a criar uma trama que não deixava claro quem seria a vilã e quem seria a mocinha? Em uma sacaca audaz, o folhetim que ocupou o horário nobre foi com o tempo conquistando fãs, que se dividiriam na torcida pelas protagonistas, Donatela (Claudia Raia) e Flora (Patrícia Pillar). Após tantos anos, a produção ganhou o direito de ser reprisada no Vale a Pena Ver de Novo, a partir desta segunda-feira, 16, na Globo.

Em sua estreia no horário das 9, ou das 8 como era na época, com A Favorita, João Emanuel chegou com uma proposta que levaria a dividir opiniões, o que mexeria com a audiência do horário, o ponto forte da emissora. Mas ele estava convicto que sua ideia era plausível, manteve o foco e conseguiu fazer com que a novela se transformasse em um marco, com personagens icônicos. Algo que ele também garantiu com Avenida Brasil e sua inesquecível vilã Carminha (Adriana Esteves).

Desde que começou a assinar sozinho os folhetins, João Emanuel mostrava que o objetivo era inovar, colocar um tempero fora do tradicional. Foi o que fez com sua primeira empreitada solo, em 2004, ao investir em uma protagonista negra em A Cor do Pecado, com Taís Araujo assumindo a personagem principal. Por aí já dava sinais que sua trajetória da TV seria escrever de forma a ser reconhecido pelos detalhes fora do tradicional.

A Favorita começa mostrando, em seu primeiro capítulo, as duas personagens principais iniciando o dia, cada uma de uma forma específica e bem contrastante. Donatela, em sua rica mansão, desperta em seu quarto luxuoso e usa seu amplo banheiro. Flora, por sua vez, acorda na estreita cama em que dorme na prisão, espaço reduzido, com poucos apetrechos e nenhuma comodidade. Mas há algo em comum para as duas. Esse é o dia em que Flora sairá da prisão. Um momento aguardado pelas duas.

O autor de 'A Favorita', João Emanuel Carneiro, em foto da época em que escreveu a novela 'Segundo Sol' (2018)
O autor de 'A Favorita', João Emanuel Carneiro, em foto da época em que escreveu a novela 'Segundo Sol' (2018)
Foto: João Cotta/TV Globo/Divulgação / Estadão

Será dessa forma que o autor colocará em cena a dúvida sobre o caráter delas, quem é quem de verdade. Mistério que permaneceria por muitos capítulos. Seria a rica Donatela a vilã da novela, aquela tem tudo de bom e do melhor, enquanto Flora amargou 18 anos atrás das grades por ser condenada pela morte do marido de Donatela? Essa dubiedade continuou até o ponto em que o autor revela a verdade sobre as duas personagens. Foi no capítulo 56 que a verdadeira vilã se mostra.

A Favorita também pode ser vista na plataforma Globoplay. E é sobre essa obra que o autor respondeu algumas questões do Estadão, via e-mail. Para ele, trata-se de uma "história que continua bem atual hoje em dia, uma época de heróis suspeitos e dúbios".

Inovar no formato de contar uma história em um gênero tão importante e popular na TV brasileira, foi algo que precisou de aval?

Na época contei com o aval do Manoel Martins, do Mário Lúcio Vaz, do Ary Grandinetti e do Érico Magalhães, que eram diretores da Globo. Eles tiveram coragem de apostar numa história ousada e inovadora, quebrando vários paradigmas do folhetim.

De onde veio a ideia de iniciar uma trama sem deixar claro quem era a vilã e a mocinha?

A história nasceu dessa ideia: duas versões de uma mesma história, quem está dizendo a verdade? Me parece que a história continua bem atual hoje em dia, uma época de heróis suspeitos e dúbios, num mundo polarizado em que cada um quer acreditar na história que nos cabe melhor.

Em que momento você decidiu quem seria a vilã da novela? Foi difícil essa decisão? Essa revelação naquele momento da trama foi um lance para elevar a audiência?

Sempre soube que a Flora era a assassina.

Foi tudo de caso pensado, digo, pensou toda a trama antes, desde esse começo dúbio até o desfecho? Ou foi escrevendo de acordo com o que sentia e via?

Não mudei nada para elevar a audiência.

Você se divertiu com as reações do público?

Fiquei pasmo quando muitas telespectadoras me escreveram relatando que entraram em crise existencial, não conseguiam mais dormir quando descobriram que a mocinha pobre por quem elas torciam era a vilã da história.

Se surpreendeu ao ver que o público se identificou mais com a vilã, por ela ser pobre? É algo que caracteriza a sociedade brasileira?

Pois é, esse detalhe da identificação do público com a moça pobre era mais radical ainda do que eu imaginava. Fazer da pobre mocinha uma assassina foi a coisa mais disruptiva da novela.

Você gosta de vilões, afinal, criou duas das maiores, Flora e Caminha. Eles são mais densos, mais interessantes mesmo?

Eu espero que o público vibre com a novela como foi na exibição original. Acho que agora vai ter um lado interessante porque o espectador irá assistir à novela já sabendo quem é a vilã da história desde o início, vai poder observar as personagens de uma outra forma, e vamos poder acompanhar essa repercussão imediatamente pelas redes sociais.

É verdade que a abertura de A Favorita já dava dica da vilã?

A abertura da novela não dá dica nenhuma.

Existe uma fórmula ideal para desenvolver uma novela de sucesso? Você teve bons professores nessa área?

Meus professores foram os filmes a que assisti, sete por semana no mínimo desde a adolescência. Acho que o cinema me salvou de um certo lugar comum de acreditar que existe uma espécie de manual de folhetim.

Estadão
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