Jonas Bloch se anima com vilão Ricardo em 'Bela, a Feia'
Aos 51 anos de carreira na TV, Jonas Bloch sente a mesma animação de um estreante ao receber um personagem. Falante e muito bem-humorado, o ator arregala os olhos azuis ao detalhar as características do ganancioso Ricardo, de Bela, A Feia, que estreia no próximo dia 4 na Record.
Na novela, uma adaptação de Gisele Joras da trama colombiana Betty, A Feia, Jonas interpreta o maquiavélico dono do grupo de empresas Ávila. No entanto, a empresa de Ricardo, utilizada como cenário da história, é a fictícia agência de publicidade Mais Brasil.
Casado com a sofisticada Vera, personagem de Silvia Pfeifer, e pai do mocinho Rodrigo, vivido por Bruno Ferrari, o papel de Jonas é repleto de contradições. Logo no início da trama, apresenta atitudes suspeitas ao não deixar a mulher se encontrar com o filho. Aos poucos, começa a mostrar uma série de segredos que prometem movimentar a trama dirigida por Edson Spinello.
"Ele não é exatamente um vilãozão. Tem horas que o público vai achar que ele até é uma boa pessoa. Mas vai ser um impacto grande quando tudo for revelado", valoriza.
Em sua terceira produção com o diretor Spinello na Record, desde que viveu o temível Ramalho em Bicho do Mato, há tempos Jonas não se empolgava tanto com seu trabalho na TV. "Se eu não fizer a próxima novela do Spinello, vou começar a pedir pensão", brinca.
Depois do Ramalho, os trabalhos que mais marcaram as lembranças do mineiro de 70 anos foram outros temerosos vilões. Como o Russo de Corpo Santo, na extinta Manchete, ou mesmo o Ismael de A Viagem, na Globo. "Mas, em seguida, sempre fiz personagens bonzinhos", minimiza.
Para passar mais veracidade ao poderoso e bem-sucedido empresário de Bela, A Feia, Jonas se preocupa não só com a composição do reservado personagem, mas com sua aparência. Para aparecer mais esbelto nos irretocáveis ternos italianos de Ricardo, o ator tem suado a camisa nas aulas de tênis. Esporte, aliás, que o personagem será praticante assíduo. "Já fiz aulas de tudo para meus papéis: mergulho, piano, surfe, esgrima. Acho ótimo porque me dá disposição. Esse personagem é muito vaidoso", ressalta, encolhendo a barriga.
Mas a vaidade de Jonas passa por outro caminho. O ator prefere se orgulhar de sua vasta trajetória na TV, desde que estreou na extinta Tupi do Rio no programa Câmara 1, em 1958.
Nessa época, como todos os programas e novelas eram transmitidos ao vivo, o ator aprendeu grande parte das técnicas de improviso diante das câmaras. "Quando os atores esqueciam o texto, faziam um olhar distante, o diretor aproximava a câmara, o ator baixava os olhos e lia o texto. Depois, continuava", lembra, aos risos.
O humor sempre esteve presente na vida do mineiro de Belo Horizonte. Com os olhos sempre atentos e um sorriso no canto da boca, Jonas se torna um verdadeiro falastrão ao relembrar sua extensa permanência na Globo, onde atuou em novelas, como Pai Herói, Olho Por Olho, Irmãos Coragem e Tropicaliente, entre outras.
"Era uma época em que a qualidade ainda era mais importante que a audiência. O lado comercial da TV fez baixar muito os padrões de exigências. Isso é de uma tristeza total", critica o ator, que se formou em Belas Artes em 1972 como desenhista profissional. "Faço esculturas e desenhos até hoje. Isso me alivia a tensão. São muitos anos de carreira, preciso me distrair também", pondera.