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Há 20 anos, 'Meu Bem, Meu Mal' conflitava o amor e a busca pelo poder

23 out 2010 - 08h20
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Márcio Maio

Poucas vezes um título coube tão bem a uma novela. Quando Meu Bem, Meu Mal estreou, em 29 de outubro de 1990, há 20 anos, Cassiano Gabus Mendes conseguiu mostrar um jogo onde o amor e o ódio caminhavam juntos em quase todas as relações. E, geralmente, em função da ambição e da cobiça pelo poder. Na trama central, o ricaço Dom Lázaro Venturini, interpretado por Lima Duarte, era o sócio majoritário da Venturini Designers, uma fábrica de joias. Mas era obrigado a conviver com o bastardo Ricardo Miranda, de José Mayer, fruto de uma traição de sua esposa e dono de 30% das ações da empresa. Como se isso não bastasse, Ricardo ainda era amante da intragável Isadora Venturini, de Sílvia Pfeifer, viúva do único filho do patriarca. Uma sinopse simples, mas bem elaborada. Ainda mais considerando que Cassiano teve cerca de 20 dias entre sua criação e o início dos trabalhos. "Lembro que meu pai chegou a dizer que não sabia se teria uma ideia viável diante dessa pressa. Mas teve e foi um grande sucesso, lembrado até hoje", recorda Cássio Gabus Mendes, filho de Cassiano, que interpretou o malandro Doca.

Na época, a Globo enfrentava uma dura concorrência com a Manchete, que só subia na audiência com o sucesso de Pantanal. Por isso, era necessário que a emissora exibisse algo capaz de prender a atenção do público. Depois de experimentar Sílvio de Abreu, famoso por suas comédias das 19 horas, na faixa das oito com Rainha da Sucata, era a vez de Cassiano entrar no rodízio do horário nobre - faixa que ele, na verdade, tinha experimentado com Champagne, em 1983. A experiência deu certo e a novela conseguiu estrear com 59 pontos, caindo um pouco no decorrer dos capítulos e fechando com 55 na média geral, índice muito bom. "Foi a minha primeira experiência como autora e me orgulho por ter sido ao lado do Cassiano. Ele era o grande mago das telenovelas. Muito do que sei hoje como autora de TV aprendi com ele", elogiou Maria Adelaide Amaral, responsável pelo texto do remake de Ti-ti-ti, cuja primeira versão foi escrita por Cassiano em 1985.

Quase todos os personagens se cruzaram em um jogo de amor e ódio. Este, aliás, quase foi o título da novela. Isadora era contra o namoro do filho Marco Antônio, do então estreante Fábio Assunção, com a pobretona Fernanda, de Lídia Brondi. Por isso, foi vítima de um golpe armado pela mãe da moça, Berenice, vivida por Nívea Maria. Ela convencia o cafajeste Doca a se fingir de rico para, em seguida, dar um golpe na doce Victória, de Lizandra Souto. Já Ricardo caía nas garras da exuberante Patrícia, de Adriana Esteves, uma jovem sedutora que usava a ingênua Jéssica, da também estreante Mylla Christie, filha de Ricardo, para prejudicar o executivo. Tudo por conta de uma trapaça feita por ele em uma negociação com Felipe, pai de Patrícia, interpretado pelo saudoso Armando Bógus. Mas a gata vingativa se traía ao se apaixonar por seu rato. "O Cassiano amarrava muito bem as ligações entre cada um na história. Meu Bem, Meu Mal foi um típico novelão, cheio de surpresas", relembrou Sílvia Pfeifer, sem disfarçar o orgulho por ter estreado como protagonista de uma novela com o autor.

Meu Bem, Meu Mal foi a primeira novela da Globo a ser gravada fora dos estúdios da emissora. Na época, foi firmada uma co-produção com a produtora Tycoon. "Como o grupo ficava mais isolado lá, isso acabou unindo um pouco mais a equipe", lembrou o diretor Ricardo Waddington. Mas nem todo mundo entrou no clima de cooperação. Waddington lembra que Luma de Oliveira, que interpretava a voluptuosa Ana Maria, pediu para deixar a novela. "Ela saiu para casar com o Eike Batista", explicou. Na história, a personagem era assassinada.

Mas destaque mesmo ganhou o casal inusitado formado pelo mordomo Porfírio e pela esnobe divina Magda, interpretações inesquecíveis de Guilherme Karam e Vera Zimmerman. A aceitação popular à dupla foi tanta que os atores são lembrados até hoje pela atuação. E elogiados pelo resto da equipe. Assim como a dupla formada por Jorge Dória e Zilda Cardoso, os divertidos Emílio e Elza. "Meu pai conseguiu criar uma história com a densidade pedida pelo horário das 20 horas, mas com o traço cômico tão bem trabalhado por ele em seus sucessos das 19 horas. Foi uma combinação valiosa", analisou Cássio.

Lima Duarte e Zilda Cardoso estavam entre as feras do elenco de 'Meu Bem, Meu Mal', sucesso das 20h na Globo
Lima Duarte e Zilda Cardoso estavam entre as feras do elenco de 'Meu Bem, Meu Mal', sucesso das 20h na Globo
Foto: TV Globo / Divulgação
Fonte: TV Press
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