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Mulheres se unem em curso para discutir o desafio feminino

Maria Fernanda Cândido e Zezé Motta participam de discussões com a psicanalista Maria Homem a respeito das dificuldades da jornada múltipla

3 set 2020 - 13h24
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A pandemia de covid-19 impôs ainda mais obstáculos à mulher em seus variados papéis. A organização da casa, a nova dinâmica da vida profissional, os cuidados ampliados com a família e a manutenção do relacionamento amoroso (ou a falta de um) são alguns aspectos ressaltados pelo distanciamento social.

A discussão dessas e outras temáticas acontecerá no curso online O Desafio Feminino, da Casa do Saber, com a psicanalista Maria Homem. A partir do próximo dia 8 acontecerão sete encontros virtuais ao vivo, sempre às terças, às 20h, com 1h30 de duração.

A moderação será feita pela atriz e sócia-fundadora do espaço Maria Fernanda Cândido. Haverá participação da também atriz Zezé Motta, da doutora em filosofia Yara Frateschi, da comunicóloga Maytê de Carvalho, da antropóloga Carol Roxo, da sexóloga Carla Zeglio e da CEO de multinacional Monalisa Gomes.

A partir de alguns exemplos e reações sociais envolvendo mulheres famosas, o blog conversou sobre perspectivas da condição feminina com Maria Homem, professora da FAAP, com pós-graduação na Universidade Paris 8 e na USP, autora de No Limiar do Silêncio e da Letra – Traços da Autoria em Clarice Lispector e coautora de Coisa de Menina?, com o também psicanalista Contardo Calligaris.

A psicanalista Maria Homem entre Maria Fernanda Cândido e Zezé Motta: “Não parece haver possibilidade de defesas regressivas segurarem o desejo feminino”
A psicanalista Maria Homem entre Maria Fernanda Cândido e Zezé Motta: “Não parece haver possibilidade de defesas regressivas segurarem o desejo feminino”
Foto: Divulgação

A série Hebe, da Globo, mostra a apresentadora Hebe Camargo infeliz em um casamento baseado no ciúme excessivo do companheiro. Em uma novela antiga do mesmo canal, Mulheres Apaixonadas, havia uma personagem, Heloísa (Giulia Gam), obcecada pelo marido e classificada no grupo 'mulheres que amam demais'. Por que o sentimento de posse em relação ao outro ainda é tão presente nos relacionamentos? 

Porque confundimos duas formas de estar com o outro: ter e estar. Ter o outro como objeto de posse, de conexão a tiracolo, de insígnia fálica que revelaria meu valor e meu poder. O que é muito distinto de “estar com”, de fazer uma viagem lado a lado de um outro ser, com sua subjetividade, seus gostos, prazeres, desejos, corpo e universo social. Quem sabe um dia saibamos refazer esses pactos.

A cantora Anitta tem sido duramente criticada por trocar de namorados com frequência e falar abertamente de libido e experiências sexuais. Por que, em 2020, uma mulher sem pudor em relação ao sexo ainda é tão julgada e discriminada? A sociedade nunca aceitará uma mulher que exerce plenamente a liberdade sexual?

A sociedade brasileira se diz conservadora e parece gostar de se identificar com essa imagem, atrelada a uma névoa de “bons costumes” e “fé cristã”. No entanto, essa mesma sociedade parece também estar maturando processos de transformação de lugares, com uma ampla discussão de gênero, raça, classe e deslocamentos de paradigmas patriarcais. O caminho é longo, mas não parece haver possibilidade dessas defesas regressivas segurarem o desejo feminino, como têm feito ao longo dos últimos milênios. Um outro paradigma de feminino veio para ficar.

Pela primeira vez, o Grupo Playboy é comandado por uma mulher no Brasil, Cinthia Fajardo. A executiva anunciou que pretende implementar um olhar feminino nas próximas produções pornô. O romantismo tão prezado pelas mulheres em geral pode conviver bem com o pragmatismo da pornografia?

Essa questão se conecta com a anterior. Só acrescentaria aqui um detalhe: sexualidade tem muito menos a ver com "romantismo” do que gostamos de acreditar. O erotismo, como sabemos há séculos, é muito mais uma trama ligada a nossas experiências precoces, infantis e corporais. É jogo de forças e montagens inconscientes. Para os homens isso já é claro. Agora resta ao imaginário feminino o direito de explorar esses cenários.

Acredita que as transformações impostas pela pandemia de covid-19, como a overdose de convivência familiar e o home office, afetaram ainda mais a mulher em sua tríplice jornada? 

Sim, as pesquisas indicam isso. Tenho dito que estamos vivendo uma quarentena-revelação. Um momento histórico que desvela as estruturas de funcionamento de nossa vida, tanto em nível pessoal quanto coletivo. E a hiperconvivência só aprofunda esse processo. Vemos aumento da sobrecarga sobre a mulher na condução das tarefas da casa, os cuidados com os filhos, o seguimento nas atividades da escola e educação. E, num outro aspecto da questão, vemos também o aumento da violência contra a mulher, tanto nas estatísticas de agressão e assédio como feminicídio. Ou seja, a mulher trabalha mais e ainda paga mais o pato: está no polo frágil da força como bode expiatório da tensão destes estranhos tempos.

Cresceu o número de separações e divórcios desde o início da pandemia. O aumento da convivência do casal pode ser apontado como causa principal dos rompimentos ou teria sido apenas um gatilho para relações problemáticas até então administráveis?

Qualquer processo é em parte deflagrado por gatilhos específicos, que engendram o que a gente costuma chamar de contingência, e também por forças mais subterrâneas e ancestrais. Chega o dia em que essas duas faixas, as atuais e as estruturais, se cruzam e operam um deslocamento do equilíbrio de forças até então vigente. Aí é que se adoece, ou se mata, ou se nasce ou se cria uma obra. Uma separação ou um apaixonamento acontecem assim.

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