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Séries chinesas ganham o mundo como armas de "soft power"

29 dez 2025 - 12h41
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Depois dos k-dramas coreanos, é a vez dos c-dramas conquistarem fãs internacionalmente. Por trás das histórias de romance e fantasia vindas da China está a capacidade de influenciar disseminando a cultura do país.Com quase 30 anos, Jolene Foo se tornou fã de dramas chineses depois que se mudou de sua terra natal, a Malásia, para a Noruega. Ela havia crescido como uma "criança chinesa de terceira geração" e estava procurando uma forma de se reconectar com seu país de origem. Seus amigos recomendaram os dramas chineses, ou c-dramas, como são conhecidos.

Ascensão global do entretenimento chinês começou no início dos anos 2000
Ascensão global do entretenimento chinês começou no início dos anos 2000
Foto: DW / Deutsche Welle

"O que realmente me atraiu foi a dimensão cultural", conta. "Como alguém que faz parte da diáspora chinesa, assistir a c-dramas se tornou uma maneira de me reconectar com minhas raízes."

Em 2018, Tanvir Khan tinha acabado de terminar o ensino médio e estava navegando no Facebook, quando se deparou com um vídeo curto do drama chinês História do Palácio Yanxi. Ficou fascinado.

"Não sei se consigo explicar direito, mas sabe quando você vê uma cena e algo dentro de você simplesmente se encaixa?", disse Khan, que agora está no último ano da graduação em Dhaka, em Bangladesh. "É como se sua mente dissesse 'sim, isso é exatamente o que eu queria assistir'", relata.

A partir daquele momento, Khan ficou viciado. Hoje, ele administra um grupo no Facebook para fãs de c-dramas com mais de 700 mil membros de todo mundo e traduz regularmente legendas do inglês para o bengali, sua língua nativa.

"Eu sei que esses são dramas de qualidade. Por isso que quero compartilhá-los com meus amigos bengalis", afirma71233866_ Khan.

A ascensão global do entretenimento chinês começou no início dos anos 2000, quando a poesia das artes marciais e os visuais impressionantes do filme O Tigre e o Dragão colocaram a narrativa chinesa no mapa. Esse impulso chegou à televisão, onde os dramas evoluíram de épicos históricos para romances modernos e de fantasia.

Na década de 2010, a Netflix e a Viki apresentaram esses dramas ao público global e, desde 2020, eles migraram para outros aplicativos de vídeo sob demanda (VOD). Muitos agora são transmitidos no YouTube e no Facebook com legendas em idiomas locais, tornando-os acessíveis a ainda mais pessoas ao redor do mundo.

Os dramas chineses são "um pilar estrutural do cenário premium de VOD da Ásia, oferecendo engajamento sustentado do público e alcance transfronteiriço", analisa Myat Pan Phyu, da Media Partners Asia, uma empresa independente de pesquisa que acompanha a indústria de entretenimento de vídeo da Ásia-Pacífico.

A demanda é forte em mercados como Taiwan e Tailândia e está crescendo rapidamente no Sudeste Asiático. Embora ainda menos populares que os dramas sul-coreanos, chamados de k-dramas , os c-dramas agora alcançam dezenas de milhões de espectadores em toda a região.

"Desde 2022, os c-dramas ampliaram sua participação nas horas de VOD premium mais acentuadamente em Singapura, Taiwan e Indonésia, com ganhos moderados na Malásia e nas Filipinas", relata.

O jornalista Naman Ramachandran acompanha a indústria do entretenimento na Ásia para a publicação americana Variety. Ele testemunhou a ascensão dos dramas chineses como uma potência da indústria. Mas, ultimamente, houve uma mudança. "Os dramas mais longos ainda existem e estão indo bem", diz Ramachandran. "Porém, muitos dos players tradicionais estão agora migrando para formatos mais curtos simplesmente porque é aí que está a atenção."

Grandes dramas, pequenas doses

Esses novos programas mais curtos são chamados de microdramas. São séries roteirizadas ultracurtas, entregues em formato vertical otimizado para visualização em dispositivos móveis, muitas vezes com apenas alguns minutos por episódio. Os microdramas explodiram em popularidade nos aplicativos de streaming, oferecendo histórias curtas e dinâmicas sobre romance, conflitos familiares, desafios no trabalho, tramas de vingança e estilos de vida aspiracionais.

"A narrativa e os enredos, tudo é intensificado", explica Ramachandran. "Não há espaço para pausa ou respiro, já que tudo precisa acontecer nesses dois minutos. Isso prende você."

Um relatório recente da Media Partners Asia prevê que, globalmente, os microdramas alcançarão uma receita anual de 9 bilhões de dólares (mais de R$ 50 bilhões) até 2030 fora da China, ante 1,4 bilhão de dólares em 2024.

Um dos principais players na produção de microdramas é o COL Group, empresa de conteúdo digital com sede em Pequim, responsável por dois dos aplicativos mais populares para microdramas: ReelShort e FlareFlow.

A empresa começou a focar em conteúdo curto e vertical para celular em 2021, quando a maioria dos dramas ainda era produzida para cinemas ou televisão, disse Timothy Oh, gerente-geral para o Sudeste Asiático no COL Group. "É fácil de assistir para pessoas que não estão necessariamente prontas para se comprometer com uma série completa", diz Oh. "Eu não diria que é uma evolução puramente dos dramas chineses, mas sim uma evolução de como o conteúdo está sendo consumido."

A empresa está apostando alto nos microdramas e abrirá o primeiro estúdio dedicado à indústria perto de Macau, com uma instalação de 10 mil metros quadrados. Também conta com 30 equipes de produção internacionais em grandes cidades, permitindo à empresa localizar conteúdo para diferentes públicos. Tanto o ReelShort quanto o FlareFlow estão registrando crescimento significativo nos EUA e na Alemanha. "Acho que isso mostra que o conteúdo chinês viaja e se traduz bem", afirma Oh. "São geralmente histórias simples sob uma perspectiva universal", acrescenta.

Ferramenta política

Shaoyu Yuan, professor da Universidade Rutgers, em Nova Jersey, EUA, tem acompanhado o crescimento dos c-dramas. Para ele, o aumento da produção de dramas na China não se trata apenas de entretenimento ou receita, mas faz parte de uma estratégia mais ampla de soft power (capacidade de um país influenciar outros por meios não coercitivos, ou seja, sem uso de força militar ou pressão econômica direta).

O Estado molda esse ecossistema por meio de limites, censura e incentivos, e e então amplifica histórias que se encaixam em sua mensagem preferida. "É um modelo híbrido, liderado pelo mercado na criação, mas moldado pelo Estado no ambiente, por isso o crescimento parece repentino, embora esteja sendo construído há muito tempo", explica Yuan.

A fã de c-dramas, Foo, afirma que, para os espectadores internacionais, o esforço da China pelo soft power é visível na forma como os c-dramas se tornaram acessíveis. Muitas dessas séries agora estão disponíveis completas no YouTube, frequentemente com várias opções de legendas lançadas de forma rápida e consistente.

"Não acho que esse tipo de acessibilidade aconteça por acaso", analisa Foo. "Para mim, parece um sinal claro de que eles querem alcançar públicos globais e reduzir a barreira de entrada."

Foo e muitos outros espectadores ao redor do mundo dizem que esses programas oferecem algo que não encontram em nenhum outro lugar: um vislumbre da China contemporânea. "Embora essas histórias sejam fictícias e não reflitam diretamente a realidade, elas ainda fornecem uma pequena, mas valiosa janela para uma sociedade que muitas vezes é simplificada ou mal compreendida", comenta.

Yuan afirma que, quando os espectadores maratonam dramas chineses, passam horas imersos na cultura chinesa - suas histórias, romances, normas sociais e até mesmo a língua - em vez da política. E essa exposição repetida contribui para uma imagem mais suave e humana da China.

"Os dramas não apagam magicamente as preocupações políticas, mas mudam a base emocional", afirma Yuan.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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