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Protestos em Cannes por filme sobre luta de independência da Argélia

A luta pela independência da Argélia ressurgiu nesta sexta-feira no Festival de Cannes com o filme "Hors la Loi" (Fora da Lei), de Rachid Bouchareb, uma narrativa histórica que provocou protestos nas ruas do luxuoso balneário da Riviera francesa.

21 mai 2010 - 11h52
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CANNES, França, 20 Mai 2010 (AFP) -A luta pela independência da Argélia ressurgiu nesta sexta-feira no Festival de Cannes com o filme "Hors la Loi" (Fora da Lei), de Rachid Bouchareb, uma narrativa histórica que provocou protestos nas ruas do luxuoso balneário da Riviera francesa.

A segurança foi reforçada ao redor do Palácio dos Festivais de Cannes para a exibição à imprensa do longa-metragem.

O cineasta franco-argelino manifestou surpresa com os protestos provocados por "Hors la loi", que aborda o passado colonial da França, mas é sobretudo a saga de três irmãos, expulsos quando crianças de casa pelos colonizadores franceses. Adultos, em Paris, os três participam na luta pela independência da Argélia.

"Meu filme não é um campo de batalha", declarou o diretor em uma entrevista coletiva após a projeção do longa.

Quase 1.200 pessoas se reuniram no centro de Cannes, convocadas pela Frente Nacional, o partido de extrema-direita da França, e por organizações de antigos combatentes e harkis (os argelinos que lutaram ao lado dos franceses).

Os manifestantes se reuniram diante do monumento em homenagem aos mortos de Cannes, para "lembrar as vítimas francesas" da guerra na Argélia.

A polêmica sobre o filme, financiado parcialmente pela Francia e que compete em Cannes pela Argélia, diz respeito ao massacre de centenas de argelinos em 8 de maio de 1945 em Sétif por agentes francesas, uma sequência que dura apenas seis minutos no filme.

No mesmo dia, as celebrações pelo fim da Segunda Guerra Mundial foram respingadas de sangue, quando um manifestante agitou uma bandeira argelina e explodiram os gritos por independência.

Mas polícia impediu a aproximação dos manifestantes do Palácio dos Festivais, que foi cercado por barreiras de segurança.

Mesmo sem ver o filme, os críticos o acusaram de "tergiversar a história", mas Bouchareb declarou que busca "abrir um debate na serenidade".

"Eu não um documentarista. Meus protagonistas são argelinos. E conta a história do ponto de vista dos argelinos", disse o diretor do filme, que tem a eficácia, o ritmo e a intensidade de um thriller político.

"Sei que o passado colonial francês reabre feridas. Mas este passado deve ser debatido para avançarmos rumo a um verdadeiro encontro (entre França e Argélia), para avançarmos para coisas positivas", disse Bouchareb.

Aplaudido na exibição para a imprensa, o filme é sobretudo uma história humana, que começa em Sétif, quando os pais dos protagonistas, camponeses pobres, são expulsos da própria terra por um rico argelino escoltado por policiais franceses, e prometem retornar.

Bouchareb acompanha os irmãos em Paris, retratando seus conflitos, em meio à luta pela independência da Argélia, que deixou vítimas inocentes dos dois lados.

Um dos três irmãos é um ex-soldado do Exército francês na Indochina, outro se torna um militante da causa da independência em uma prisão de Paris e o terceiro luta para sobreviver nas ruas de Pigalle.

Ao ser questionado sobre o título do filme, o cineasta afirmou que quando pesquisou documentos, arquivos e jornais da época, geralmente encontrava os termos "hors la loi", fora da lei, como referência aos militantes da independência.

"Isto me deu a ideia de filmar um grande painel histórico, estilo western", disse.

Um dos atores, Jamel Debbouze, afirmou considerar "estupendo" que o filme provoque polêmica.

"Talvez assim consigamos exorcizar toda nossa história comum. Um filme deste tipo deveria receber subsídios da previdência social", brincou o ator, que protagoniza o filme ao lado de Sami Bouajila, Roschdy Zem e Bernard Blancan.

Os atores estão entre os que receberam há quatro anos o prêmio de interpretação no Festival de Cannes por "Indigènes" ("Dias de Glória").

O filme, também dirigido por Bouchareb, explora uma história esquecida: a participação na Segunda Guerra Mundial de combatentes das colônias da França, que como pagamento receberam apenas humilhações.

ame.mc/fp

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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