Papa Leão XIV pode ser o Papa do planeta

Este texto foi publicado originalmente na Rolling Stone em 18 de maio de 2025.

Em 8 de maio, a Igreja Católica elegeu Robert Francis Prevost como seu primeiro líder norte-americano. O planeta e as pessoas estão em necessidade desesperada de cura moral, e há sinais promissores de que Papa Leão XIV pode ser justamente a voz de clareza de que precisamos.

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Sou católico desde que nasci, com uma história familiar na Igreja que remonta gerações na Itália, Irlanda e Alemanha. Minha fé é profunda. Também sou co-diretor da Taproot Earth, organização de justiça climática atuante nas comunidades de linha de frente.

Embora não sejamos uma organização católica, e nossa equipe tenha pessoas de diferentes religiões, a fé tem sido parte essencial do nosso compromisso pessoal com a justiça climática. No meu caso, aprendi, ao longo de 16 anos de educação católica, que Deus está em todas as coisas. Isso significa que Deus está no ar, na água, na Terra. Deus também está presente nos pobres e nos negligenciados. Isso torna a crise climática — que atinge com mais força as comunidades marginalizadas — uma afronta ao próprio Ser de Deus. Da mesma forma, lutar por justiça climática é fazer a obra do Senhor.

Há motivos para acreditar que o Papa Leão compartilha essa visão. Ele já se manifestou em apoio à encíclica Laudato Si', publicada por Papa Francisco em 2015, que apresentou não apenas uma defesa católica da ação climática, mas também da justiça climática. Em novembro, foi além, defendendo uma relação mais recíproca com o meio ambiente e enfatizando que chegou a hora do mundo passar "das palavras às ações" no combate às mudanças climáticas.

Papa Leão também tem um histórico de críticas à ascensão da inteligência artificial. Em seu primeiro discurso oficial como papa, ele alertou sobre a ameaça da IA à "dignidade humana, à justiça e ao trabalho". Embora não tenha mencionado explicitamente, a inteligência artificial também representa uma grave ameaça ao planeta e é uma grande contribuinte para a poluição que alimenta a crise climática.

Mas talvez o mais importante seja o fato de que o tempo que Papa Leão passou na América do Sul o colocou frente a frente com as realidades e dores da injustiça climática. Em 2017, quando o fenômeno climático El Niño provocou enchentes catastróficas no Peru, o então bispo literalmente colocou os pés na lama. Ele mobilizou a Igreja, coordenou com empresas locais e ajudou pessoalmente pessoas isoladas pelas águas.

Papa Leão entende o poder da Igreja em tempos de crise. Para mim, isso é imensamente importante. Embora eu seja católico a vida inteira, houve momentos em que tive dificuldades com a Igreja e seus muitos escândalos e hipocrisias. No entanto, nunca abandonei minha fé nem ignorei o poder e a influência que a Igreja detém. É por isso que a Taproot Earth, junto a outras organizações, tem trabalhado arduamente para engajar a força na luta por justiça climática.

Iniciamos esse trabalho de forma mais intensa em 2023, focando na questão das reparações climáticas. Queríamos que a Igreja enfrentasse seu papel nas causas históricas das mudanças climáticas: o colonialismo, a escravidão e o capitalismo. A partir disso, esperamos que a Igreja assuma sua responsabilidade em liderar o caminho rumo às reparações climáticas.

Fico feliz em dizer que encontramos líderes receptivos dentro da Igreja. Após encontros com conselheiros e defensores do Papa Francisco, organizamos, em março deste ano, o Frontline People's Jubilee Convening em Roma, com o objetivo de levar à Igreja as vozes e histórias das comunidades de linha de frente sobre a necessidade de reparações climáticas. Na reunião, ouvimos pessoas de 24 países e em seis idiomas diferentes, e traçamos um caminho multirreligioso em direção à justiça climática e à responsabilização. Estou esperançoso — e mais importante, cheio de fé — de que possamos levar essas histórias ao Papa Leão para avançar ainda mais esse trabalho.

Vale lembrar que Papa Leão, como sucessor do Papa Francisco, tem um enorme legado a carregar. Papa Francisco liderou a Igreja de maneiras novas e inspiradoras. Além da histórica encíclica de 2015, ele revolucionou a forma como decisões são tomadas no Vaticano, nomeando mulheres para cargos de liderança e abrindo caminhos para que pessoas marginalizadas tivessem suas vozes ouvidas. Ele também abriu a porta para a bênção de uniões entre pessoas do mesmo sexo. Ao liderar com os valores cristãos fundamentais de amor, misericórdia e alegria, mostrou ao mundo que a mudança é possível — mesmo dentro de uma instituição com dois mil anos de história.

Embora haja indícios de que Papa Leão possa ser mais conservador do que o Papa Francisco, ainda tenho razões para acreditar que ele pode ser ainda mais radical. Afinal, poucos esperavam que o Papa Francisco se tornasse o catalisador espiritual e social que foi.

Uma das formas mais significativas pelas quais um papa sinaliza como pretende liderar é pelo nome que escolhe ao ser eleito. O nome Leão carrega um significado de humildade ou, como ensina a bem-aventurança, mansidão. "Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a Terra." Se Papa Francisco foi o Papa do Povo, talvez Papa Leão possa ser o Papa do Planeta.

Papa Leão não precisa andar sobre as águas — basta seguir o caminho que Papa Francisco já começou a trilhar.

Anthony Giancatarino é estrategista na Taproot Earth, uma organização global de justiça climática com raízes no Sul dos Estados Unidos e nos Apalaches.

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