Sob chuva, Eminem conquista SP em seu 1º show no Brasil
- Paulo Noviello
- Direto de São Paulo
O adjetivo "tempestuoso" pode definir bem o americano Marshall Mathers III, conhecido mundialmente pela alcunha de Eminem. Um dos mais bem-sucedido rapper de todos os tempos, apesar dos inúmeros problemas e polêmicas, Eminem fez na noite desta sexta-feira (5), debaixo de uma chuva torrencial no Jockey Club de São Paulo, seu primeiro show no Brasil. E os milhares de fãs que vieram de todo o País para ver o ídolo maior de uma geração, saíram de alma lavada.
Atrasos e Problemas
O festival F1 Rocks, marca global que acompanha os grandes prêmios de Fórmula 1, aconteceu pela primeira no Brasil com alguns problemas. O mais grave foi a confusão com os fotógrafos, impedidos de tirar fotos de perto do palco, atingidos por copos de cerveja no espaço reservado para eles entre a pista VIP e a pista dos "mortais", que atrapalhavam a visão de quem estava atrás. Apesar disso, o Terra conseguiu registrar o show de Eminem e de Marcelo D2 e N.E.R.D., que abriram o festival, a partir da pista VIP.
Sim, a chuva atrapalhou, e muito, a organização. Às 19h, horário marcado para o começo do show de Marcelo D2, o mundo desabou sobre São Paulo. D2 conseguiu subir ao palco apenas às 20h30. Empolgado, o aniversariante fez o público cantar junto "parabéns a você", disse que estava muito feliz, mas teve sua apresentação abreviada para menos de meia hora, onde correu para cantar meia dúzia de seus maiores sucessos, como Eu Tiro é Onda, antes de dar lugar ao grupo N.E.R.D., liderado pelo franzino e talentoso MC e produtor Pharell Williams. O show do N.E.R.D, também encurtado, alternou momentos de peso e romantismo, como em Beautiful, música de Pharell e Snoop Dogg, a que mais empolgou o público.
Catarse debaixo d'água
Pouco antes das 23h, a chuva, que tinha dado uma trégua, voltou a desabar inclemente sobre o Jockey Club. Curiosamente, a água acabou ajudando o show do astro da noite, criando o clima de "catarse coletiva" entre os fãs que aguardaram anos para ver o ídolo Eminem ao vivo. Antes dele subir ao palco, o telão contou a história de seus problemas com vício em drogas e depressão antes da volta por cima com o disco Recovery, o maior sucesso deste ano. Acompanhado por uma banda de apoio afiada mandando as pesadas bases que fizeram o chão do hipódromo tremer, Marshall Mathers apareceu de forma épica, e levou o público ao delírio em uma hora de um show recheado de hits.
Com a plateia ganha, Eminem despejou com impressionante energia sua metralhadora giratória de letras violentas, recheadas de palavrões, mas também bem-humoradas, mostrando que seu sucesso não é por acaso. Ele é provavelmente o mais talentoso letrista e vocalista de rap de sua geração, e os fãs brasileiros pularam, vibraram e cantaram a plenos pulmões os sucessos, como 3 A.M., The Way I Am, a nova Love The Way You Lie e o final matador, com My Name Is, The Real Slim Shady, Whitout Me e o bis com Lose Yourself.
Os samples de hinos roqueiros de Aerosmith e Led Zeppelin, o grave pulsante das bases, a criatividade das letras, a energia do palco, a história de vida turbulenta e, sim, o fato dele ser um loirinho de olhos azuis em um meio dominado pelos negros, fazem de Eminem o rapper com maior apelo universal de todos os tempos, só comparável aos rockstars na capacidade de arrastar multidões e fazer a trilha sonora de uma geração.
O público do show em São Paulo, em sua maioria muito jovem, branco e que pôde gastar entre R$ 200 e R$ 500 para ver o ídolo, reflete isso. E talvez o show desta sexta-feira tenha sido o momento mais inesquecível de suas vidas, uma catarse coletiva debaixo de chuva. E Eminem pareceu sentir isso, agradecendo com aparente sinceridade aos fãs. "Obrigado por não desistirem de mim", disse em certo momento. Não é fácil ser Eminem, mas ele já tem seu lugar assegurado na história da música pop.