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Karen Jonz sobre 1º show da vida no Rock in Rio: 'É como jogar um jogo de nave e a Nasa me convocar'

Pioneira no skate feminino brasileiro, Karen investe na música após o lançamento do disco 'Papel de Carta' e fala sobre sensação de 'não pertencimento' e próximos planos

30 set 2022 - 06h12
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Karen Jonz pode ser definida como "pioneira" em diversos sentidos. Primeira skatista brasileira campeã mundial de skate vertical, ela também foi um dos maiores destaques na narração das Olimpíadas de Tóquio em 2020 e conquistou o público ao falar sobre esporte, maternidade e vida pessoal de maneira leve e divertida na televisão e nas redes sociais.

Agora, Karen também pode dizer que fez o primeiro show da carreira em um dos palcos do Rock in Rio. A skatista foi convidada para tocar na Arena Itaú no último dia do festival, com um line-up dedicado apenas a atrações femininas.

Em entrevista por vídeo ao Estadão, a artista diz que não pensou em falar não, mas que o convite chegou como uma grande surpresa. "Meus planos eram completamente diferentes. Eu só queria ficar compondo música, gravando e fazendo vídeos e aí o convite 'chacoalhou' tudo para mim", conta.

Ela afirma que encarou a oportunidade como um desafio, já que o festival representa o "auge" da carreira para muitos artistas. "É como se eu estivesse jogando um joguinho de nave e, de repente, a Nasa me convocasse para dirigir um foguete", brinca.

No show, Karen tocou e cantou músicas que fazem parte do seu primeiro álbum, Papel de Carta, e que demoraram sete anos para serem lançadas.

Segundo a skatista, o lançamento chegou no tempo certo após uma série de acontecimentos, como a pandemia da covid-19, a maternidade e uma corrida olímpica em que tentou classificação. "Foi o momento em que a música brilhou e falou: 'Ei, estou aqui. Lembra de mim?'", diz.

'Papel de Carta' e a sensação de 'não pertencimento'

Papel de Carta traz uma estética que remete aos anos 1990 e também a tônica de "uma sensação de ser incompreendida, de estar sozinha, de ter dificuldade de respirar e de se situar". Karen diz que, por escrever sobre esses assuntos desde a infância, não teve dificuldade de expor suas vulnerabilidades.

A cantora conta que, desde a época em que começou a se aproximar do skate, passou a ter um sentimento de "não pertencer" que a acompanha e que inspirou as letras. Jonz narra que era uma das únicas meninas que praticava o esporte.

"A gente era um grupo de 'peixes fora d'água'. Então, [essa sensação] já vinha muito de querer pertencer e não ser aceita pelos homens, os lugares, os ambientes, as circunstâncias, os eventos. A gente sempre era as deixadas de lado, as que ficavam para o final, as que não tinham o que queriam", reflete.

Apesar de seus pais sempre a incentivarem a andar de skate, ainda havia um estranhamento no ambiente familiar. "Enquanto a minha irmã estava com um grupo de adolescentes no quarto se maquiando, eu estava com quatro caras na garagem 'batendo rodinha' e tocando bateria", afirma.

Próximos planos e a influência do skate na música

A esportista trouxe diversos elementos do skate na divulgação de Papel de Carta - ela chegou, até mesmo, a lançar uma prancha de skate inspirada no álbum para divulgação. Quando perguntada se existe uma separação entre a "Karen do esporte" e a "Karen da música", ela hesita.

"Talvez eu seja a mesma pessoa. Eu não acho que sou o Jack Johnson, que traz o surfe nas canções, ou o Chorão, que fazia shows em cima do skate. Mas, inevitavelmente, o skate está nas minhas composições, no meu ser, em cada célula do meu corpo. Isso não tem como separar", reflete.

Para ela, o novo álbum surgiu como uma oportunidade para que as pessoas conheçam um lado dela "que não é muito visto". "Tem essa parte da força, de quem vai atrás, participa de eventos e quebra barreiras, mas também tem a menininha que chora sozinha no travesseiro porque não aguenta tanta pressão", diz.

Agora, Jonz planeja lançar uma versão deluxe do disco com "boas surpresas" e mira outros festivais para além do Rock in Rio, como Lollapalooza ou Primavera Sound. O principal objetivo dela, no entanto, é fazer shows em que esteja se divertindo e interagindo mais com o público.

"Acho que nervosa eu sempre vou ficar, mas quero chegar em um ponto em que eu esteja tipo: 'Ok, estou mais me divertindo do que estou nervosa'", conta.

*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais

Estadão
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