Nirvana: justiça dos EUA encerra processo sobre bebê da capa de 'Nevermind'
Após longa disputa judicial, tribunal norte-americano rejeita definitivamente acusação de Spencer Elden de pornografia infantil contra a banda
A justiça dos Estados Unidos tomou uma decisão definitiva sobre um dos processos mais controversos envolvendo o mundo da música e os limites da arte: o caso de Spencer Elden, conhecido como o "Bebê do Nirvana", que processou a banda por suposta exploração sexual infantil.
A ação, que se arrastava desde 2021, foi encerrada com a rejeição das alegações por parte do juiz Fernando Olguin, que considerou que a imagem da capa do álbum Nevermind não configura pornografia infantil segundo a legislação norte-americana.
Spencer Elden tinha apenas quatro meses de idade quando foi fotografado nu em uma piscina para a capa do disco lançado pelo Nirvana em 1991. A imagem, que se tornou uma das mais emblemáticas da história do rock, mostra o bebê submerso, nadando em direção a uma nota de dólar pendurada em um anzol. Elden alegava que essa representação foi feita sem seu consentimento e que, ao longo dos anos, causou-lhe danos psicológicos e financeiros, além de configurar uma forma de exploração sexual infantil.
No entanto, o juiz responsável pelo caso discordou dessa interpretação. Em sua decisão, Olguin afirmou que a fotografia não apresenta elementos de conduta sexual explícita e que, apesar da nudez, a imagem não se enquadra nas definições legais de pornografia infantil. Ele destacou que nem o cenário, nem a pose, nem o contexto geral da foto sugerem qualquer tipo de conotação sexual.
Outro ponto crucial para o veredito foi o comportamento de Elden ao longo dos anos. O juiz observou que o autor da ação havia se beneficiado da fama gerada por sua imagem na capa do álbum do Nirvana, tendo recriado a cena em outras ocasiões, autografado pôsteres e objetos relacionados ao álbum, e até tatuado o nome Nevermind no peito. Essas atitudes, segundo Olguin, contradizem a alegação de que Elden teria sofrido danos graves por conta da exposição.
A ação judicial foi movida contra diversos envolvidos na produção do álbum, incluindo os membros remanescentes da banda Nirvana — Dave Grohl e Krist Novoselic —, o espólio de Kurt Cobain (1967-1994), a viúva Courtney Love, o fotógrafo Kirk Weddle e representantes da Universal Music. A defesa da banda celebrou o encerramento do processo, afirmando que seus clientes estavam aliviados por terem sido liberados das acusações, que consideraram infundadas.
Nirvana: a repercussão do caso 'Nevermind'
O caso ganhou repercussão internacional não apenas pela fama do Nirvana, mas também por levantar questões sobre os limites da arte, o consentimento em imagens de menores e os impactos de uma exposição pública precoce. A imagem de Elden na capa de Nevermind é considerada um ícone cultural, representando a busca pelo dinheiro e o espírito rebelde do grunge nos anos 1990. O álbum, impulsionado por sucessos como Smells Like Teen Spirit e Come As You Are, foi um marco na carreira da banda e ajudou a consolidar o movimento alternativo no mainstream.
Apesar de ter celebrado o disco em diversas ocasiões, Elden mudou sua postura nos últimos anos. Em entrevista à GQ Australia, ele chegou a questionar o impacto da exposição: "E se eu não estivesse bem com meu pênis sendo mostrado para todo mundo? Eu realmente não tive escolha". Essa mudança de perspectiva foi o que motivou a ação judicial, que inicialmente foi rejeitada, depois reaberta em 2023, e agora encerrada definitivamente.
A decisão da justiça norte-americana a favor do Nirvana estabelece um precedente importante para casos semelhantes, reforçando que o contexto artístico e a ausência de conotação sexual são fatores determinantes na avaliação de imagens envolvendo menores. Ao mesmo tempo, o caso levanta reflexões sobre os direitos de imagem, o consentimento e os limites entre arte e privacidade.